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Política louca: foto racista, aborto pós-parto, abuso sexual

Bafafá envolvendo o governador de Virginia mostra como pessoas boas fazem coisas ruins e até desatinadas, impulsionadas por tempo político cruel

Por Vilma Gryzinski 5 fev 2019, 16h39

Uma foto tirada em 1984 pode arruinar a carreira política de um homem em 2019? Uma denúncia de abuso sexual ocorrida em 2004 pode impedir seu eventual sucessor de tomar posse? E em até que momento da gestação um aborto pode ser legalmente praticado?

Todas estas perguntas complicadas estão conectadas no caso de Ralph Northam, o governador de Virginia, a mais antiga colônia na época do domínio britânico, berço da Revolução Americana e também da secessão dos Estados Confederados, origem da guerra civil.

História antiga e o clima político moderno misturam-se para complicar a situação de Northam, neurologista pediátrico, oficial do Exército e, originalmente, simpatizante de George Bush, antes de entrar para a política como democrata.

Uma ficha impecável para um estado que ainda tem um considerável eleitorado republicano, mas foi “colonizado” pelas castas liberais que trabalham no governo, na imprensa e outras atividades características de uma capital como Washington, quase vizinha.

Até que dois desastres aconteceram quase que simultaneamente. Uma deputada – ou delegada, como chamam em Virginia – apresentou um projeto de lei permitindo o aborto até praticamente a hora do parto.

Kathy Tran, que fugiu do Vietnã comunista quando era criança, defendeu seu projeto dizendo que a criança faz parte do corpo da mãe até que o cordão umbilical seja cortado, provocando aversão e revolta entre a maioria da população americana que é contra o aborto depois de três meses de gestação.

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Northam defendeu a deputada numa entrevista mais chocante ainda, considerando-se que trabalhou como pediatra.

Em casos de bebês nascidos com deformidades, a mãe e “seus médicos” teriam autonomia para discutir o que fazer. Com a ressalva de que o bebê seria mantido em condições “confortáveis” enquanto se decidia entre a vida e a morte do recém-nascido.

Seja qual for a posição que alguém tenha sobre o aborto, o nome disso é infanticídio.

Segundo a versão mais conhecida até agora, um cidadão comum, revoltado com as declarações do governador, passou para um site pouco conhecido uma página do livro de formatura em medicina de Northam, datado de 1984.

Entre fotos comuns dele, uma imagem repugnante: um jovem com o rosto pintado de preto e roupas estridentes ao lado de outro com fantasia de membro da Ku Klux Klan – camisolão e capuz pontudo cobrindo o rosto.

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O mundo caiu para Northam. As principais lideranças democratas exigiram que ele renunciasse, apesar do extenso mea culpa do governador.

Sob pressão pesada, ele primeiro disse que era um dos dois homens da foto, mas não sabia qual. Depois, negou. Mas, numa entrevista bizarra, admitiu ter pintado o rosto de preto para um concurso de imitação de Michael Jackson.

A vida dele só piorou. O vice-governador Justin Fairfax já estava preparando a mudança quando o mesmo site divulgou a mensagem de uma mulher não identificada, relembrando uma história que o Washington Post investigou, mas não chegou a publicar.

Segundo a mulher, ela e Fairfax, que é negro, se conheceram na convenção democrata de Boston, em 2004. Ela concordou em ir ao quarto de hotel dele, beijaram-se e foram para a cama.

Aí, diz, ele a dominou fisicamente e a obrigou a fazer sexo oral. Nunca houve nenhuma queixa à polícia. Não apareceu ninguém dizendo ter ouvido da denunciante a história do abuso. Fairfax disse que houve sexo consensual. Seja o que for que tenha acontecido, foi há quinze anos.

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Na pressa de montar o cavalinho passando selado à sua frente, Fairfax chegou a mais do que insinuar que era “muita coincidência” o caso, já investigado pelo Washington Post, vir a público agora. Ou seja, Northam tinha vazado a história. Pegou mal e ele voltou atrás.

Tanto o governador quanto o vice estão envolvidos em encrencas nas quais a linha entre justiça e injustiça parece borrada.

Northam por uma “brincadeira” de cunho racista que aconteceu há quase 35 anos. Nada em sua vida e sua carreira política indica que tenha praticado atos discriminatórios.

A CNN conseguiu o livro de formatura e disse que outros alunos apareciam em fotos comprometedoras, fantasiados como o que no Brasil seria “nega maluca” – o que ninguém pensaria em repetir nos dias atuais.

É justo que Northam seja punido por uma idiotice de juventude ou é um excesso politicamente correto?

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E seu vice, vai para o linchamento virtual como aconteceu com o juiz Brett Kavanaugh quando foi nomeado para a Suprema Corte, afetado por uma denúncia sexual de comprovação impossível e outras completamente falsas?

Ou o fato de ser negro até certo ponto o protege?

E por que uma foto de 1984, por mais condenável que seja, provoca reações muito mais fortes do que a defesa de uma lei permitindo um fim “confortável” para recém-nascidos indesejados?

A discussão é típica do momento vivido nos Estados Unidos, onde um professor publicou no New York Times um artigo acusando o filme Mary Poppings – o original, com Julie Andrews – de racismo por causa da cena em que a babá mágica aparece com o rosto sujo de fuligem de chaminé – uma imitação da perversa “black face” usada no passado por atores brancos para ridicularizar negros.

Tom Brady, o técnico e o dono dos Patriots, consagrados pela vitória no campeonato de futebol americano, foram acusados de encarnar a “supremacia branca” num artigo do site Daily Beast. Motivo? Apoiam Donald Trump.

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Ralph Northam garantiu que não vai renunciar de jeito nenhum. No campeonato que exageros politicamente corretos que parece ser disputado por uma parte da imprensa americana, ele já foi julgado em segunda instância. E está ferrado.

Mais difícil ficou defender o vice como um exemplo de virtudes semidivinas.

Kathy Tran passou a andar com segurança e garantiu que foi vítima de “desinformações”, embora tenha aparecido em vídeo dizendo exatamente o que disse.

A coisa está feia para todos os lados.

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