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Ela abortou sua filhinha perto dos nove meses de gestação. O que merece?

Caso de Carla Foster, condenada a dois anos e quatro meses de prisão na Inglaterra, desencadeia um debate sem respostas fáceis

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 16 jun 2023, 16h41 - Publicado em 16 jun 2023, 07h11

Com um tempo de gravidez calculado entre 32 e 34 semanas, Carla Foster mentiu para a enfermeira com quem falou por telefone durante a pandemia. Disse que estava com menos de dois meses. Recebeu os medicamentos abortivos pelo correio em maio de 2020. Tomou-os e entrou em processo de parto, tendo uma menina perfeitamente bem formada que nasceu morta.

Na segunda-feira passada, Carla Foster, agora com 44 anos, recebeu a sentença. Vai ter que cumprir em reclusão pelo menos a metade dos 28 meses a que foi condenada, período durante o qual seus três filhos ficarão sem a mãe.

O que o leitor faria nesse caso? O que é justo, certo, ético? Como deixar de pensar na mãe e como deixar de pensar na bebezinha morta no ventre?

Com maior capacidade de mobilização, defensoras do aborto estão tentando transformar Carla em mártir e mudar a legislação britânica, que já é extremamente liberal. Desde 1967, mulheres com até 24 semanas de gravidez — seis meses, um prazo em que prematuros têm chances de sobrevivência — estão protegidas de ser processadas. Nos casos de risco à vida da mãe e anomalias fetais, não há prazo.

Carla tem uma família unida, com pai e três irmãs, e trabalha num abrigo para animais, mas estava numa situação complicada: tinha voltado a morar com o companheiro, de quem havia se separado, por causa da pandemia, em Barlaston, uma cidadezinha do interior da Inglaterra. Não sabia se a criança era dele de um outro relacionamento. Tentou esconder a gravidez. Fez buscas na internet com perguntas do tipo “como perder um bebê com seis meses?”. Depois, “preciso de um aborto, mas já passei dos seis meses”.

A necrópsia da bebezinha indicou morte por substâncias abortivas.

O juiz Edward Pepperall lembrou que ela sabia da gravidez desde dezembro de 2019, mas só entrou em contato com o Serviço de Aconselhamento de Gravidez em maio de 2020.

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Parlamentares e militantes feministas acham que Carla é vítima de um sistema que criminaliza uma mulher numa situação difícil. “Fez um aborto sem seguir os procedimentos corretos”, amenizou Stella Creasy, integrante do Parlamento pelo Partido Trabalhista. Obviamente, a expressão “procedimentos corretos” envolve matar um feto perfeitamente viável, com todas as probabilidades de ter pais adotivos brigando para lhe oferecer o que Carla achou que não podia dar.

Na justiça britânica, os juízes falam extensamente sobre suas sentenças e muitas vezes dão lições diretamente aos réus. No caso de Carla. Pepperall argumentou que não havia jurisprudência e que, teoricamente, poderia condená-la até à prisão perpétua.

“Você tinha um apego emocional forte por sua criança não nascida e é atormentada por pesadelos e flashbacks em que vê o rosto de sua criança morta”, disse ele. O juiz também registrou que Carla tem um filho com necessidades especiais.

O que Carla merece: compaixão ou punição por matar a própria filhinha?

Como envolve uma situação única, sem comparação com nenhum outro crime — uma mulher e um feto que se desenvolve em seu corpo, ardorosamente amado quando ela quer ser mãe, fortemente rejeitado quando ela não quer —, o aborto é um ato que não tem respostas fáceis. A gravidez e sua interrupção acontecem num espaço gradualista e muitos tendem a ter uma ética equivalente: admitem o ato, que obrigatoriamente acaba com uma vida em formação, quando a gestação está no começo. Só os muito radicais acham que, até o momento do parto, a mulher tem direito a fazer um aborto.

Em 2021, 89% dos abortos feitos na Inglaterra foram com menos de dez semanas de gravidez. O apoio à lei tal como existe atualmente é enorme: 85% da opinião pública. Como somos humanos, muitos provavelmente não querem saber dos detalhes tétricos — fetos esmigalhados por sucção e tirados aos pedaços do corpo da mãe.

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Os medicamentos abortivos acabaram com muitas das operações mais chocantes. Ao mesmo tempo em que os abortos se refinaram, as técnicas de imagem da vida intrauterina avançaram a ponto de mostrar traços definidos do rostinho, do narizinho, do dedinho na boca de um feto de 5,4 centímetros — o tamanho médio aos três meses de gravidez.

A ciência corre em outros sentidos também e a discussão do momento é a criação, em Israel e na Inglaterra, de embriões “sintéticos”. Por causa disso, foi lembrada uma frase do embriologista britânico Lewis Hoppert: “O momento mais importante da sua vida não é o nascimento, o casamento ou a morte, mas a gastrulação”. Esse momento ocorre aos catorze dias do encontro entre um espermatozoide e um óvulo e a partir do conglomerado de algumas centenas de células é traçado o primeiro esboço do indivíduo único que irá se desenvolver no útero.

O que mais a ciência nos revelará?

Há pessoas que passaram a vida inteira sem parar para pensar na defesa ao aborto — e mudaram de ideia quando se depararam com os fatos que a honestidade intelectual demanda ou a ciência apresenta. Outras acham um atraso de vida sequer discutir a questão. Consideram que aborto é sinal de progresso social ou, fatalisticamente, que sempre vai acontecer, seja legal ou não.

Onde o caso de Carla Foster se encaixa?

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