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Da linha leninista-humorista, líder do Equador dá outro salto

Depois de fazer uma manobra para a direita, presidente Lenín Moreno dobra o jogo pesado ao acabar com a encenação de Julian Assange

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 11 abr 2019, 11h58 - Publicado em 11 abr 2019, 10h28
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  • Quando era de um governo bolivariano e levava a aura de herói pelos direitos dos deficientes, baseado em sua própria experiência como vítima de um assalto que o deixou paraplégico, Lenín Moreno recebia tratamento de luxo por parte da esquerda.

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    Eleito presidente, virou um traidor para os antigos companheiros. Desmontou a ficção desenvolvimentista criada pelo homem de quem foi vice, Rafael Correa – batizada de Revolução Cidadã e movida ao conhecido método odebrechtiano -, incentivou as investigações de corrupção e apoiou os principais vizinhos no cerco à Venezuela madurista.

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    Ao acabar, sem nenhuma surpresa, com a encenação de Julian Assange, que há quase sete anos se passava por vítima no imperialismo americano na embaixada do Equador em Londres, aumentou o dilema em que progressistas de variadas tendências se debatem.

    Para a esquerda mais realista, o australiano do Wikileaks, que está parecendo o Velho do Rio, demonstrou sucessivamente que não é o idealista desbravador de segredos governamentais. Pelo menos se estes segredos envolverem a Rússia de Vladimir Putin.

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    A má fama nesse setor aumentou depois da divulgação dos emails da campanha de Hillary Clinton. Assange não só foi acusado de detonar deliberadamente a candidata perdedora como de conspirar com a turma de Donald Trump.

    O Guardian, bastião natural de todas as causas esquerdistas, chegou a publicar uma reportagem dizendo que o hoje hóspede do sistema prisional americano Paul Manafort visitou a embaixada do Equador para falar com Assange durante o breve período em que chefiou a campanha de Trump.

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    Não apareceu nenhum indício de que fosse verdade. Manafort foi condenado por sonegação, lavagem de dinheiro, ocultação de bens e outras malandragens, apesar de todas as investigações que pretendiam enquadrá-lo como elo de agentes russos com Trump.

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    Para outra parte da esquerda, inclusive a sempre atrasada latino-americana, Assange continua a ser um herói, envolvido por duas loiras suecas em falsas acusações de abuso e estupro – é isso que dá só acreditar em mulheres quando estão do “nosso” lado.

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    A armadilha feminina seria um jeito maquiavélico de levar Assange para a Suécia e, daí, extraditá-lo para os Estados Unidos, onde pegaria sentença de morte.

    Não obstante, naturalmente, os fatos. Os últimos executados por espionagem nos Estados Unidos, em 1953,  foram Ethel e Julius Rosenberg, o casal que comprovadamente passou segredos da bomba atômica para a União Soviética.

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    Chelsea Manning, quando ainda era um soldado chamado Bradley, recebeu anistia do presidente Barack Obama. Foi ela quem copiou mais de 750 mil documentos sobre atividades militares, diplomáticas e de inteligência dos Estados Unidos e passou para o Wikileaks.

    Era do Exército e ocupava uma posição menor como analista de inteligência no Iraque. Na prisão, declarou-se mulher e fez a transição. Obama comutou a pena de 35 anos para os sete que ela já havia cumprido. Hoje dá palestras e quer entrar para a política.

    Os dois países envolvidos, Suécia e Reino Unido, onde Assange passou rasteira na justiça e se asilou na embaixada equatoriana, já garantiram que não pretendem extraditá-lo. O caso por violência sexual inclusive já caducou.

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    Mas manter o mito do gênio bonitão, libertário e perseguido pelos americanos malvados virou uma espécie de jihad esquerdista. Até Pamela Anderson se tornou uma partidária em peregrinação à embaixada santificada pela presença do ídolo, garantida pelo antiamericanismo infantil de Rafael Correa, o presidente de quem Lenín Moreno foi vice.

    Com seu nome impressionante – Lenín Boltaire, o primeiro escolhido pelo pai, o segundo, pela mãe – e uma história mais espetacular ainda, ele conseguiu superar o trauma de ficar paraplégico num assalto quando ia para a padaria usando a “terapia do riso”.

    Escreveu livros de autoajuda, passou a fazer palestras motivacionais, entrou para a política e descobriu os horrores da mistura de deficiência com pobreza ao fazer um levantamento nacional.

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    “Não imaginávamos o que iríamos descobrir: seres humanos abandonados em buracos na terra, em gaiolas, com o silêncio como companhia e a morte como única esperança”, disse numa entrevista ao New York Times.

    Sobre a mudança nos rumos ideológicos do governo, ao qual chegou com o apoio do hoje inimigo jurado Rafael Correa, já disse que não está conduzindo o país  da esquerda para a direita, mas “à serenidade”.

    “O socialismo tal como estudamos e praticamos no século passado caiu em desuso”, resumiu.

    Num caso de repercussão mundial que envolve Donald Trump, Vladimir Putin, Julian Assange e a esquerda mundial, dividida entre o apoio automático ao australiano e o medo de parecer comprometida com um homem que ajudou a eleição do presidente americano, o cadeirante defensor do leninismo-humorismo tem no momento tudo, menos serenidade.

    Obviamente, em muito pouco tempo o Equador, com seu povo tão amável e seus problemas tão insolúveis, voltará à obscuridade habitual. E ao exotismo de ser o único país a abrigar um Lenín de direita.

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