Depois do estresse dos últimos dias, com a “fritura” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o aumento das desconfianças em relação ao ajuste fiscal, o mercado financeiro começa a semana com foco na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que na quarta-feira irá anunciar a nova Selic.
Fora uma surpresa de última hora, o mercado vê como mais provável a manutenção do atual patamar da taxa básica de juros, de 10,5% ao ano. A questão principal, porém, não é essa: o que todos querem saber é como vão votar os quatro diretores já indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o BC.
Na reunião de maio do colegiado, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti, Ailton Santos e Rodrigo Alves Teixeria defenderam um corte de 0,5 ponto porcentual da taxa, com o argumento de que o BC deveria manter o guidance até então anunciado. Foram voto vencido (os outros cinco diretores escolheram 0,25 ponto), mas a divergência incendiou o mercado, que passou a ver no episódio a senha do “novo” BC depois da saída de Roberto Campos Neto, no fim de dezembro próximo. Um BC mais leniente com a inflação ou mais permeável a pressões do Planalto.
“Manutenção por unanimidade”, afirma um banqueiro da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo. “Sem mexer na taxa. Não existe o menor fundamento para redução da taxa de juros.” Há quem aposte em resultado diferente. “Acho que cai 0,25 ponto. Meio do caminho politico”, diz outro banqueiro de São Paulo.
O resultado desta reunião será – talvez – a mais importante dos últimos meses. Primeiro, porque ela tem o potencial de levar mais estresse aos mercados de dólar (que já acumula valorização superior a 10% no ano, e não dá qualquer sinal de ficar abaixo dos R$ 5) e da Bolsa. Em segundo lugar, pode agravar o sentimento de desconfiança com as reais intenções do governo que prevaleceu na semana passada. Ou seja, a volatilidade do mercado não dará trégua.
Quem defende a manutenção da atual Selic vê sinais de uma inflação mais alta no setor de serviços e um quadro mais complicado para as contas públicas, com os gastos obrigatórios comprimindo cada vez mais a arrecadação da União. Por essa leitura, o que também está em jogo é a credibilidade do BC na condução da política monetária. Haja coração!