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Nada será apurado sobre o relatório a respeito de servidores antifascistas

À espera que cesse o barulho

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 18 nov 2020, 20h04 - Publicado em 3 ago 2020, 09h00

O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, tem uma vantagem e uma desvantagem. A vantagem: é bom de bico. Seu vocabulário é vasto, coisa rara entre muitos dos seus colegas de governo. E ele sabe usá-lo sem demonstrar qualquer esforço. A desvantagem: com frequência, quando se aplica na defesa do governo como um “servo fiel”, é pouco convincente.

Mendonça anunciou que não admitirá “perseguição a grupo de qualquer natureza”. E acrescentou, enfático: “Isso não é aceitável num estado democrático de direito”. Bravo! Mas não negou, nem confirmou a existência de um relatório de inteligência produzido por uma secretaria do seu ministério sobre 579 pessoas identificadas como simpáticas a movimentos antifascistas.

Por negar-se a reconhecer que o relatório existe, poupou-se de fazer comentários a respeito. Disse que mandou abrir uma sindicância para apurar o caso. Para quê sindicância? Se quisesse, com o disparo de um único telefonema, ficaria sabendo que o relatório existe. A sindicância poderia servir para apurar por que o relatório foi feito, quem mandou fazê-lo, e com que objetivos.

O relatório foi produzido pela Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Lista servidores públicos federais que teriam posições contrárias ao presidente Jair Bolsonaro. E que em algum momento em suas contas particulares nas redes sociais se declararam antifascistas. Lei alguma criminaliza o antifascismo. Nem o seu oposto.

“A questão não é ser antifascista ou não. Não é um rótulo que vai dizer o conteúdo de um eventual grupo que se manifesta pelo antifascismo […] Não estou nem qualificando e nem desqualificando”, embromou Mendonça. No país do “nada foi apurado a respeito”, essa será a conclusão da sindicância que o ministro mandou abrir. Aposte. É só deixar que o caso esfrie.

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