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Guerra corporativa: bancos e empresas perseguem clientes de direita

Nigel Farage, o homem do Brexit, teve contas física e jurídica fechadas sem nenhuma explicação — mas com forte suspeita de que é por suas ideias

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jul 2023, 16h45 - Publicado em 4 jul 2023, 07h36

Pode um banco escolher quem vai ter como cliente com base nas posições políticas do candidato?

Seria uma baderna geral, uma reviravolta nos princípios básicos das sociedades democráticas: todos podem pensar o que quiserem, constrangidos apenas pelos limites da lei, e não o que governos e empresas acham que devem pensar.

Um exemplo: o ex-político britânico e agora apresentador Nigel Farage pode ser execrado no tribunal da opinião pública — em geral de esquerda — por ter defendido o que parecia impossível, a saída do Reino Unido da União Europeia, e também por ter sempre opiniões notavelmente coincidentes com as do governo da Rússia. Se houver qualquer suspeita de que, além da coincidência de ideias, também existe trânsito clandestino de fundos, ele deve ser investigado e, se comprovada a culpa, punido.

Mas, por qualquer critério civilizado que se tenha, ele não pode ser simplesmente banido do banco onde tinha contas na pessoa física e na jurídica desde 1980, como aconteceu na semana passada. Familiares de Farage também perderam as contas e dois parlamentares eleitos para o Parlamento Europeu pelo Partido do Brexit, que nem existe mais, Henrik Overgaard Nielsen e Christina Jordan, revelaram também ter entrado na lista negra logo depois de eleitos, em 2019. O marido e a filha de Christina, uma enfermeira originária da Malásia que saiu da aposentadoria para concorrer pelo partido, também tiveram as contas fechadas.

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Outro caso: um banco do tipo chamado “building society”, modalidade que só existe nas finanças britânicas em que os correntistas ou mutuários são coproprietários, fechou a conta de um cliente que perguntou por que a instituição estava exibindo bandeiras LGBTQIA+ em suas agências. Detalhe: o cliente é o reverendo Richard Fothergill, padre da Igreja Anglicana.

“Só tomaríamos a difícil decisão de fechar uma conta de investimentos se um cliente for rude, abusivo, violento ou discriminatório de alguma maneira, baseados em fatos e comportamento específicos de cada caso”, respondeu o Yorkshire Building Society, que tem 3 milhões de clientes.

Os casos foram considerados suficientemente graves para que o ministro da Economia, Jeremy Hunt, nem remotamente simpático a Nigel Farage, tenha pedido um estudo para recomendar aos bancos que aumentem o prazo da comunicação do fechamento de contas e expliquem os motivos.

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Punir clientes por ter ideias divergentes é uma atitude execrável, mas nada surpreendente, considerando-se que o mundo corporativo passa pela mesma polarização que o resto da sociedade. Com algumas diferenças: os departamentos de Recursos Humanos precisam se desdobrar para proteger as instituições caso sejam processadas por algum tipo de discriminação. Daí, os códigos de ética politicamente corretos e até a contratação de palestrantes espertos, provenientes de minorias, que “ensinam” os funcionários a serem bem enquadrados.

Mais: a maioria dos bancos britânicos faz parte do programa Campeões da Diversidade, criado pela Stonewall, uma organização privada que promove a causa dos transgêneros, mesmo depois que instituições importantes como a BBC e o Departamento de Saúde deixaram de trabalhar com ela por regulamentos como o que define mães como “a figura parental que deu à luz”. A Stonewall faz uma lista de “inclusividade” desses bancos.

Imaginem uma reunião de RH de um banco em que executivos, devidamente doutrinados, resolvem se gostam ou não das ideias desse ou daquele cliente. Acha que mulheres trans não devem participar de esportes femininos? Fora. Não devem cumprir pena em instituições prisionais para mulheres? Fora.

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A politização do ambiente corporativo também produziu anomalias como uma empresa que fez campanha pública contra um ministro de governo.

Parece inacreditável, mas aconteceu na Inglaterra, que copia todos os modismos americanos e acrescenta seus próprios exageros. A Ben & Jerry’s, dos conhecidos sorvetes, fez campanha no ano passado “aconselhando” a ministra do Interior, Suella Braverman, a eliminar seu plano para mandar migrantes clandestinos que pedem asilo ficar em instalações em Ruanda enquanto as alegações eram processadas (o programa foi derrubado na justiça). O fato de que Suella seja mulher e descendente de indianos não conta, obviamente: ela é de direita e tem que ser tratada como inimiga até por sorveteiros.

A Ben & Jerry’s há muito tempo foi vendida para a Unilever pelos fundadores originais, que deram seus nomes a ela e propagaram causas de esquerda, como o boicote a Israel.

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Curiosamente, a Unilever virou alvo de uma campanha de esquerda por não ter encerrado suas atividades na Rússia. Um grande outdoor, imitando as propagandas da Dove, um de seus produtos mais conhecidos, foi colocado em frente à sede da multinacional em Londres mostrando soldados ucranianos com pernas e braços amputados. A empresa é acusada de ajudar a agressão russa com os impostos que paga.

O desejo de parecer “woke” e conquistar um público jovem, em princípio antenado com a multiplicidade de gêneros, fracassou miseravelmente no caso da cerveja Bud Light, já transformado em clássico dos erros de propaganda e marketing. Ao usar a influenciadora trans Dylan Mulvaney, que ridiculariza mulheres em seus posts, a empresa pertencente ao grupo Inbev, dos três conhecidos empresários multinacionais brasileiros, provocou um boicote de dimensões gigantescas. Perdeu 30% das vendas e o lugar de cerveja mais vendida nos Estados Unidos para a mexicana Modelo Especial, além de 27 bilhões de dólares em valor de mercado.

Empresas “woke” e banqueiros de esquerda seriam de dar risada pela pretensão, muito além de fazer bons produtos e cuidar do dinheiro dos clientes, a missão e a obrigação de quem quer ficar bem no mercado. 

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Mas a ideia de que os serviços prestados sejam condicionados às ideias dos clientes é de provocar, muito mais que risadas irônicas, rejeição e horror.

É possível odiar um personagem como Nigel Farage em absolutamente tudo o que diz e faz, mas é impossível discordar dele quando registra que “sem uma conta bancária, você se torna uma não pessoa, incapaz de viver dentro da lei”.

“Se eles estão atrás de mim agora, podem ir atrás de você amanhã”.

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