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Dona Maria Lia (por José Paulo Cavalcanti Filho)

Segue a vida

Por José Paulo Cavalcanti Filho
Atualizado em 30 jul 2020, 18h54 - Publicado em 29 Maio 2020, 14h00
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  • Minha mãe tinha 18 anos. Sempre teve. Ou pensava, e agia, como se tivesse. O que dá no mesmo. Para definir quem era, basta lembrar frase de Dostoiévski que vivia repetindo: “Sinto um prazer quase indecente de viver”. Quando fez 40 anos, mandei bilhete: “Mamãe. Não é por nada não mas a IDA começa aos 40”. A volta veio só bem mais tarde: “Meu filho. Esperei 40 anos para lhe responder. A IDA pode ser que comece aos 40. Mas a VIDA começa mesmo é aos 80”. Num dos últimos aniversários dela, escrevi: “Me diga Dona/ Maria Lia/ Luar da noite/ Flor do meu dia/ Se brilha ainda/ A luz infinda/ Que eu perseguia”. Essa luz findou, agora. É o destino de todos nós. Com 92 anos, publicou livro contando histórias do passado (Recordar é Viver). Nele, está um poema premonitório que escreveu, Ele Acreditou. Em que dizia:

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     Ele acreditou nos adultos

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    E compreendeu que eles não eram sábios.

     

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    Ele acreditou na inteligência

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    E viu que ela construiu uma bomba que pode destruir o mundo.

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    Ele acreditou na retidão do caráter

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    E sofreu vendo seu pai ser perseguido por não compactuar com posturas indignas.

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    Ele acreditou na paixão

    E se queimou, portando ainda tisnas dentro da alma.

     

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    Ele acreditou na vida

    E a transpôs para outros seres, mas desesperou-se descobrindo quanto ela é frágil e tão facilmente extinguível!

     

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    Ele acreditou na ciência

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    E soube que ela é provisória.

     

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    Ele acreditou em Deus

    E o encontrou injusto e incoerente.

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    Então ele acreditou na morte…

    E ela não o decepcionou.

     

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    A morte nunca decepciona, dona Maria Lia tinha razão. É sempre certa. E sempre triste. Mas segue a vida. Um personagem de Carlos Nejar (em A Explosão), Jordana Duarte, depois de perder aquela que a criou, “Olhava para o céu e sabia que lá estava vagando sua mãe”. Assim seja, com todos os filhos. Por isso ao acordar, e até fim dos tempos, a primeira coisa que farei vai ser olhar para o alto. Na esperança de ver, pelos céus impossíveis e distantes, minha mãe passeando nos raios de uma luz infinda. Jovem e bela. Feliz. Em paz.

     

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    José Paulo Cavalcanti Filho.

    jp@jpc.com.br
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