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Gérard Depardieu de novo na roda: monstro sagrado ou apenas monstro

Artistas franceses defendem o fenomenal e encrencado ator, alvo de múltiplas acusações de abuso sexual e baixarias mostradas em documentário

Por Vilma Gryzinski 27 dez 2023, 08h07

“Não podemos mais ficar calados diante do linchamento desfechado contra ele, diante da torrente de ódio despejada contra sua pessoa, sem nuances, ignorando a presunção de inocência da qual ele se beneficiaria se não fosse o gigante do cinema que é.”

A carta aberta assinada por 56 personalidades ligadas ao cinema, na maioria veteranas como Carla Bruni e Charlotte Rampling, é um daqueles documentos que só pode existir na França, o país onde há maiores resistências ao “tribunal mediático” que envolve celebridades encrencadas em denúncias de abusos sexuais.

Foi lá, por exemplo, que circulou um documento contra o movimento #MeToo, surgido nos Estados Unidos. Em Cannes, Woody Allen e Roman Polanski, com todo seu prontuário, já foram aplaudidos de pé. É como se os franceses estivessem respondendo aos puritanos americanos ou considerando que a arte é maior do que os erros individuais. Gérard Depardieu merece ser perdoado por ser um ator tão magnífico? Picasso, famosamente um canalha com as mulheres, sobreviveu ao ambiente de hoje?

Gérard Depardieu voltou à fogueira pública com um documentário apropriadamente intitulado A Queda do Ogro, no qual são recuperadas cenas em que diz obscenidades impublicáveis. As mais chocantes envolvem seus comentários ao ver uma menina pré-adolescente participando de uma prova de equitação na Coreia do Norte (nem perguntem o que ele estava fazendo lá).

Os comentários referentes mulheres e cavalgada são repugnantes. Mas seriam criminosos? Um homem pode ser condenado por piadas abjetas ditas em particular?

RELAÇÃO DE PODER

O documentário culminou um ano em que, por causa da expiração de um prazo fixado nos Estados Unidos para denúncias de abuso sexual procedentes de mulheres adultas, choveram acusações.

Alguns dos nomes envolvidos: Sean Combs (antes conhecido como Puffy Daddy), Axl Rose, Jamie Foxx, Steve Tyler, Russell Brand e uma longa lista de menos votados. Na política, o ex-governador Andrew Cuomo e o atual prefeito de Nova York, Eric Adams.

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O caso mais recente envolve Vin Diesel (nome verdadeiro: Mark Sinclair) e uma denúncia de um ritual que se repete: homem famoso força subordinadas que trabalham nos bastidores de filmes e shows a aceitar seus avanços. As acusações só aparecem tempos depois, criando a impressão de que as vítimas estavam intimidadas demais pela assimetria na relação de poder – ou, na opinião dos críticos, esperaram até entender as vantagens financeiras que poderiam tirar.

Obviamente, não existe alternativa fora da justiça para definir a culpa, mas a fama dos envolvidos acaba arrastando os casos para o tribunal da opinião pública, turbinado infinitamente pelas redes sociais.

Gérard Depardieu está há muito tempo no olho desse furação. Primeiro, por suas encrencas com o fisco que o levaram a mudar de residência para a Bélgica e, depois, para a Rússia de Vladimir Putin. Em troca de elogios, recebeu um passaporte russo e outras honrarias em 2013. Quando a Ucrânia foi invadida, teve a coragem de dizer que era contra “essa guerra fratricida” e defender negociações.

O fenomenal ator já foi investigado por uma denúncia de abuso sexual em 2018 – com o caso arquivado por falta de provas. Mas a acusação abriu uma porta e surgiram treze mulheres com casos parecidos. A mais recente foi feita em julho e envolve uma assistente de produção que, depois de vários episódios de comentários obscenos e “mãos bobas”, diz ter sido acuada num corredor, onde Depardieu baixou as calças e mostrou o órgão sexual.

“VIVO ESCONDIDA”

De maneira altamente subjetiva, é difícil não ver Depardieu, com sua personalidade excessiva e transgressora, fazendo isso. Mas a atriz Carole Bouquet, que teve um longo relacionamento com o “ogro”, afirmou que ele “é capaz de ser grosseiro e ter um humor limítrofe, mas é incapaz de fazer mal a uma mulher”. Cita como exemplo seus “dez anos de sexualidade” com ele.

A atriz também declarou que “teme por ele” e que o cancelamento em massa “pode matar um homem”.

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O presidente Emmanuel Macron também fez declarações – muito criticadas – de que não pediria a devolução da Legião da Honra de Depardieu enquanto a justiça não se pronunciasse. Também se declarou um admirador do “grande ator”.

Em contrapartida, a atriz Charlotte Arnould, a autora da denúncia inicial, já disse que Depardieu “trabalha enquanto eu vivo escondida e em silêncio. Passo meu tempo sobrevivendo”.

“Fui violentada por Gérard Depardieu em agosto de 2018”, escreveu.

A justiça concluiu que não foi possível “caracterizar as infrações denunciadas em todos seus elementos constitutivos”. Ou seja, o ogro saiu com a ficha limpa.

Em quem acreditar?

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