Em 2018, ao completar 90 anos, Thereza Miranda, uma das artistas plásticas mais reconhecidas do Brasil, deu dois presentes aos cariocas – e a quem mais chegou por aqui. Em agosto, expôs “Memórias” em parceria com seu colega, ex-aluno, Bruno Big, 38 anos. Fotogravuras do Rio, entre outros cenários. Em outubro, o Museu Nacional de Belas Artes do Rio brindou a cidade com mostra de 67 gravuras premiadas de Thereza. A exibição começou em outubro e vai até 16 de dezembro.
Thereza percorre as praias e montanhas do Rio, cenários de Búzios, Ouro Preto, e cidades do mundo por onde andou. Thereza nasceu no Rio de Janeiro. Aqui, cresceu. Fez Filosofia na PUC do Rio. E lá leciona Gravura e Ilustração, há mais de 40 anos. Zuenir Ventura, jornalista e imortal, a chama de “Garota de 90 anos”. Ela é isso. Mais que isso.
Elegante, espírito leve, Thereza coleciona amigos. Presença constante nas manhãs de domingo, no Café Leblon, a garota de 90 anos vem a pé de Ipanema, jogging e tênis, e na mesa barulhenta e divertida comandada por Ana, jornalista e empresária, divide histórias. Certa vez, sem conhecer Carlos Drummond, deixou no seu prédio uma de suas gravuras, presente pelos 70 anos. Em agradecimento, Drummond dedicou versos a Thereza.
No Café Leblon se revela o desejo mais agudo de ver renascer o Rio de Thereza Miranda, das telas e gravuras, das poesias, de graça e rara beleza. A gente do Rio não quer se render ao baixo astral particular de politicos conservadores e autoritários. Nem se entregar à selvageria dos bandidos.
Não, não há expectativa em relação aos governos que tomarão posse em janeiro. Witzel e Bolsonaro? Dupla intolerável, para não ser indecorosa. Sem falar em Crivella, prefeito do nada. O Rio terá que ser nossa Fenix, renascendo literalmente das cinzas.
Gestos de amor pelo Rio, como os de Thereza Miranda, tem se multiplicado. Em abril de 2018, com 1470 obras de arte, entre elas Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Portinari e Lasar Segall, foi aberto ao público o Instituto Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho. No solar, vizinho à floresta da Tijuca, morou por mais de 60 anos o jornalista e proprietário das Organizações Globo. A coleçao de obras é de de tirar o folego.
A reforma da casa, assinada pelo arquiteto Glauco Campello, responsável pela restauração do Paço Imperial do Rio de Janeiro. expôs 10 mil m² de jardins projetados por Burle Marx, e esculturas de Bruno Giorgi e Maria Martins. Um belo passeio. Cinema, cafeteria, livraria e espaço educativo.
Pouco tempo depois da familia Marinho, foi a vez da Federação da Indústria do Rio de Janeiro inaugurar a Casa Firjan, misto de polo de estudos, centro cultural e fábrica de ideias. Nos jardins, misturam-se um casarão histórico, um prédio novo de quatro andares, e duas casas geminadas — 10 mil metros quadrados de terreno e 7 500 de área construída.
Todos os acenos de amor pelo Rio valem a pena. Porto Maravilha, Aquário, Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio, inaugurados há poucos anos. E o que se preserva, como jóia da cidade: o Prêmio da Musica Popular Brasileira comemorando 30 anos em 2018.
Nesse Rio – castigado, nunca resignado – nos primeiros dias dezembro, voltou gloriosa a Árvore de Natal da Lagoa. Foram dois anos sem festa. Parece pouco. Não é. Das lendas que embalam o dia a dia do Rio e dos cariocas, as marcas da cidade são vitais. Não dá para viver sem suas histórias. Não dá para viver sem a alegria de sua gente. Sonhar ainda é permitido. Nem Witzel, nem Crivella, muito menos Bolsonaro, serão capazes de impedir o renascimento da cidade maravilhosa. Que venha a Fenix, apesar deles.
Mirian Guaraciaba é jornalista, paulista, brasiliense de coração, apaixonada pelo Rio de Janeiro