Os primeiros 100 dias do governo Lula na área econômica passaram em branco ou, pior, mostraram retrocesso em relação às promessas de campanha, na visão de grandes banqueiros de São Paulo e do Rio ouvidos pela coluna. Há elogios à apresentação da nova âncora fiscal – que deve ser enviada nesta semana ao Congresso –, mas de forma geral a sensação de frustração é verbalizada mesmo por aqueles que declararam apoio ao candidato do PT no segundo turno.
“Decepção. Prometeu um governo com menos Gleisi (Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT) e incluindo Meirelles (Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central). O governo excluiu Meirelles e tem Gleisi demais”, afirma um banqueiro. “Um pouco decepcionante para quem esperava um Lula como o do primeiro mandato. Ele me parece bem mais cansado”, avalia outro nome do setor.
Sobre a nova âncora fiscal, há dúvidas sobre a sustentabilidade do novo regime, porque ele depende, necessariamente, de um forte aumento das receitas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dito que quer atacar o que chamou de “jabutis tributários”– vantagens e isenções tributárias para alguns setores da economia. Ainda assim, o mercado vê o risco de alta da carga tributária.
“Melhor do que não ter (a âncora fiscal), mas mostra que teremos alta de impostos, mais gastos do governo e aumento da dívida pública”, afirma outro sócio de banco. “O Brasil não vai crescer nos próximos quatro anos, e o próximo presidente terá de fazer um ajuste fiscal”, completa. “Mais governo, menos produtividade. Mais juros e inflação do que algo que controlasse, de verdade, as despesas e a dívida pública”, prevê um alto executivo de banco. “Perdeu a chance de dar um norte econômico (principalmente fiscal) e está muito ambíguo nas relações exteriores. Em geral a administração parece estar melhor que a administração anterior”, conclui outro banqueiro.