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O dia em que caiu a máscara de Bolsonaro

A economia decidirá a sorte dele

Por Ricardo Noblat Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 19h05 - Publicado em 19 mar 2020, 08h00
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  • Por coerência – embora isso jamais lhe deva ser cobrado porque coerente ele nunca foi -, o presidente Jair Bolsonaro não dirá uma só palavra contra o tilintar das panelas, ontem à noite, promovido pelos insatisfeitos com o seu governo e com ele, pessoalmente.

    Afinal, ao responder à pergunta de um repórter sobre as manifestações dos seus devotos no último domingo, ele as justificou afirmando que vivemos numa democracia onde o povo tem o direito de ir às ruas em defesa do que quiser. Está certo.

    A propósito, não disse só isso. Aproveitou o sucesso de audência da transmissão de sua fala para anunciar que haveria um panelaço a seu favor. Houve, de fato, em seguida ao panelaço do contra. E foi um fiasco de dar inveja. Acabou parecendo continuação do outro.

    No poder há exatos 444 dias, foi no 21º desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no país que a máscara de Bolsonaro simplesmente caiu. Nem a ex-presidente Dilma Rousseff foi brindada por três sessões de panelaços no período de 48 horas.

    A primeira, na noite da terça-feira, um ensaio para a sessão oficial convocada para ontem. Horas antes, em alguns lugares como no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, aconteceu uma espécie de esquentando os tamborins. Ou melhor: as panelas.

    Ensina a história do Brasil, da redemocratização em 1985 para cá, que nenhum presidente alvo de panelaços resistiu muito tempo no cargo ou acabou bem. José Sarney resistiu, não só ao barulho das panelas, mas a um apedrejamento dentro de um ônibus no Rio.

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    Nem assim perdeu a pose. No dia marcado, desceu a rampa do Palácio do Planalto acenando para a multidão reunida na Praça dos Três Poderes. Temeu ser execrado. Não foi. Mas legou ao seu sucessor uma inflação mensal de 80%. Sim, mensal.

    No seu lugar entrou Fernando Collor, ex-governador de Alagoas, que se apresentara durante a campanha como o “caçador de marajás”, o exterminador da corrupção passada ou futura, aquele que restabeleceria a ordem ameaçada e faria o país voltar a crescer.

    Durou pouco mais de dois anos no cargo. Não há registro de panelaços contra ele. Mas quando pediu que multidões vestidas de verde e de amarelo saíssem em seu socorro (“Não me deixem só”), elas vestiram preto. Foi o começo do fim.

    A queda de Dilma ainda está viva na memória coletiva. Oficialmente, caiu porque pedalou a Lei de Responsabilidade Fiscal gastando além da conta autorizada. Na verdade, porque perdeu apoio para que seguisse governando.

    É o que derruba chefe de Estado no regime presidencialista – a falta de apoio para ir adiante. A má gestão da economia explica porque Dilma, embora reeleita em outubro de 2014, foi ao chão menos de dois anos depois. Não deixou saudades, pelo contrário.

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    Bolsonaro é um fenômeno. Foi eleito porque pareceu à maioria dos brasileiros o único candidato capaz de derrotar o PT. Governou até agora sem dispor, sequer, de uma base de apoio no Congresso. E sem mais um partido para chamar de seu ou da sua família.

    Ele é a mais exponencial vítima do coronavírus que mal chegou ainda por aqui. A pandemia ainda não começou a matar para valer, ainda não se infiltrou nas favelas de casas minúsculas, ainda não provocou fome entre os brasileiros da economia informal.

    O dia do ato mais expressivo de desencanto com Bolsonaro foi ontem. Nada impede, porém, que esse dia se repita e que atraia mais paneleiros. Não se depõe um presidente em meio a uma desgraça como a que atravessamos. Mas, na prática, se interdita.

    As consequências do impacto do coronavírus na economia ditarão o destino de Bolsonaro, o pedaleiro sanitário.

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