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Papéis trocados: é certo Estados Unidos quererem forçar venda do TikTok?

Ironicamente, China evoca regras de “concorrência leal”, embora tudo seja desleal na forma como controla as regras do jogo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 mar 2024, 07h31 - Publicado em 15 mar 2024, 07h30

Quem escreve o algoritmo? E quem tem controle sobre ele? Estas são as perguntas essenciais sobre a disputa em torno do TikTok.

Não é difícil adivinhar a resposta. O aplicativo virou uma questão tão grande de segurança para os Estados Unidos que passou no Congresso um projeto de lei estabelecendo que a ByteDance, a empresa chinesa que deu o grande salto de soft power ao desenvolver uma plataforma que conquistou o mundo, deve vender sua parte do TikTok em seis meses, sob risco de que seja proibido nas lojas de aplicativos.

O projeto, chamado bem explicitamente de Lei de Proteção dos Americanos de Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros, teve o apoio de 352 deputados, contra 65, mostrando uma excepcional convergência de republicanos e democratas sobre a ameaça à segurança nacional que a plataforma representa, embora ainda tenha que passar pelo Senado e, previsivelmente, por ações na justiça.

Mas como os Estados Unidos, o farol mundial da livre iniciativa, pode interferir numa empresa estrangeira? Este é o argumento invocado pela China. Seria perfeitamente válido se o TikTok fosse o que parece, um aplicativo que começou com vídeos musicais e memes divertidos e aparentemente inocentes, embora viciantes. Agora, está no ramo das notícias, acrescentando uma dimensão a mais, e obviamente bem complexa.

A questão é que nada é o que parece. Os algoritmos que parecem adivinhar – e antecipar – tudo o que os usuários mais querem, seleciona conteúdo que, na visão de muitos políticos americanos, dissemina divergências, acentua as divisões internas do grande gigante americano e promove visões políticas específicas. Muitas das posições atuais de jovens em todo mundo contra Israel, por exemplo, são relacionadas a esses conteúdos. É a “universidade do TikTok” em ação.

FERRARI SEM MOTOR

Escrevendo no New York Times, David Sanger explicou como os algoritmos na verdade não pertencem à ByteDance, embora sejam escritos por engenheiros que trabalham para a empresa chinesa em laboratórios sigilosos em Beijing, Singapura e Mountain View, na Califórnia. Mas a China tem regulamentos que exigem aprovação do governo antes que eles possam licenciados para terceiros.

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Vender o TikTok sem seus códigos seria como “vender uma Ferrari sem seu famoso motor”, comparou Sanger.

A ByteDance já assumiu vários compromissos sobre o uso de informações de seu um bilhão de usuários – um número estarrecedor – em 144 países, dos quais 170 milhões de americanos. A ideia é garantir que elas não sejam passadas para as autoridades chinesas, o que contraria o modus operandi tradicional. Nenhuma empresa chinesa tem controle total sobre suas atividades.

Além de lobistas, um método consagrado nos Estados Unidos e usado por países estrangeiros e empresas, a ByteDance mobilizou influenciadores e criadores de conteúdo para ir a Washington defender a plataforma, também usada por milhões de pequenos empreendedores para vender produtos através da TikTok Shop.

Muitos críticos dizem que, independentemente das questões de segurança nacional, a influência do TikTok é negativa para os jovens e ressaltam a diferença em relação à plataforma chinesa equivalente, chamada Douyin, com conteúdos educacionais obrigatórios e limite de tempo – e, obviamente, controle do governo.

ROUBO DE DADOS

As regras do jogo da livre concorrência muitas vezes parecem coisa de ingênuos diante de realidades contemporâneas. Na Inglaterra, outro bastião dos princípios liberais, está para ser aprovada a proibição da venda de jornais e publicações periódicas a estrangeiros. O caso foi provocado pela oferta do vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mansour bin Zayed Al Nahyan, para comprar o tradicionalíssimo jornal The Telegraph, da linha conservador chique, afundado em dívidas.

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O xeque árabe pode ter propósitos impecáveis, mas definitivamente não vem de uma cultura democrática onde a livre expressão é cultuada.

Governos de todo o mundo gostariam de controlar as redes sociais e isso deve ser diferenciado de ameaças à segurança nacional como o controle, a espionagem e o roubo de dados vitais por uma potência estrangeira.

O FBI já disse que a China capturou segredos em setores vastos que vão da tecnologia quântica à robótica, da biotecnologia à inteligência artificial. David Sanger lembrou na reportagem do Times que, quando o TikTok foi lançado, em 2016, o governo americano estava focado em infiltrações como o roubo dos arquivos de 22 milhões de funcionários públicos e terceirizados americanos, além de tecnologia de semicondutores, de turbinas a jato e até de um caça inteirinho, o F-35.

A diferença com o TikTok é que os dados não são roubados: nós os oferecemos livremente. E o algoritmo acaba nos conhecendo mais do que nós mesmos.

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