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Por Vilma Gryzinski
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O que aconteceria se mulher biológica mostrasse seios na Casa Branca?

Seria, obviamente, retirada pelo serviço secreto e talvez enfrentasse consequências legais; mas como foi mulher trans, saiu coberta de elogios

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 14 jun 2023, 17h34 - Publicado em 14 jun 2023, 06h09

Dois seios, duas medidas. Num país de origem puritana como os Estados Unidos, mamilos são estritamente controlados em todas as publicações e redes sociais. Mas Rose Montoya tem passe livre: conversou com o presidente Joe Biden, fez movimentos de dança erótica e acabou baixando a frente do vestido branco, mostrando os seios artificiais que massageou vigorosamente. De cada lado dela, dois homens trans também sacudiram os peitorais, mas para ressaltar que haviam sido amputados, como mostram as cicatrizes de mastectomia dupla.

Biden saudou algumas das “pessoas mais corajosas e mais inspiradoras que já conheci” durante o evento “orgulho gay” feito no jardim central da Casa Branca, onde gente hétero enfrentaria a mão pesada da segurança se fizesse algo remotamente parecido.

Eventos com trans, drags e outras variações — embora não necessariamente gays, categoria que engloba uma vasta gama de comportamentos, incluindo os tímidos e não exibicionistas — sempre têm uma margem a mais de liberalidade pela própria exuberância com que se apresentam.

Mas não é implicância esperar que todas as pessoas, de qualquer orientação ou variação que seja, se comportem de acordo com o lugar onde estão. Em parada gay ou show de drag, todo mundo sabe o que esperar. Assiste quem quer.

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Vários órgãos da imprensa liberal entraram em surto quando Bill O’Reilly, então apresentador da Fox, fez uma entrevista em que cobrou respostas diretas de Barack Obama, interrompendo-o várias vezes, com seu jeito durão. Foi considerado quebra de protocolo e falta de respeito — embora Obama soubesse se defender muito bem, com a inteligência habitual. O que estão dizendo agora dos trans que sacudiram os seios, de silicone ou amputados?

Nadinha de nada. São os conservadores que apontam as quebras, não só de protocolo, mas das regras comuns de mínima civilidade.

Todos têm algum interesse em jogo. A direita quer o voto dos que se revoltam com atitudes assim e Biden quer se firmar, na disputa presidencial que pretende disputar no ano que vem, como um porto seguro para as questões identitárias ou causas liberais, como o aborto em todas as instâncias e tratamento precoce para crianças que se declaram ou são declaradas trans.

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Não são questões resolvidas para a parte da população que vota em Biden de qualquer maneira, mesmo que esteja com 350 anos, ou para os que têm dúvidas. Uma pesquisa feita em maio na Califórnia mostra os seguintes resultados para a pergunta “Quando uma criança deve receber medicação que altera seus hormônios, podendo provocar infertilidade?”: 43% disseram “nunca”. Sobre cirurgias de redesignação sexual para menores, a rejeição subiu para 49%. Só 29% disseram que um menor de 16 anos tem maturidade suficiente para decidir seu gênero.

Note-se que o eleitorado californiano é tão liberal que pode aprovar, em votação, uma lei que proíbe funcionários de pontos comerciais de chamar a segurança quando alguém está furtando mercadorias. O estado já não processa pessoas que furtam produtos no valor de até 950 dólares por dia.

Nem é preciso dizer os efeitos deletérios dessa legalização, na prática, do roubo, incluindo o fechamento de lojas conhecidas nos pontos mais afetados. Um exemplo: a loja do grupo de supermercados Wholefoods que fechou no centro de São Francisco fez 560 ligações de emergência durante os treze meses em que ficou aberta, enfrentando, além de furtos constantes, incluindo os 250 carrinhos de compras, agressões a funcionários, defecações em áreas comuns, uso de drogas nos banheiros e até um caso de overdose fatal.

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Obviamente, tudo que acontece nos Estados Unidos acaba se refletindo em outros países, inclusive os que nunca atingiram o nível de riqueza luxuriante que ameniza absurdos imbecis como as leis californianas sobre furtos em lojas ou, muito mais grave, a ideologização da questão dos transgêneros.

É possível que seja certo tratar como uma doença a dismorfia corporal — em geral, pessoas que se acham gordas demais ou fracas demais, levando-as, em determinados casos, a problemas graves como a anorexia ou a obsessão doentia por exercícios físicos — e vetar tratamento psicológico para quem tem dismorfia de gênero, uma condição que deve ser admitida pelos profissionais de saúde sem questionamentos?

É possível que médicos sejam aconselhados a não receitar testosterona para homens adultos que querem aumentar os músculos e fortemente incentivados a dar o mesmo hormônio para meninas adolescentes que dizem querer ser meninos?

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É possível desmanchar todo o próprio fundamento do esporte — a competição com a maior quantidade alcançável de igualdade de condições — para permitir que mulheres trans, com todas as vantagens biológicas de seus corpos masculinos, disputem categorias femininas?

É possível, como aconteceu na semana passada no estado de Washington, proibir um spa do tipo coreano, com piscinas com jatos d’água onde os clientes separados por sexo ficam nus, de vetar a entrada de uma pessoa que se declara mulher trans e desfila com toda a genitália masculina à vista das frequentadoras?

Evidentemente, há muito foram transpostos os limites da justa luta por direitos iguais para todas as pessoas, de qualquer variedade que sejam, e o movimento entrou numa esfera em que são desrespeitados os direitos de mulheres e crianças em nome da equanimidade de tratamento.

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Existem países em que o direito dos não homossexuais são efetivamente afrontados, como as penas pesadas de Uganda a relações com o mesmo sexo e até a Turquia, onde as paradas gay foram proibidas e uma solução interessante, como a criação de um terceiro tipo de banheiro, para os gêneros alternativos, num shopping de Istambul, teve que ser revertida.

Fazer um banheiro queer parece ser a salvação da pátria para um dilema complicado: poupar mulheres e crianças dos degenerados que se passam por trans para invadir sua intimidade e criar um espaço seguro para os gêneros alternativos que podem correr risco se forem obrigados a usar os espaços masculinos. É caro e nem sempre factível, mas cria uma alternativa.

Sobre os seios sacudidos no gramado da Casa Branca, o prejuízo maior é para quem luta pela inserção das pessoas trans e para que não sejam vistas como seres degenerados que fazem absurdos como chacoalhar atributos sexuais numa recepção oferecida pelo presidente dos Estados Unidos. Se fosse mulher biológica, Rose Montoya seria execrada como oportunista e exibicionista. Além de detida, claro.

“Tive zero intenção de ser vulgar ou profana, estava simplesmente sendo alegre”, disse Montoya. É de dar risada — inclusive pelo problema desnecessário que criou para Biden. Seria melhor para o presidente ter toda a imprensa amiga focada nos 365 milhões de anos a que Donald Trump será condenado, como dizem os jornalistas antitrumpistas, pelo caso dos documentos sigilosos guardados ilegalmente. Os amigos não decepcionaram, mas foi chato dividir espaço com balangandãs de silicone tremelicando ao ar no jardim da Casa Branca.

Ah, sim, a Casa Branca disse que não vai mais convidar Montoya para nenhum evento.

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