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Perigosa: por que Twitter baniu médica que defende cloroquina?

Até o filho de Donald Trump foi temporariamente suspenso por retuitar Stella Immanuel, tratada como maluca por causa da divergência sobre o remédio

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 22 mar 2021, 15h27 - Publicado em 30 jul 2020, 08h56
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  • Vejam se existe uma diferença entre as seguintes declarações:

    “No meio de uma crise, estou lutando por um tratamento amplamente apoiado em dados que, por razões completamente opostas ao entendimento da ciência, foi escanteado. Por causa disso, dezenas de milhares de pacientes com Covid-19 estão morrendo desnecessariamente. Estou me referindo, claro, ao medicamento hidroxicloroquina”.

    “Nos últimos meses, depois de tratarmos de mais de 350 pacientes, não perdemos nenhum. Nem um diabético, nem alguém com pressão alta, nem alguém com asma, nem um idoso. Não perdemos nenhum paciente. A hidroxicloroquina com zitromax e zinco funciona”.

    Dois médicos disseram isso. Ambos foram igualmente polêmicos.

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    O primeiro é Harvey Rich, professor de epidemiologia na faculdade de saúde pública de Yale. Seu artigo na revista Newsweek passou quase despercebido.

    A segunda declaração foi feita por Stella Immanuel, médica proveniente de Camarões que estudou na Nigéria e trabalha em Houston, no Texas.

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    Como pastora de uma igreja que fundou, ela falou em tom apaixonado em defesa do medicamento.

    Foi banida do Twitter, Facebook e YouTube depois de 17 milhões de visualizações, tendo sido retuitada pelo presidente americano Donald Trump e seu filho Donald Trump Jr, este suspenso por um pequeno intervalo.

    A suspensão de Trump Jr. veio com o aviso sobre o motivo do castigo: “Determinamos que esta conta viola as Regras do Twitter. Especificamente, por violar a política relacionada com a divulgação de informação enganosa e potencialmente perigosa em relação à Covid-19”.

    As redes sociais realmente pululam com teorias conspiratórias que, quanto mais absurdas, mais adeptos conseguem.

    Mas desprezo, descrédito e ridicularização foram reservados apenas a Stella Immanuel. 

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    No New York Times, ela foi tratada por “uma mulher que se identifica como a doutora Stella Immanuel”.

    Os outros médicos, reunidos por políticos conservadores para falar em frente à Suprema Corte, foram descritos assim: “Um grupo de pessoas que se denominam ‘Médicos na Linha de Frente da América’ e usando jalecos brancos”. 

    Além de desmerecer os participantes, o jornal também leu suas mentes, dizendo que participaram de “um vídeo planejado especificamente para apelar aos conspiracionistas da internet e conservadores ansiosos por reabrir a economia, com cenário e personagens para emprestar credibilidade”.

    O Times foi até brando comparado ao tratamento que o site Daily Beast reservou a Stella Immanuel. 

    “Sexo com espíritos” e “esperma diabólico” foram as expressões usadas para ridicularizar os sermões que ela faz como pastora, atribuindo doenças ginecológicas e disfunções sexuais a espíritos malignos que atormentam infelizes durante o sono – os íncubus e súcubus dos antigos tempos da Igreja católica.

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    Se tivesse identidade ideológica desse veículos de comunicação, a médica poderia ser vista até como uma folclórica adepta da tese mostrada por Roman Polanski no filme O Bebê de Rosemary. Ou uma africana ligada em crenças ancestrais.

    Mas será que ela seria tratada como maluca se aparecesse jogando coquetéis molotov numa manifestação do Black Lives Matter?

    Todo mundo sabe a resposta.

    Médicos também têm suas paixões políticas, divergem sobre tratamentos e conhecem bem o histórico de curas miraculosas para enganar os desesperados.

    Stella Immanuel fez declarações contestáveis, inclusive sobre a desnecessidade de usar máscaras e o uso profilático da hidroxicloroquina.

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    Disse que conhece bem o medicamento desde o tempo em que atendia pacientes com malária na África e que o medo de complicações cardíacas é desproporcional.

    O professor de Yale falou basicamente a mesma coisa, inclusive sobre o uso inadequado em estudos sobre a eficácia ou não do remédio.

    E cravou o cerne do problema:

    “O medicamento se tornou altamente politizado. Para muitos, é visto como um marcador de identificação política, dos dois lados do espectro político. Ninguém precisa me dizer que não é assim que a medicina deveria se comportar. Precisamos julgar esse medicamente estritamente com base na ciência”.

    Exatamente o que parece cada vez mais difícil. 

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    A hidroxicloroquina já foi condenada em estudos sérios ou nem tanto – um deles totalmente feito com uma base de dados falsificada.

    Outros ainda persistem em analisar cientificamente seus efeitos.

    Existe também a hipótese de que funcione para determinados pacientes e não para outros, por motivos que ainda têm que ser decifrados.

    O novo coronavírus tem apenas seis meses de vida detectada entre humanos. Descobertas que parecem ridículas são baseadas em dados reais: pode ser mais perigoso para pessoas com sangue tipo A e contamina mais facilmente os que têm acima de 1,80 metro de altura.

    Em outro plano, ele também pode reeleger ou arruinar presidentes. Aí está, obviamente, o campo de contaminação da medicina pela política.

    Leia também – Quer ser feliz? Este curso gratuito e online de Yale ensina como.

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