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Trump dispara como imbatível e esquerda afunda no conspiracionismo

Se conseguir superar a si mesmo e parecer magnânimo, o ex-presidente ganha uma posição única e acima das teorias absurdas dos dois lados

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 16 jul 2024, 07h55 - Publicado em 16 jul 2024, 06h26

As perguntas – e as respostas erradas – circulam sem parar depois da tentativa de assassinato de Donald Trump. O clima conspiracionista aumenta ainda mais as expectativas para o discurso que ele fará na quinta-feira, em circunstâncias jamais vistas mesmo para os padrões disruptivos da história americana, na Convenção Nacional Republicana. A escolha de J.D. Vance como candidato a vice-presidente não acrescenta muitos votos a Trump – ele já tem toda a “caipirada” no bolso, como diz ironicamente o senador por Ohio -, mas o ex-presidente seguiu seus instintos.

Quem pode dizer que está errado?

Os instintos funcionaram magnificamente para Trump na hora mais extrema: jogou-se no chão do palanque, com ótimos reflexos para um homem de 78 anos, quando as balas do assassino ainda zumbiam no ar. Quando se ergueu, fez os gestos de desafio que ficaram registrados na psique nacional.

Agora, seria melhor para ele se passasse por cima dos instintos básicos e, em vez de insuflar o país, falasse em tom conciliador. O discurso que faria foi para o lixo, como contou a Salena Zito, a repórter que testemunhou a tentativa de assassinato a poucos metros do ex-presidente. Na companhia da filha e do genro, ela estava no fosso dos fotógrafos e sentiu as balas passar.

+ Em convenção, Trump faz primeira aparição pública após atentado

“A realidade está começando a baixar”, disse a ela o ex-presidente, mantendo a palavra empenhada antes do atentado de falar a Salene, que fez uma reportagem emocionante, contando como um membro da equipe avançada de Trump, Michel Picard, se jogou sobre ela e a filha, protegendo-as com o próprio corpo, da mesma forma que faziam, no palanque, os seguranças de Trump.

Salena também contou como as pessoas se abraçaram e rezaram quando foram liberadas para chegar ao estacionamento, enquanto moradores da área rural de Butler ofereciam limonada e lanches feitos em casa. Foi a repórter, hoje no Washington Times, que deu a melhor definição sobre a vitória surpreendente de Trump em 2016, quando disse que as elites levaram as falas do candidato, muitas vezes absurdas, ao pé da letra, mas não a sério. Seus eleitores, em compensação, o levaram a sério, mas não ao pé da letra.

PLANO SINISTRO

O que devemos levar a sério num momento tão crucial nos Estados Unidos?

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As falhas do Serviço Secreto são flagrantes e devem efetivamente ser levadas muito a sério. Como foi possível deixar desprotegido o telhado do galpão bem em frente ao local do comício, permitindo a Thomas Matthew Crooks subir por uma escada comprada no Home Depot e disparar com um fuzil AR-15 os tiros que atingiram quatro pessoas, matando uma delas?

Como a própria fábrica estava sendo usada, na parte de dentro, por franco-atiradores da equipe de segurança? Como um policial subiu pela escada encostada por Crooks para ver o que estava acontecendo, mas caiu? Para não falar no policial que viu um homem jovem com a mira telescópica usada em fuzis trinta minutos antes que Crooks começasse a atirar

As dúvidas, obviamente, alimenta, teorias conspiratórias de que teria havido um plano sinistro para deixar o caminho aberto ao assassino de vinte anos, um jovem inteligente que havia ganhado um prêmio de matemática no colegial e cursado dois anos de pré-faculdade de engenharia científica. Ele pegou o AR-15 do pai, que tinha mais de vinte armas legalizadas.

Crooks chegou a ser filmado se esgueirando, com o fuzil, em direção ao telhado do galpão, com pessoas do público chamando a atenção de policiais.

Os erros fatídicos entrarão para a história dos maiores furos de segurança de todos os tempos.

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“RECURSOS DESVIADOS”

Susan Crabtree, uma repórter séria do RealClearPolitics, relatou que duas fontes da comunidade de segurança disseram a ela que recursos do Serviço Secreto tinham sido desviados do comício de Trump para um evento da primeira-dama Jill Biden em Pittsburgh, no mesmo estado da Pensilvânia.

Daí, seria possível concluir, furos espantosos como a presença num telhado vizinho de apenas dois “contra-snipers”, os encarregados de vasculhar a área protegida em busca de atiradores – foi um deles que acertou um tiro “bem no meio dos olhos” de Crooks, nas palavras de Trump.

