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11 de dezembro (por José Paulo Cavalcanti Filho)

Sobre alguém que sonhou ser tantos

Por José Paulo Cavalcanti Filho
Atualizado em 14 dez 2020, 18h38 - Publicado em 11 dez 2020, 14h00

Eduardo Galeano se assinava, nos e-mails, HUGALE. Uma espécie de anagrama, só depois entendi, do seu próprio nome – Eduardo-Germán Maria HUGues GALEano. Eric Nepomuceno deu boa definição dele: “Dono de um humor ágil, uma inquietação afiada, de alegria de viver e determinação para enfrentar temporais”. Seu livro mais conhecido é As Veias Abertas da América Latina. Só que, com o passar do tempo, buscou se distanciar dele. Para, talvez, exercitar a arte de escapar de prisões. Mesmo intelectuais. Pessoa disse (Há Quase um Ano Não Escrevo), “tenho saudades de mim”. E é como se Galeano dissesse, agora, “quero ser livre de mim”.

Entre o muito que nos unia, também o fato de que escrevemos sempre com caneta. Em vez de computador. E o amor dele por duas citações memoráveis, que subscrevo. Uma de Juan Rulfo, “escrever é cortar”. Outra de Carlos Amador, “o verdadeiro amigo é aquele que critica na frente e elogia pelas costas”. Obrigado, Eric. De lamentar só que prometia, sempre, vir passar uma temporada conosco, na praia. E nunca veio. Certo dia, recebi seu Los Hijos de los Días (Os Filhos dos Dias). Com dedicatória curiosa: “A José Paulo, meu querido queriente (que se quer), o sempre abraço de Eduardo, desde Montevideo, 2013”. A história desse livro é original. Todo dia, ao acordar, escrevia pequeno texto sobre um amigo específico. Assim, ao fim de um ano, tudo estava pronto. A mim, coube a data de hoje. Daí veio essa lembrança. Segue o texto:

“11 DE DEZEMBRO. O POETA QUE ERA UMA MULTIDÃO. Pelo que se acreditava, Fernando Pessoa, o poeta de Portugal, levava dentro dele outros cinco ou seis poetas. No final do natal de 2010, o escritor brasileiro José Paulo Cavalcanti concluiu sua pesquisa de muitos anos sobre alguém que sonhou ser tantos. Cavalcanti descobriu que Pessoa não abrigava cinco, nem seis; levava cento e vinte e sete hóspedes em seu corpo magro, cada um com seu nome, seu estilo e sua história, sua data de nascimento e seu horóscopo. Seus cento e vinte e sete habitantes haviam assinado poemas, artigos, cartas, ensaios, livros… Alguns deles tinham publicado críticas ofídicas contra ele, mas Pessoa nunca havia expulsado nenhum, embora deva ter sido difícil, suponho, alimentar uma família tão numerosa”.

Pouco depois desse último livro, nos deixou (em 13/04/2015), Abraços, amigo, onde estiver. E segue a vida.

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José Paulo Cavalcanti Filho.

jp@jpc.com.br

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