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Histeria coletiva: até chineses resolvem meter a colher no pirão

Acordos rompidos com a China, Amazônia em chamas e a volta da ditadura são algumas das maluquices espalhadas por cobertura nervosa do pós-eleição

Por Vilma Gryzinski 1 nov 2018, 14h16

Imaginem o escândalo que seria se o governo dos Estados Unidos resolvesse passar um pito preventivo no futuro presidente brasileiro.

Foi exatamente o que fez o China Daily, o jornal em inglês que o Partido Comunista da China publica, em inglês, como um veículo para recados à comunidade internacional.

Depois da batida, mas obrigatória comparação com Trump, o jornal coloca a “questão pertinente” das futuras relações com a China. E termina com o puxão de orelhas: “Não existe motivo para ele copiar a política comercial de Trump.”

É um espanto que mestres do autocontrole e das jogadas estratégicas como os chineses tenham entrado no clima de histeria que cerca a cobertura estrangeira sobre a eleição presidencial brasileira.

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A comparação entre os interesses dos Estados Unidos e os do Brasil é inteiramente descabida.

A começar, simplesmente, pelo fato principal: o Brasil tem superávit no comércio com a China, ao contrário dos quase 400 bilhões de dólares de déficit que amargam a vida de Trump e o levaram a impor tarifas sobre determinados produtos chineses, na tentativa de equilibrar um pouco mais a balança.

Há várias outras questões, muitas de interesse vital, envolvendo uma parceria gigantesca como a que existe entre o Brasil e a China. Mas comparar Jair Bolsonaro com Donald Trump no quesito acima só pode ser fruto de alguma coisa estranha na água da redação do China Daily.

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Talvez seja a mesma coisa que apareceu no New York Times, onde o “cartunista editorial” Patrick  Chappatte teve a brilhante ideia de colocar um tanque com uma urna na boca do canhão. Saindo dele, o presidente eleito e uma figura que lembra o falecido Ernesto Geisel. Título: “A guinada do Brasil para a ditadura”.

Toda a cobertura do Times foi obviamente orientada pelo viés antibolsonarista, mas seguiu os padrões jornalísticos que se espera de um jornal assim, com reportagens variadas que tentaram capturar o fenômeno ocorrido no Brasil, mesmo que com a má vontade habitual.

É preciso uma má fé abissalmente ignorante para falar em “guinada para a ditadura”.

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Outra maluquice galopante foi o editorial do Guardian sobre o “perigo global” representado pelo presidente eleito.

Além de estar deprimido, aborrecido etc e tal, o editorialista propõe: “A União Europeia – e a Grã-Bretanha – precisam agir para salvar o planeta de Jair Bolsonaro, cujas políticas vão acelerar a mudança climática e não contê-la”.

Não é o caso de fazer graça e perguntar quantas divisões tem o Guardian, mas soa algo colonialista o apelo do editorialista. E ignorante também pela falta de noção do que já está acontecendo, em grande escala, no Cerrado e na Amazônia.

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O editorialista propõe que a União Europeia exija uma espécie de certificado verde da soja comprada ao Brasil.

Exatamente a mesma opinião manifestada na Canadian Broadcasting Corporation. Não dá para fazer de conta que é “business as usual” no relacionamento comercial com o Brasil, diz a rede oficial.

Se for para fazer “business as unusual”, seria bom combinar com os respectivos investidores. A CBC propõe exatamente o quê? Um boicote preventivo? As mineradoras canadenses vão cair fora voluntariamente?

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A cobertura estrangeira histérica naturalmente reflete os sentimentos de muitos no Brasil, resumidos no Guardian pelo escritor Julián Fuks quando se refere aos “muitos amigos que não conseguem dormir, que choram quando lêem o noticiário, que já estão contemplando horizontes distantes”.

Ele próprio propõe um belo antídoto: “Escrever como nunca antes, produzir livros, peças, filmes, fazer festas, fazer sexo, ter filhos.”

Para artistas e jornalistas, estar na oposição costuma ser um ótimo negócio. E, sem subsidio, muito mais autêntico.

Para investidores chineses, menos é mais, como diria Confúcio.

Brincadeirinha: Confúcio nunca disse isso – se é que se sabe realmente o que ele disse. Mas certamente não recomendaria passar pitos em público num governante de outro país. Além de diplomaticamente impróprio, existem os próprios brasileiros oposição = perdão, resistência – para fazer isso.

 

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