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Dilema: se atacar Rafah, Israel se isola; se não atacar, Hamas se recupera

O nível de vítimas entre a população civil se torna intolerável para aliados, mas israelenses ainda estão unidos sobre necessidade do ataque final

Por Vilma Gryzinski 21 mar 2024, 06h38

Pode Benjamin Netanyahu ir diretamente contra Joe Biden e liberar o ataque ao último reduto do Hamas, em Gaza?

A questão, obviamente, é gigantesca. Remover 1,5 milhão de refugiados que se concentram na cidade do sul em condições minimamente aceitáveis é quase impossível – ou no mínimo levaria um tempo enorme. As condições de sobrevivência são extremas e até os países que torcem, aberta ou secretamente, para que Israel desconstrua o Hamas não aceitam o potencial de um número grande de novas vítimas entre a população civil.

Joe Biden já disse que seria “um erro” atacar o Hamas em Rafah e Chuck Schumer, o senador democrata com grande influência na política externa, pediu nada menos do que a cabeça de Netanyahu, chocando não apenas israelenses, mas judeus, como ele, em todo mundo.

Schumer joga para a plateia: é informadíssimo sobre o assunto e sabe que a liderança israelense, inclusive os representantes da oposição ao primeiro-ministro, está fechada na necessidade de não permitir que o Hamas se reconstitua e volte a ameaçar as regiões fronteiriças de Gaza com Israel. Segundo o cálculo de um ex-dirigente do Shin Bet, a agência nacional de segurança, a organização terrorista ainda tem 10 mil homens armados. Não seria nada difícil recrutar novos braços, considerando-se o nível de destruição e desespero no território.

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Também sabe que a maioria da opinião pública israelense acha que o resto do mundo esqueceu as atrocidades sofridas no ataque de 7 de outubro e considera vital não deixar o Hamas sair dos túneis cantando vitória.

DIVISÕES INTERNAS

O único ponto em que há mais divisões é, previsivelmente, a questão dos reféns. Familiares criaram um movimento importante para reivindicar um acordo – qualquer acordo – que traga as vítimas de volta. Inevitavelmente, culpam o governo por não fazer isso – e a cada ataque a Netanyahu, o custo da libertação dos reféns sobre. Embora haja exceções, como o pai de Liri Elbag, a mais jovem das catorze mulheres que continuam presas nos túneis de Gaza. “Netanyahu está empenhado, estão todos empenhados”, disse Eli Elbag.

A exceção são os integrantes de extrema direita do governo, como o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich. Recentemente, ele disse que “recuperar os reféns não é o objetivo mais importante da guerra”.

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Por mais terrível que seja para um pai como Elbag ouvir isso – imaginem saber que sua filha de 19 anos está no cativeiro há mais de cinco meses, sofrendo todo tipo de abusos -, o fato é que os reféns não podem ser a única prioridade.

Eles são também a mais importante vantagem política e militar do Hamas – a segunda, em importância, é o próprio sofrimento da população de Gaza. Quanto mais sofrem, mais Israel é pressionado, e isso coincide com os objetivos do Hamas de obter a suspensão das ações militares.

É difícil imaginar uma situação em que todos sejam liberados, via negociação ou pela força. Quanto mais divisões internas o drama provocar, melhor para o Hamas.

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ALIANÇA TEMPORÁRIA

A situação humanitária da população de Gaza também está produzindo divisões. Segundo o bem informado analista militar do Jerusalem Post, Yonah Jeremy Bob, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, mudou de posição e agora favorece, contra a opinião de Netanyahu, que a Autoridade Palestina forme uma força policial de cerca de sete mil integrantes e assuma o básico da segurança pública e da caótica distribuição de alimentos em Gaza.

Benny Gantz, o líder da oposicionista União Nacional, que integra o governo de emergência e aparece nas pesquisas como o mais provável substituto de Netanyahu, também favorece esta opção.

Uma alternativa cogitada seria formar uma aliança temporária com os clãs de Gaza, organizações parecidas com tribos e de bastante importância no território. “Parte do problema é que chefes dos clãs foram assassinados pelo Hamas”, anotou o analista.

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A hipótese de um governo com pessoas locais e participação de países árabes aliados voltou a circular, com uma reportagem do Wall Street Journal a respeito. Que países árabes garantiriam a segurança em Gaza, sabendo que qualquer soldado estrangeiro se transformaria imediatamente em alvo do Hamas?

Entre os palestinos também grassam as inimizades. O Hamas poderia simplesmente condenar, da mesma maneira que fez com os clãs, uma intervenção dos “irmãos” da Cisjordânia em Gaza. A rivalidade com o Fatah, o movimento armado criado por Yasser Arafat, que sustenta a Autoridade Palestina, não foi absolutamente esquecida. Em 2006, o Hamas massacrou, literalmente, o Fatah em Gaza, numa violenta miniguerra civil.

“ALGUM TEMPO”

Agora, criticou cruamente a escolha de um novo primeiro-ministro da AP, Mohammad Mustafa. O Fatah respondeu que o Hamas “embarcou numa aventura” em 7 de outubro que teve resultados piores do que a nabka, como chamam a derrota sofrida pelos árabes para Israel logo no nascimento do país, em 1948.

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Tentando resumir questões de alta complexidade: Israel não pode atacar Rafah e, ao mesmo tempo, não pode não atacar. Falta um plano para estabilizar Gaza minimamente e acudir a emergência humanitária. Judeus e palestinos têm profundas divisões internas. Israel não pode perder o apoio dos Estados Unidos e, num sinal disso, Netanyahu disse ontem que a ofensiva final vai “levar algum tempo”. Israel também não pode assumir a administração direta do território e não tem quem colocar para fazer isso.

Não existe resultado inconclusivo: mesmo com as grandes perdas já infligidas ao Hamas, interromper a guerra seria dar um trunfo ao Hamas. Não interrompê-la pode destroçar Israel.

Quanto pior for o quadro geral, melhor para o Hamas.

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