Moro cala sobre os ataques de Bolsonaro à imprensa
Ministro da Justiça do Brasil ou ministro do governo?
O ex-juiz Sérgio Moro foi aprovado em mais um teste de fidelidade irrestrita ao presidente Jair Bolsonaro. Foi capaz de afirmar que seu patrão “dá ampla liberdade à imprensa” apesar dos ataques que ele faz rotineiramente a jornalistas e a veículos de comunicação desde que tomou posse em janeiro do ano passado.
Segundo balanço divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas, Bolsonaro, em 2019, foi o responsável por 121 dos 208 ataques, o que representa 58% do total. E nada indica que ele esteja disposto a mudar de comportamento. Pelo contrário. No último dia 6, Bolsonaro disse a um grupo de repórteres:
– Quem não lê jornal não está informado. E quem lê está desinformado. Tem de mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção.
Há cinco dias, em solenidade no Palácio do Planalto, ele disse aos gritos:
– Nossa imprensa tem medo da verdade. Trabalham contra a democracia, contra a liberdade, trabalham pelo que não presta no Brasil. […] Deixem nosso governo em paz.
Entrevistado, ontem, no programa Roda Viva, da TV Cultura, e perguntado sobre os ataques, Moro preferiu responder assim:
– O que vi nas eleições passadas, é que você tinha um grupo falando que iria regular imprensa, cercear a liberdade da imprensa e do judiciário. E do outro lado, vejo o presidente dando ampla liberdade à imprensa. […] Você não vê qualquer atitude do presidente tentando cercear a liberdade de imprensa.
Mandar jornalista calar a boca não é uma tentativa de cercear a imprensa? Cancelar assinaturas de jornais para que ninguém no governo os leia, não seria outra tentativa? Não perder uma só oportunidade para desacreditar o que se publica a seu respeito é o quê? Não adianta perguntar a Moro. É perda de tempo.
“O que acontece é que ele tem sido criticado e muitas vezes reage”, concede o ex-juiz. Ou porque não se importa com os ataques ou porque se importa em demasia em manter o emprego. O episódio protagonizado pelo filonazista Roberto Alvim, e que lhe custou a Secretaria de Cultura, foi tratado por Moro como “uma bizarrice”.
Bizarro, segundo os dicionários, quer dizer arrogante, esquisito, estranho, extravagante, fanfarrão, generoso, gentil, jactancioso, nobre, ostentativo, singular. Moro admitiu com cuidado que deu sua opinião a respeito em conversa com Bolsonaro, e que concordou com a atitude dele de demitir Alvim.
Mas se enrolou para explicar por que outros ministros do governo vieram logo a público condenar a fala de Alvim, e ele não. Só agora o fez, e mesmo assim medindo as palavras. Não as mediu quando foi obrigado a responder perguntas sobre o vazamento de suas conversas com os procuradores da Força Tarefa da Lava Jato.
Repetiu o que disse em outras entrevistas. Inovou ao afirmar que tudo o que foi revelado pelo site The Intercept, a VEJA, a Folha de S. Paulo e o jornal El País não passou de uma “bobajarada”. Com a expressão, que não existe nos dicionários, enriqueceu a língua portuguesa que só registrava até então “bobajada”.
Que se cuide o “impreCionante” ministro Abraham Weintraub, da Educação, autor, entre outras pérolas, de “haviaM emendas parlamentares de R$ 55 milhões para recuperar o museu” e de “há uma série de fake news envolvendo meu nome, algumas calúnias nas quais eu inSitaria a violência”. Moro entrou no páreo.