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O fator Irã: o perigoso complicador do conflito entre Israel e palestinos

Explosões em cemitério iraniano fazem a guerra no Oriente Médio subir vários degraus e apontar para um rumo de riscos imponderáveis

Por Vilma Gryzinski 4 jan 2024, 07h15

Existem complicações que pertencem ao universo das coisas previsíveis. Exemplo: os mísseis israelenses que mataram o vice-líder político do Hamas, baseado no Líbano, Saleh al-Arouri.

Foi um ataque ousado, que prejudica as negociações ainda em fase inicial para uma nova troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, mas não inesperado. Israel anunciou em múltiplas ocasiões que os líderes do Hamas responsáveis pelos crimes hediondos cometidos no ataque de 7 de outubro, eram “mortos que andam”. Ou seja, colocaram suas próprias cabeças a prêmio ao comandarem as atrocidades.

O ataque no coração xiita de Beirute pode atiçar o Hezbollah, atualmente numa fase de conflito de baixa intensidade, mas não é nada que os líderes israelenses não tenham avaliado. Existe até uma posição, aparentemente minoritária, que defendem confronto de alta intensidade com o Hezbollah, agora que a guerra em Gaza está na fase de operações limpeza, para degradar logo uma grave e permanente ameaça a Israel.

Outra coisa é o que aconteceu na cidade de Kerman, onde fica o cemitério no qual foi enterrado há quatro anos o mais importante comandante de operações no exterior, Qassem Suleimani, pulverizado por um drone americano quando desembarcava no aeroporto de Bagdá para tramar novos ataques contra americanos com seus aliados locais.

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O regime teocrático iraniano transformou Suleimani no maior mártir da causa, com manifestações recorrentes no cemitério e até lojinhas de souvenires terroristas. Foi numa manifestação assim que aconteceram as duas explosões de ontem, acionadas por suicidas, segundo as informações oficiais. Deixaram 95 mortos.

SEM IMUNIDADE

Não é, absolutamente, o modus operandi das operações comandadas pelo Mossad, o serviço israelense de inteligência que opera no exterior e coordena assassinatos dirigidos, não carros-bomba ou similares contra civis. Também não existe nenhuma força de oposição interna no Irã com perfil para esse tipo de atentado. Ou não existia.

As hipóteses estavam em aberto. Um atentado em território iraniano é muito mais grave do que a explosão ocorrida no Líbano, embora esta não deva ser subestimada.

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Até agora, o Irã tem agido de modo terceirizado no conflito, mobilizando os aliados que lhe devem fidelidade, como os irmãos xiitas do Hezbollah e das forças hutis, no Iêmen, e os vassalos sírios do regime de Bashar Assad. Grupos palestinos como o Hamas e a Jihad Islâmica também são fregueses, mas têm defendido uma atuação mais independente.

Orientar os rebeldes iemenitas nos ataques a navios cargueiros que trafegam na região, uma ameaça gravíssima às cadeias logísticas mundiais, vinha sendo a atitude mais ostensiva dos iranianos.

E agora, com um grande atentado em seu próprio solo?

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“Esta tarde, bombardeamos 60 grupos de veículos e soldados inimigos nas linhas de frente que convergem para o centro de Khan Younis”, anunciou a brigada de Suleimani, que leva o nome usado pelos muçulmanos para Jerusalém Al Quds.

É um desdobramento assombroso ou uma bravata?

Recentemente, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, fez uma avaliação até realista demais dos desafios enfrentados por Israel em nada menos do que sete frentes diferentes: Gaza, Líbano, Síria, Cisjordânia, Iraque e Irã.

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“Reagimos e entramos em ação em seis dessas sete frentes e digo com a maior clareza possível: qualquer um que agir contra nós é um alvo em potencial, ninguém tem imunidade”.

O recado não poderia ter sido mais claro.

PENSAMENTO ESTRATÉGICO

Israel já atingiu repetidamente alvos iranianos na Síria. O mais importante deles foi o general Razi Mousavi, da mesma Guarda Revolucionária que Suleimani. Era o principal coordenador da aliança da Síria com o Irã. Foi ajudando o regime sírio a conseguir o impossível – resistir a um levante popular de natureza islamista – que o Irã consolidou uma posição de grande importância regional.

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Essa aliança tem suas contradições. Os rebeldes sírios, por exemplo, eram da mesma tendência fundamentalista sunita que o Hamas e similares. Líderes do Hamas chegaram a ser expulsos da Síria. Mas o regime iraniano conseguiu reverter os danos e estabelecer uma improvável aliança entre radicais sunitas e xiitas, numa prova de força e de pensamento estratégico.

A aliança entre árabes e sunitas também seus pontos fracos, com estes se considerando superiores àqueles. O Irã tem um território extenso, petróleo, infraestrutura militar, 85 milhões de habitantes – e pode avançar quando quiser para produzir armas nucleares.

Israel tem mais problemas do que eliminar líderes escondidos em túneis e cercados por reféns em Gaza ou fazer ataques cirúrgicos em apartamentos no Líbano. O fator Irã abre possibilidades apocalípticas.

Estariam os israelenses cooperando com inimigos internos capazes de um atentado de grandes proporções como o de ontem? Poderá o regime iraniano tentar se vingar da maneira habitual, atingindo alvos judaicos “fáceis”, fora de Israel?

O “castigo merecido será severo”, ameaçou o aiatolá Ali Khamenei, manda-chuva final. Mas quem será o castigado?

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