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Drogas, crime, sem teto e degradação urbana? É nos Estados Unidos

Num fenômeno de amplo espectro, que vai da proteção a drogados a ativistas judiciais a favor de criminosos, cidades americanas pagam um preço alto

Por Vilma Gryzinski 22 jun 2022, 07h56

O que fazer com drogados terminais ou vítimas de doenças mentais que acabam nas ruas, levando vidas miseráveis e arredios a ajuda para sair dessa condição?

É uma das perguntas mais difíceis de responder e um teste para nossa humanidade. Todo mundo é humanista até ser intimidado por um pedinte ou ver sua rua transformada em fossa séptica. 

Mas o fato é que as cenas de degradação que, infelizmente, se tornaram tão frequentes em centros urbanos brasileiros agora se espalham por um país rico e desenvolvido como os Estados Unidos.

O problema, obviamente, tem causas múltiplas, inclusive falhas nas redes de proteção social. Impossível é deixar de ver que “soluções” como a liberação das drogas, apresentada por seus defensores como uma saída mágica, e o ativismo judicial que se propagou pelas máquinas da administração pública estão contribuindo gravemente para piorá-lo.

Cidades que eram associadas a tudo de bom que o modo de vida americano produz, como Los Angeles, São Francisco e Portland, hoje têm áreas intensamente degradadas.

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Portland, do progressista estado de Oregon, pioneiro na liberação das drogas, incluindo heroína, uma espécie de crack dos países ricos, teve 1069 mortes do overdose no ano passado, um aumento de 40% em relação a 2020.

O tráfico sem repressão, o uso irrestrito de drogas e a população de pessoas sem teto nem esperança produzem o mesmo que qualquer cracolândia brasileira: cenas deprimentes de viciados completamente atordoados, ruas fétidas e a sensação de que seus infelizes habitantes estão num beco sem saída.

Os republicanos não deixam esquecer que as grandes cidades americanas têm todas décadas de prefeitos democratas que seguem exatamente o oposto da “tese das vitrines quebradas” com a qual Rudy Giuliani controlou a criminalidade na Nova York dos anos oitenta. Segundo ela, até os delitos mais banais, como quebrar a vitrine de uma das lojinhas típicas dos bairros americanos mais pobres para roubar bebidas e pequenos objetos, devem ser investigados e punidos, propagando a percepção de que a lei está vigorando.

Contra ela se levantaram os ativistas judiciais para os quais a injustiça social pune excessivamente os mais pobres e menos brancos. É evidente que estas camadas são as que mais enchem as cadeias, mas a solução seria punir menos para não agravar injustiças sistêmicas?

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É outra pergunta complicada. A realidade tem mostrado que as teses propugnadas pelos ativistas judiciais não estão funcionando.

O caso mais conhecido do momento é o de George Gascon, o District Attorney de Los Angeles, ou chefe da Promotoria ou secretário da Justiça, um cargo escolhido pelo voto direto da população nos Estados Unidos.

Tradicionalmente, era eleito o promotor que prometesse mais dureza no trato com o crime. As mudanças sociais – e a influência de defensores de causas progressistas como George Soros – favoreceram a a votação em ativistas que defendem os criminosos.

Não é exagero retórico. Imediatamente depois de assumir, Gascon, filho de imigrantes nascido em Cuba, divulgou nove orientações a seus onze mil subordinados, incluindo a proibição de agravantes para crimes particularmente brutais. Um homicídio altamente qualificado, que poderia render prisão perpétua na Califórnia, passou a ter pena máxima de 25 anos, com possibilidade de redução para 20.

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Ainda uma dureza em termos brasileiros, mas particularmente revoltante para familiares de vítimas de crimes hediondos.

Gascon qualificou a promotoria como uma organização dedicada ao “aprendizado que acredita na redução do encarceramento”. E provou: criou uma força-tarefa para a revisão de sentenças de 20 mil condenados.

“Na visão distorcida de Gascon e seus apoiadores, são os perpetradores que cometem crimes violentos a quem eles consideram as vítimas”, disse a Peter Savodnik, do Substack, um dos integrantes da promotoria, John Lewin. “Eles não fazem distinção entre os indivíduos que cometem a violência e os indivíduos que a sofrem”.

Nem é preciso dizer que esta visão também se dissemina no Brasil, sob o falso pretexto da justiça social.

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Atualmente, corre um abaixo assinado para fazer o recall de Gascon. Precisa de 566 857 assinaturas até 6 de julho. Já tem mais de 500 mil. Até promotores de tendência progressista são a favor do recall. Isso num estado em que existe uma lei, aprovada nas urnas, proibindo que furtos, cheques sem fundo e receptação no valor de até 950 dólares sejam enquadrados como crimes.

Em São Francisco, o chefe da promotoria Chesa Boudin que seguia o mesmo modelo que Gascon, com o agravante de ser admirador de Hugo Chávez, já foi tirado por meio do recall.

As cenas mostradas em câmeras de segurança mostrando a tranquilidade com que ladrões , certos da impunidade, limpam prateleiras de lojas de produtos de luxo – claro que a serviço de gangues organizadas – são impressionantes.

O aumento da criminalidade, um fenômeno num país onde os índices caiam sistematicamente desde os anos noventa, é um dos fatores que pode pesar contra candidatos democratas na eleição de novembro para o Congresso. Em algumas cidades, os homicídios tiveram um aumento de 25%.

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Como em qualquer país, quem mais sofre com a criminalidade são os mais pobres, submetidos à lei das gangues e ao temor de ver seus filhos tragados pela bandidagem.

Ironicamente, muitos imigrantes clandestinos, especialmente da América Central, vão para os Estados Unidos em busca de uma vida sem esses riscos.

A qualidade de vida e a segurança, em grande parte do país, continuam a ser admiráveis. Mas a degradação de áreas urbanas e a falácia de que criminosos são as verdadeiras vítimas estão plantando pequenas Honduras no coração da superpotência americana.

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