Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Papa não diz a verdade quando fala absurdos sobre Rússia e ‘conserta’

Esta é a triste conclusão, baseada em precedentes de declarações a favor de Moscou, não da grande nação russa, como tenta fazer crer

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 31 ago 2023, 07h56 - Publicado em 31 ago 2023, 07h42

O papa tem um fraco, entre outros humanos defeitos: vive fazendo comentários completamente absurdos que favorecem as posições de Vladimir Putin. Depois, porta-vozes tentam alegar com o famoso “não foi exatamente isso” etc etc.

É de dar vergonha alheia, um sentimento que o chefe da Igreja Católica não deveria despertar. Francisco não pretendia “glorificar a lógica imperialista”, disse seu porta-voz, Matteo Bruni.

“O papa pretendia encorajar os jovens a preservar e promover tudo o que é positivo no grande legado cultural e espiritual russo”.

Não é verdade. Basta ver as palavras literais que disse num encontro com jovens católicos russos: “Vocês são herdeiros da grande Rússia, a grande Rússia dos santos, dos reis, a grande Rússia de Pedro, o Grande, de Catarina II, o grande império russo, culto, tanta cultura, tanta humanidade”.

Foi tão completamente idêntico aos argumentos intelectuais usados pelo regime russo para invadir e tentar anexar a Ucrânia que Vladimir Putin até mandou agradecer.

Os dois czares citados, com suas grandezas e suas perversidades, têm em comum a repressão e até a supressão de países como Ucrânia, Lituânia e Polônia.

Continua após a publicidade

“Ele não apenas deixou de mencionar o sofrimento dos ucranianos e de outras nações sob o domínio imperial russo, mas pareceu sintonizado com a narrativa chauvinista que o atual czar de Moscou, Vladimir Putin, está promovendo para justificar sua guerra bárbara contra a Ucrânia”, resumiu o Kyiv Post.

“Ao fazer isso, espezinhou a Igreja Católica Ucraniana com sua longa história de resistência, heroísmo, martírio, criatividade e lealdade à Santa Sé”.

Os católicos ucranianos, uma minoria no país que segue a linha da igreja ortodoxa, são apenas um dos integrantes da longa lista de vítimas de czares como Pedro, o Grande, e Catarina. Não se deve julgar o passado pelos critérios morais do presente, mas por qualquer padrão que se use, Pedro foi um monstro — brilhante no seu plano de abertura para o ocidente, mas monstruoso mesmo assim. Ou como se chamaria um homem que mandou torturar e matar o próprio filho? E decapitou pessoalmente pelo menos cinco de dez mil condenados à morte por rebelião?

A grande Catarina, tão ilustrada, também precisou de uma execução em família, a do próprio marido, para ganhar o poder. Um feito monumental para uma princesa prussiana com queda por homens inteligentes — ou simplesmente jovens e vigorosos, origem de uma das “lendas negras” que até hoje cercam sua morte, atribuída ao esmagamento por um cavalo com quem procurava ter uma relação de bestialidade (na verdade, morreu de AVC e foi encontrada no chão do banheiro).

Na sua rejeição a tudo o que é russo, os ucranianos tiraram a estátua da czarina de Odessa, a cidade que ela fundou e hoje recebe a regular e mortífera visita de mísseis russos disparados contra alvos civis. Tirar uma estátua não muda a história, nem o papel de Catarina, outra modernizadora, mas mostra a revolta dos ucranianos. Mais do que falta de sensibilidade, o papa argentino demonstra que, no fundo, “entende” os argumentos russos. Em outra declaração catastrófica, ele já disse que “a Otan foi latir no portão da Rússia,” mais uma mentira lamentável.

Continua após a publicidade

Com 86 anos e um papado nem marcante nem brilhante, ao longo do qual a simpatia inicial por sua figura estudadamente simples foi se desgastando, Jorge Bergoglio talvez se sinta cada vez mais livre para revelar seus verdadeiros sentimentos, formados pela visão de um jesuíta latino-americano que não consegue captar o papel dos Estados Unidos no mundo nem a economia de mercado, o mais eficiente sistema para a criação de riquezas, quando não deturpado pelo compadrio e outras doenças latinas. Tem o tipo de cabeça para a qual basta o governo e os “ricos” darem um dinheirinho aos pobres e tudo está resolvido. Tampouco tem responsabilidade por alimentar, empregar e aquecer populações inteiras que seriam reduzidas à total miséria pelo repúdio aos combustíveis fósseis, sem substitutos no momento. Ele acha bacana falar contra “as indústrias predatórias que estão acabando e poluindo nossas fontes de água”, e pronto, o problema está resolvido.

Antes de, mais uma vez, pecar contra a verdade ao falar da Rússia, ele deu outra entrevista criticando não as bárbaras perseguições a católicos e outros cristãos, mas os americanos que ousam ser conservadores e seguir os ensinamentos da Igreja — além de manter suas instituições com muito dinheiro. “Vimos nos Estados Unidos que a situação não é fácil: existe uma atitude reacionária muito forte. É organizada e molda a forma de pertencimento das pessoas, até emocionalmente”.

Ou seja, Francisco passou uma década em Roma sem entender a imensa complexidade das diferentes variedades de praticar o catolicismo, uma religião universal e, portanto, longe de ser homogênea.

Da mesma maneira que conservadores alemães não entendem a realidade de privações que levou tantos padres a se aproximar da Teologia da Libertação, populistas argentinos não concebem que a militância contra o aborto, tal como existe na Igreja americana, molde a própria prática religiosa.

Em vez de ser um papa de todos, o pai espiritual de filhos tão diversos, conquanto unidos pela mesma fé, Francisco escolheu os seus preferidos.

Continua após a publicidade

E o pior é que Vladimir Putin está entre eles.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.