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Ela é fera: Patricia Bullrich pode ser a próxima presidente argentina?

Derrotar o peronismo seria apenas uma das tarefas da mulher que primeiro precisa ganhar a candidatura pela frente oposicionista de centro-direita

Por Vilma Gryzinski 10 jul 2023, 07h36

Num país de mulheres fortes na política, Patricia Bullrich não faz feio. Ao contrário, abriu a cotovelas um espaço que parecia impossível e agora quer continuar distribuindo pancadas até chegar à Casa Rosada.

Disse ela no lançamento do vídeo da campanha que faz para ser eleita, nas primárias de 13 de agosto, a candidata a presidente da coalizão oposicionista Juntos pela Mudança:

“Se estivéssemos num país normal, talvez fosse suficiente um bom administrador ou um teórico da economia. Mas não estamos vivendo num país normal. Estamos vivendo na Argentina”.

As referências, sem nomes, são a seu principal adversário no Juntos, Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aires, visto como um político estável e equilibrado — embora as provocações de Patricia o tenham tirado um pouco do sério. Com mais longo alcance, ela também inclui no pacote o ultraliberal Javier Milei, um fenômeno populista com propostas econômicas tão estonteantes que as chama de “projeto motosserra” (e talvez um caso psiquiátrico: segundo uma nova biografia, ele disse que já viu “três vezes a Ressurreição de Cristo, mas não posso contar; diriam que estou louco”).

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Milei refluiu e agora está envolvido num escândalo de acusações de venda de candidaturas pelo partido que criou do nada, A Liberdade Avança. Com o refluxo de Milei, Patricia Bullrich é a mais beneficiada pelos votos de um eleitorado mais inclinado à direita.

As palavras finais de seu vídeo de campanha não poderiam sintetizar melhor a mensagem conservadora: “Ordem, coragem, valentia e decisão”.

Essa imagem de boa de briga, construída quando foi ministra da Segurança de Mauricio Macri, é uma das maiores vantagens de Patricia. E, também, seu ponto fraco. O estado de permanente e extrema polarização da Argentina pode cansar ou assustar eleitores de um país em que até o fraco Alberto Fernández deu de fazer declarações destemperadas. Como ele apenas faz de conta que governa, estando o verdadeiro poder político e de decisão dividido entre a vice que o elegeu, Cristina Kirchner, e o ministro da Economia e candidato de união do peronismo, Sergio Massa, o que Alberto diz conta pouco.

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Patricia e Larreta estão empatados na casa dos 15% dos votos, o que aumenta a emoção sobre o resultado das primárias.

O estilo de Larreta é mais discreto, mas não pode fugir da briga quando Patricia o chama para a arena — da última vez, disse que era um aproveitador e oportunista por criticar o governo Macri e dizer que não ia seguir seus passos. Macri deu terrivelmente errado e não é um exemplo a ser imitado, com toda certeza, mas pobre de quem quer ver lógica no debate político argentino.

Parte da segurança da pré-candidata, que é senadora pelo PRO — Proposta Republicana — vem de berço, tendo nascido Patricia Bullrich Luro Puyrredón, sobrenomes importantes da política argentina e da elite agrária — o Bullrich vem da família paterna, que havia sido proprietária da casa de leilões de gado onde depois foi construído o shopping center que todos os brasileiros que vão a Buenos Aires conhecem.

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A candidata já abriu seu apartamento, um imóvel de classe média todo decorado em branco de 120 metros quadrados, bem arrumado mas nada luxuoso. Não esconde a origem. Também não esconde a original trajetória: filha da elite, como tantos outros jovens argentinos aderiu à esquerda, mas jura nunca ter militado nos Montoneros, grupo armado do qual seu cunhado, Gerardo Rico, era um dos principais dirigentes.

Ficou exilada nos anos terríveis da ditadura no Brasil, México e Espanha. Voltou à Argentina e foi eleita deputada pelo peronismo, o que lhe dá a vantagem de conhecer por dentro a máquina populista.

A esquerda não perdoa a “traição”. Um de seus integrantes, o jornalista Juan Gasparini, diz que ela “foi uma das principais incentivadoras”, durante o exílio na Espanha, da trágica contraofensiva montonera lançada contra o regime militar em 1979, que dizimou a organização peronista de esquerda. “Mas na hora de subir no avião, saiu correndo”.

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Muito do estilo agressivo da candidata certamente remonta à época da militância esquerdista, um fértil terreno que já deu à Argentina Eva Perón e Cristina Kirchner (a direita peronista deu Isabelita Perón, presidente depois da morte do marido, mas ninguém quer recordar esse pesadelo). Diga-se o que for de Cristina, é impossível deixar de reconhecer que é forte, carismática e hábil nas negociações políticas. Agora, está apoiando Sergio Massa, tendo desistido, inteligentemente, de seu predileto, o sem chances Wado de Pedro.

O peronismo vê a eleição como uma luta pela sobrevivência e, na hipótese de que Patricia Bullrich ganhe a candidatura, será uma luta feroz, com todo tipo de golpe sujo da longa lista em que o curioso partido, uma incompreensível, a olhos estranhos, mistura de diferentes forças políticas, é mestre.

“Eu poderia ter feito uma carreira diferente no Partido Justicialista, fechar os olhos e não escutar muitas coisas”, já disse ela.

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De olhos bem abertos, está travando um embate daqueles com Rodríguez Larreta. A imagem de durona, remontando à época em que saía de uniforme camuflado quando era ministra da Segurança, ajuda num momento em que a criminalidade se espalha em níveis brasileiros pela outrora segura Argentina e está no alto da lista de preocupações da população — só não ocupa o primeiro lugar porque a inflação de mais de 100% não deixa.

Temos assim uma situação tipicamente argentina: o candidato do governo esquerdista é o ministro que preside a emergência econômica e tem o apoio dos mercados, a candidata da direita foi militante de esquerda e o candidato alternativo, tendo construído sua fama meteórica como alternativa radical ao sistema, aparece na mais tradicional das maracutaias, a venda de candidaturas.

Definitivamente, não é um país normal, como disse Patricia. Horacio Rodríguez Larreta tem a seu favor o perfil menos tempestuoso. Mas isso também pode contar pontos contra. Como debater racionalmente, por exemplo, com um candidato como Javier Milei?

“Milei provavelmente não é o único candidato argentino que não passaria numa perícia psicológica”, escreveu Jorge Fernández Díaz no La Nación sobre a nova biografia do “anarcocapitalista”, intitulada, simplesmente, O Louco.

É nessas horas que se pensa em Patricia Bullrich.

Quem pode lidar com Milei e querer ser presidente de um país onde a taxa de juros básicos está a 97% e o ministro da Economia é considerado um candidato viável? Pois é o tipo de situação em que Patricia Bullrich se sente confortável. Governar, evidentemente, seria um jogo muito diferente.

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