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Estado fraco, bandidos fortes: Equador é o retrato da América Latina

Prisões tomadas, agentes executados, estado de emergência. Isso é o que acontece quando o poder do narcotráfico não tem controle

Por Vilma Gryzinski 11 jan 2024, 07h36

Um bandido deu um recado direto ao presidente do Equador, Daniel Noboa, que assumiu em novembro e já está com uma crise descontrolada para administrar.

“Assim como você não liga para a vida dos privados de liberdade no Equador, nós também não ligamos para a vida dos seus funcionários: agentes penitenciários e policiais. Seu estado de exceção não nos intimida. Nós já estamos mortos”.

Na verdade, os bandidos estão bem vivos e barbarizando, numa crise que interessa para todos os países latino-americanos, unidos pela maldição do narcotráfico e pelos maiores índices de violência criminal do mundo.

Se está acontecendo em El Salvador, até há não muito tempo atrás um país tão tranquilo que cidadãos americanos se mudavam para lá quando se aposentavam, aproveitando a dolarização e a vida agradável, pode acontecer em outros países com o mesmo perfil: instituições que não funcionam, estado de direito apenas no papel, impunidade generalizada, enorme poder de corrupção do dinheiro fácil das drogas, guerras entre facções e impotência, quando não inapetência, das autoridades para o cumprimento de seu principal dever, garantir a segurança dos cidadãos.

Muitas drogas e estados incapazes fazem com que os piores países do mundo em matéria de criminalidade estejam todos do México para baixo.

IMITANDO BUKELE

Como a matriz dos problemas é a mesma, os semelhantes metem a colher na situação verdadeiramente caótica do Equador, exemplificada pela chocante invasão transmitida ao vivo de uma emissora de televisão pública em Guaiaquil.

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“Nunca foi um passeio no parque”, escreveu, quase enigmaticamente, Nayib Bukele, que se afastou da presidência de El Salvador para simular um distanciamento legal, antes da reeleição garantida no mês que vem.

Bukele é o nome mais invocado quando se trata de mostrar que o crime não compensa: conseguiu poder suficiente para até mudar, legalmente, a constituição e ir para um segundo mandato amparado na popularidade causada por uma intervenção em massa jamais vista na América Latina. Foram mais de 70 mil homens colocados em cadeias especialmente construídas – com injustiças e abusos relevados por uma população que hoje comemora ter se livrado do jugo das gangues.

De campeão mundial de homicídios, com 52 casos por 100 mil habitantes, o país caiu em 2023 para 2,4, “o mais baixo das Américas depois do Canadá”, nas palavras do ministro da Justiça, Gustavo Villatoro.

É claro que Bukele inspirou imitadores, entre eles o próprio Daniel Noboa, que também é jovem – 36 anos – e fez campanha para um mandato presidencial de apenas um ano e meio porque as eleições foram antecipadas – justamente por causa do descontrole na segurança. Noboa prometeu construir até o fim do ano duas grandes prisões ao estilo salvadorenho, mas a crise explodiu antes, com “fugas” de chefes de gangue, tomada de reféns nas prisões, vídeos de execuções que parecem feitos pelo Hamas, saques nas ruas e terror generalizado

“Isto começou há muitos anos, foi um processo de putrefação social e política no qual o crime foi tomando conta do país”, disse a ministra do Interior, Mónica Palencia, em resposta a críticas do ex-presidente de esquerda Rafael Correa, asilado na Bélgica, o que o livra dos oito anos de prisão por corrupção a que foi condenado.

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VEIAS ABERTAS

O debate é exatamente o mesmo que em outros países: políticos de esquerda querem aliviar para os criminosos, vistos como vítimas de uma sociedade injusta, e os de direita pedem leis mais duras. Esta é, evidentemente, uma forma de simplificar problemas de alta complexidade.

Na Colômbia, os termos da discussão são idênticos. O líder do Movimento Nacional de Salvação, Enrique Gómez, resumiu a posição conservadora: “Romantizar os delinquentes, negociar com todos os tipos de criminosos, deixar de aplicar a lei porque se acredita de maneira errônea que os que vivem de fazer mal aos outros querem mudar de vida, faz parte, entre muitos outros fatores, do que acontece hoje no Equador. Quando se tenta retomar a ordem depois de décadas de permissividade, a resposta será sempre violenta”.

Existe uma forma de combater efetivamente o crime sem incorrer em abusos e sem ceder ao poder destruidor do tráfico de drogas e das guerras de gangues, as verdadeiras veias abertas da América Latina?

Noboa propôs na semana passada um referendo sobre onze medidas de endurecimento na repressão ao crime, uso das Forças Armadas, reforma do código penal e aumento das penas para homicídio, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, mineração ilegal e pistolagem. Outras propostas foram acrescentadas ontem.

“É possível combater o crime, ter um sistema de justiça que responda com penas mais duras e criar mais empregos no Equador”, afirmou.

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Não teve tempo de votar suas propostas. Arrastado pelos fatos, Noboa está aplicando algumas medidas em sistema de emergência, incluindo a arma derradeira, a intervenção em massa das Forças Armadas no que foi declarado “um conflito armado interno”. Funcionará contra inimigos que dizem “já estamos mortos”?

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