A diminuição da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinaliza uma preocupação para o governo, não apenas em vista das eleições municipais, mas principalmente pelo aumento do custo político necessário para manter a governabilidade. Conforme já abordado anteriormente, a inflação política surge quando o custo para assegurar a governabilidade do presidente escala.
Inicialmente, é essencial compreender as razões por trás da queda de popularidade de Lula. Diversos fatores contribuem para isso. Notadamente, Lula tem se concentrado mais em questões internacionais, e alguns de seus posicionamentos, especialmente em relação ao conflito na Faixa de Gaza, não foram bem recebidos pelo eleitorado. Isso não apenas gerou reações negativas, mas também impulsionou manifestações organizadas por Jair Bolsonaro em São Paulo.
O governo, de maneira geral, apresenta-se confuso e falha em entregar resultados claros, que não são adequadamente comunicados à população. Apesar de contar com a simpatia da grande imprensa, a estratégia de comunicação do governo é ineficaz. Lula, diferentemente de seus mandatos anteriores, onde dialogava com uma variedade de públicos, agora parece restrito a um círculo menor que influencia suas declarações.
Nesse aspecto, o presidente comete erros ao se posicionar de maneira polêmica sobre a questão de Gaza, afastando-se da longa tradição brasileira de buscar a conciliação. Também provocou controvérsias com declarações politicamente incorretas, como quando mencionou que “ninguém gostaria de namorar um ajudante-geral” ou fez generalizações sobre gostos de uma afrodescendente.
No âmbito político, as confusões em torno da desoneração da folha de pagamento e os vetos a emendas parlamentares elevam o custo político do governo, que, ao perder popularidade e demonstrar inabilidade política, gera inflação política. Essa situação força o governo a depender ainda mais do “centrão”, sem o qual sua capacidade de governar seria drasticamente reduzida.
Lula, nos seus mandatos anteriores, era conhecido por sua habilidade em navegar pelas complexidades políticas de Brasília. Atualmente, parece adotar uma ortodoxia de métodos pouco adequada a uma Brasília ainda mais fragmentada politicamente. Dada a agenda política do ano, é improvável que ele tenha sucesso em todas as frentes sem revisar sua abordagem de governança, comunicação e, principalmente, evitar polêmicas desnecessárias.
O governo também deve atentar para questões ainda não cobradas em termos de popularidade, como o aumento da insegurança pública e o surto de casos de dengue, que refletem uma postura governamental apática e mais voltada para a retórica do que para a comunicação institucional e a ação efetiva.
Com Bolsonaro enredado em seu golpismo ao estilo novela mexicana e um centro político disperso e sem uma narrativa coesa, Lula tem a sorte — que raramente lhe faltou — de competir principalmente consigo mesmo. Está sozinho no cenário eleitoral. No entanto, o custo de seu possível sucesso está em ascensão.