Candidata imbatível ao título de o maior estadista mundial do início do século XXI, a primeira-ministra alemã Ângela Merkel certamente tem mais o que fazer do que se preocupar com o que dizem a seu respeito por estas bandas cada vez mais estúpidas.
Outro dia, o capitão do mato Jair Bolsonaro sugeriu que não teve o menor prazer em conversar com ela durante o encontro no Japão dos chefes de Estado das 20 maiores economias. Nem com ela nem com o presidente francês Emmanuel Macron.
Antes de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão havia debochado do problema de saúde de Merkel que a fez tremer em sucessivas cerimônias públicas. Segundo Mourão, o problema decorre de “uma encarada” que ela levou de Donald Trump.
Mourão, hoje, é uma sombra do general destemido do passado, e do vice que em matéria de sensatez contrastava com o desvario e a ignorância do titular da República. Foi enquadrado pelo capitão indisciplinado. Deixou-se intimidar por um filho dele.
O capitão e o general foram surpreendidos com a decisão da pacata Merkel de congelar R$ 155 milhões para o financiamento de projetos de proteção da floresta amazônica. O motivo? O aumento do desmatamento desde que os dois tomaram posse dos cargos.
Foi a ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, a responsável pelo anúncio da decisão. E ela o fez em entrevista ao jornal “Tagesspiegel”. Qual foi a reação do governo brasileiro? Acusou Schulze de ser uma ministra de esquerda.
Para lá de ser um presidente acidental e sem a menor noção do que deveria fazer além de só desmontar o que o desagrada, Bolsonaro cercou-se de gente que pensa como ele ou que não está disposta a contrariá-lo com medo de perder o emprego.
É o caso, por exemplo, do ministro Sérgio Moro, da Justiça, submetido por Bolsonaro a uma dieta severa de humilhações. Moro acabou de entrar no rol dos auxiliares considerados desleais por Bolsonaro ao se opor a recente decisão de Dias Toffoli.
O presidente do Supremo Tribunal Federal suspendeu os processos abertos com base em informações fiscais sem prévia autorização da justiça. Com isso, beneficiou o senador Flávio Bolsonaro que estava sendo investigado pelo Ministério Público.
Moro procurou ministros do tribunal para argumentar que a decisão de Toffoli prejudicará o combate à corrupção. Bolsonaro soube e, aos berros, mandou chamá-lo para uma reunião no Palácio do Planalto. Moro levou um carão que jamais esquecerá.
Sobrou até para o ministro Paulo Guedes, da Economia, o ex-Posto Ipiranga. Bolsonaro desconfia que ele apoiou a atitude de Moro. É por isso que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) irá para a órbita do Banco Central.
Quando quer, o capitão sabe ser mau como um torturador. No seu entorno só há espaço para quem lhe diga amém. A Amazônia perderá com o dinheiro congelado por Merkel? Danem-se a primeira-ministra, os que pensam como ela e a Amazônia.
Tão estreita é a visão de Bolsonaro que ele não se dá conta de que seu desapreço por temas como o da preservação do meio ambiente poderá levar os países europeus a não selarem o acordo econômico com o Mercosul. Ficaria para depois que ele fosse embora.