O Serviço Secreto desmentiu a repórter e disse que não é assim que as coisas funcionam.

Não é mesmo – o órgão tem nada menos que 6 200 integrantes, entre funcionários administrativos e agentes de campo. Investiga, inclusive, as inúmeras ameaças enviadas, geralmente por desequilibrados mentais, contra presidentes ou ex-detentores do cargo.

É impossível deixar de notar que os dois esquemas de proteção mais legendários do mundo, dos Estados Unidos e de Israel, já foram furados, numa demonstração de que a realidade é mais forte do que todos os preparativos para enfrentá-la – embora, obviamente, seja obrigatório estar preparado para todas as hipóteses.

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“TOMBO” DE TRUMP

Já do outro campo político, vicejam teorias mais absurdas ainda. Em vez de raiva contra um atirador provavelmente com alguma doença mental que conseguiu dar a Trump uma aura simultânea de martírio e invencibilidade, colocam suas apostas em duas direções.

Primeiro, foi uma pena que Crooks errasse por questão de centímetros – uma posição moralmente execrável que nem precisa ser explicada. Basta imaginar o estado em que o país se encontraria se o assassino tivesse acertado.

Segundo, uma versão própria do conspiracionismo de que foi tudo armação para promover Trump. Até o sangue em seu rosto foi “denunciado” como um gel cenográfico. Também tinha gente do público que “sabia”o que ia acontecer e os franco-atiradores “esperaram” o assassino disparar. Claro que teve também uma combinação secreta com Vladimir Putin.

Basta imaginar a quantidade de envolvidos que tais hipóteses exigiriam, inclusive entre agentes do Serviço Secreto, FBI, polícias locais e outros integrantes do aparato de segurança. Sem falar que Trump teria que concordar em levar um tiro de fuzil na orelha.

A bronca mútua, entre trumpistas e todo o resto do establishment é tanta que a CNN manteve durante vários minutos, mesmo com as imagens ao vivo mostrando as cenas no comício, que Trump havia sofrido uma queda. Uma comentarista depois disse que a mensagem poderosa dele – “Lutem! Lutem!” – não deveria ser disseminada.

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Note-se que a correspondente da CNN no local do comício, Alayna Treene, também foi protegida corporalmente pelo segurança quando alguns membros da plateia disseram aos jornalistas que “É culpa de vocês”. O relato foi feito por Sophia Cal, do Axios, mencionando “a paixão acalorada dos partidários mais leais de Trump”. Só faltou colocar a culpa neles pelo atentado.

FOTOS MANIPULADAS

O fato de que jornalistas andem com seguranças mostra como a hiperpartidarização que domina a política e envolve os meios de comunicação é uma triste realidade.

Terá Trump a visão de ouvir as palavras da própria mulher, Melania, que saiu do quase total isolamento da campanha para dizer que “o tecido de nosso gentil país está esgarçado, mas nossa coragem e nosso bom senso precisa prevalecer e nos unir de novo”?

Em mais uma reviravolta desses dias que parecem durar 240 horas, caiu dos céus a decisão da juíza encarregada do caso dos documentos secretos mantidos indevidamente por Trump depois de deixar a presidência, Aileen Cannon, simplesmente encerrou o processo, com o argumento de que a nomeação de um promotor especial para o caso, Jack Smith, foi inconstitucional.

O processo já estava contaminado por vícios de investigação, como as fotos do FBI, que fez as buscas no palacete de Mar-a-Lago, manipuladas para dar a impressão de que todas as caixas com papéis eram de documentos desviados, inclusive as famosas do banheiro cheio de papelada com os carimbos “Sigiloso” ou “Secreto”. Os rótulos também foram colocados pelos agentes do FBI.

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VICE DE CINEMA

Parece uma conspiração para virar os fatos a favor de Trump, acredite-se ou não nas teorias mais abiloladas.

Das treze principais pesquisas, Trump estava à frente em doze, embora por pequena diferença. E isso antes do atentado. Na média das pesquisas do RealClear, algumas já feitas depois do grande incidente, dava 47,1% para Trump e 44,4% para Biden.

Detalhe: o candidato a vice escolhido, ex-fuzileiro naval formado por Yale, tem apenas 39 anos e é bonitão, como Trump já notou. Dizem que ele muitas vezes escolhe pessoas para seu time como se estivesse montando um elenco de filme. Ou um de seus programas de televisão.

Existe reality show maior do que o que está acontecendo no momento nos Estados Unidos?

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