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Reação destemperada: ai, que horror, direita vai ganhar eleições europeias

O francês Jordan Bardella encarna a prognosticada vitória de neoconservadores, bem diferentes entre si, mas unidos pelo tema da imigração

Por Vilma Gryzinski 7 jun 2024, 08h19

Quem lê os jornais europeus e americanos mais identificados com a esquerda, fica com a impressão de que uma horda de fascistas se prepara para tomar de assalto a Europa a partir de domiingo. Seu representante máximo é o francês Jordan Bardella, o jovem e bonitão candidato ao Parlamento Europeu que tem a maior diferença em relação aos concorrentes: 32% das preferências, mais que o dobro dos 14% da segunda colocada, Valérie Hayer, que leva a cruz de representar o desgastado partido do presidente Emmanuel Macron.

A direita favorecida pelas pesquisas em países importantes, como França, Itália e Holanda, é chamada de extrema ou dura. Muitos já foram assim – e pelo menos um, a Alternativa pela Alemanha, ainda não conseguiu se livrar desse adjetivo (ou do peso da bagagem histórica).

Mas muitas mudanças foram conscientemente implementadas por seus líderes. Ou suas, como no caso de Marine Le Pen, que mudou até o nome do partido criado por seu pai e escolheu Bardella como a encarnação dessas mudanças, e Giorgia Meloni, que desmussolinizou os Irmãos da Itália e tem governado como se fosse de centro-direita.

E por que os partidos de direita que jogam pelas regras da democracia não podem ganhar eleições? Por que deveriam sempre ser, na visão de seus adversários, partidos eternamente minoritários favorecidos apenas por brutos ignorantes que não entendem as vantagens de ter massas de imigrantes clandestinos hostis à integração aos valores europeus? Por que os eleitores não têm o direito de escolher seus representantes quando não se coadunam com os chiques e finos que só leem o Guardian ou o Washington Post?

ASCENSÃO POPULISTA

Foram partidos conservadores tradicionais que criaram a União Europeia, execrada numa época em que era grande a influência dos partidos comunistas, sempre inabalavelmente fieis a Moscou e dedicados a pintar o projeto europeu como um plano maléfico dos Estados Unidos e, de forma, geral dos “patrões”, para explorar os trabalhadores.

Demorou um tempão até a situação se inverter e a esquerda chique abraçar a bandeira azul com as doze estrelas douradas. O Brexit enfatizou essa tendência: os bem pensantes de um lado, as hordas antieuropeias de outro.

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Poucas lições foram aprendidas pelos partidos mais à esquerda, incapazes de entender como tantos cidadãos rejeitam a substituição dos estados-nação por uma entidade supranacional e execram a imigração descontrolada que não se integra e aumenta o stress sobre benefícios já ameaçados pela estagnação econômica e o encolhimento demográfico.

Os nobres ideais que movimentaram a União Europeia, como a convivência pacífica no continente onde aconteceram as piores guerras os últimos séculos e o respeito inquebrantável aos direitos humanos, foram sendo superados pelos problemas com os quais os países europeus têm dificuldades para lidar.

Nessa brecha, cresceram os partidos chamados de nacionalistas e populistas – só para lembrar, populistas são sempre aqueles de quem não gostamos. Os que têm voto e nossa simpatia, são populares.

AMEAÇA PÚBLICA

Jean-Marie Le Pen, o pai de Marine, era um fenômeno de nicho, condenado várias vezes por declarações antissemitas e manchado pela sombra do colaboracionismo. A filha, e as condições históricas, levaram um partido basicamente anti-imigração a se transformar em ator político legitimado pelo voto e expurgado dos pecados originais.

Bardella, seu candidato, pode ser tudo, menos uma perigosa ameaça de extrema direita que vai instaurar o fascismo na França.

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Geert Wilders, hoje o político mais importante da Holanda, chegou a ter sua entrada no Reino Unido proibida pelo governo porque “suas declarações sobre os muçulmanos e suas crenças ameaçariam a harmonia social e a segurança pública”. Praticamente ninguém conhecia, fora da Itália – e muitos dentro dela – uma baixinha provocativa chamada Giorgia Meloni. As referências a Viktor Orban ainda eram o do jovem líder estudantil que se destacou quando o comunismo começou a ruir na Hungria.

VISÃO ANTILIBERAL

O Parlamento Europeu tem poderes bastante limitados e muitos europeus não se dão ao trabalho de votar, mas seus 705 membros refletem obviamente as preferências, nem sempre muito explícitas, de quase 450 milhões de pessoas de 27 países. É bom ouvir e tentar entender o que estão pensando, nem que seja para criticar. De preferência sem argumentos que mencionem uma “internacional da extrema direita”.

Por que partidos dessa tendência não podem fazer convenções, conferências ou alinhamento de estratégias, como fazem os outros?

Os partidos da direita nacional populista, extrema ou dura, têm muitos defeitos, inclusive, entre vários deles, a visão antiquada e antiliberal da economia. Marine Le Pen é uma estatista convicta. Pior ainda são as simpatias pela Rússia de Vladimir Putin. Não é preciso atribuir-lhes defeitos fabricados.

Como ainda não foi inventado método melhor do que eleições, se os defeitos verdadeiros ficarem evidentes, seus portadores eventualmente acabarão perdendo nas urnas.

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Bardella, ou “Jordaaan”, como gritam os fãs, que é o símbolo dessa direita reconstituída, para desespero dos adversários diante de sua popularidade, vai ter muitas oportunidades de enfrentar esse teste.

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