O agro brasileiro tem se destacado por sua capacidade de aumentar a produção de forma sustentável e eficiente. Na última década, o país ampliou a produção de grãos em cerca de 133 milhões de toneladas, trazendo uma média de incremento de mais de 13 milhões de toneladas ao ano. Para termos uma ideia, esse volume corresponde a 45% da produção atual. Embora os resultados sejam positivos, eles trazem consigo um outro desafio que ainda persiste no setor: a necessidade de ampliar a capacidade de armazenamento.
Enquanto a produção saltou 133 milhões de toneladas em 10 anos, a capacidade de armazenamento que cresceu apenas em apenas 55 milhões de toneladas, trazendo um déficit de quase 8 milhões de toneladas em armazenagem por ano. Atualmente, o Brasil tem capacidade de manter apenas 60% de sua produção em silos, o que gera cenários de grãos em “céu aberto”, com riscos de perdas por conta de umidade ou altas temperaturas. Em suma, esse cenário reduz nossa competitividade e obriga os agricultores a serem mais imediatistas na comercialização (“vender logo”), o que blinda estratégias comerciais e maior captura de margens e resultados.
Ampliar a capacidade de armazenagem é um ponto crítico para o setor. Ao passo em que armazenamos maiores volumes, é possível, também, manter maiores estoques, o que possibilita o escoamento da produção de forma escalonada, além de possibilitar o atendimento às demandas por produtos, aproveitando momentos de venda mais favoráveis (preços), uma vez que, em momentos de entressafra, os prêmios nos portos podem ser maiores e os preços de frete menores.
Para os agricultores, a disposição de estrutura para armazenagem se traduz em vantagens não somente relativas a momentos de mercado, como também em termos operacionais nos momentos de colheita, uma vez que a distância percorrida pela produção é reduzida (fica própria fazenda), bem como não há o enfrentamento de filas para descarga (em cooperativas, tradings ou outros pontos de venda). Além disso, a possibilidade de beneficiar a produção na propriedade reduz os descontos incidentes na produção por conta de umidade e impurezas, ou seja, ao vender a produção, o frete pago será “mais puro”, sem transportar água ou substâncias indesejadas; o beneficiamento e secagem são feitos ainda na fazenda.
No Brasil, apenas 15% das fazendas possuem capacidade de armazenamento, fazendo, desta forma, com que os produtores tenham grande dependência de cooperativas e agroindústrias para escoar a produção, já que 85% da capacidade fica concentrada nesses agentes. Para efeitos de comparação, no Canadá, 85% da capacidade concentra-se nas fazendas; nos EUA, 65%; na União Europeia, 50%; e na Argentina, 40%.
Se quiséssemos apenas “conter” o aumento do déficit de capacidade de armazenagem de grãos, seria necessário investir cerca de R$ 15 bilhões todos os anos no Brasil. Já pensando em melhorar a nossa competitividade, o investimento seria ainda maior. Para viabilizar isso, é necessário debater medidas que propiciem a expansão dessa capacidade, por meio de linhas de financiamento públicas e de bancos e empresas privadas, com a oferta de crédito.
A disposição de armazenagem é vital para um país com um agronegócio tão relevante para sua economia como o Brasil, uma vez que permite melhorar a sua logística, explorar oportunidades em momentos de mercado diversos, além da manutenção de maiores estoques. É essencial estabelecer meios de investimento na expansão da capacidade de armazenamento, especialmente nas fazendas, como um caminho para ampliar a capacidade competitiva do agro brasileiro. É cada vez mais trabalhar o custo e a busca por eficiência e controle das variáveis, buscando margens e rentabilidade.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Arthur Zawadzki Pfann.