Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Chile e Colômbia: propostas radicais da nova esquerda antecipam futuro?

A nova constituição chilena não está passando no teste da opinião pública, mas as ideias surgidas nela indicam um caminho que não será fechado

Por Vilma Gryzinski 24 ago 2022, 08h03

Que tal legalizar a maconha e a cocaína, “dialogar” com narcotraficantes e narcoguerrilheiros, aumentar o imposto de renda em 200% e transferir a polícia para um futuro Ministério da Paz, Convivência e Segurança?

Estas são algumas das ideias que circulam no novo governo esquerdista colombiano, chefiado por Gustavo Petro, e em seu entorno.

São muito mais radicais do que qualquer coisa que Hugo Chávez tenha feito na vizinha Venezuela quando começou seu longo percurso no poder.

Como o mau exemplo é muito próximo, talvez exista alguma esperança de que a Colômbia não entre para o mesmo caminho de autodestruição do vizinho.

Continua após a publicidade

A experiência indica que maus exemplos raramente impedem a visão ideologizada do mundo que leva ao cometimento dos mesmos erros.

Sem contar que Chávez arruinou a indústria petrolífera ao baixar a mão pesada do Estado e fatiá-la entre seus apaniguados. Não pretendia incapacitar o país a ser um grande produtor, embora este tenha sido o resultado. Petro quer acabar com o petróleo em si mesmo: é contra a própria extração do combustível fóssil, pretendendo substituí-la pela indústria do turismo.

A convicção ecológica também levou os constituintes chilenos a estabelecer direitos para a Natureza – não mais apenas para os humanos que habitam o lindo e variado território do Chile, embora obviamente não falte uma longa lista de direitos nos seus 388 artigos.

Continua após a publicidade

Constituição muito longa e cheia de minúcias atrapalha, em vez de ajudar – e não faltariam conselhos por parte de quem viveu esse processo.

Mas o novo texto constitucional avança sobre outros terrenos explosivos. O Chile passaria, por exemplo, a ser um estado plurinacional, como a Bolívia. O Poder Judiciário seria substituído pelo conceito de pluralismo jurídico, para acomodar uma justiça paralela para os povos indígenas. Pela proposta de equidade de gêneros, as mulheres seriam obrigatoriamente 50% de todos os integrantes de serviços públicos – ou seja, somente homens poderiam ser minoritários.

As propostas mais radicais foram abrandadas por promessas de mudanças feitas pelo presidente comunista, Gabriel Boric, quando viu que era grande a resistência à nova constituição.

Continua após a publicidade

Mesmo assim, ela continua forte: segundo todas as pesquisas, existe em média uma diferença de 10% em favor da rejeição no plebiscito do próximo dia 4.

É importante lembrar que o processo de reforma constitucional e a eleição dos constituintes foi democrático e produzido por um acordo nacional depois da grande explosão de protestos de 2019. Boric, também eleito democraticamente, está fazendo o que prometeu.

Mas uma parte da população chilena parece estar sofrendo de remorso do cliente, o arrependimento que se segue a uma compra por impulso.

Continua após a publicidade

A direita, que sempre foi forte no Chile, e uma parte da centro-esquerda são contra a reforma constitucional tal como está apresentada.

Antes um assunto localizado, a questão indígena também virou um tema nacional. Existe um grupo radical de indígenas da etnia mapuche que prega a violência, invade terras, incendeia propriedades e bloqueia estradas no sul do país.

Logo que assumiu, em março, Boric mandou a ministra do Interior, Izjia Siches, abrir um diálogo com os mapuches rebelados. Foi recebida a bala. Com a popularidade em queda e uma crise real de segurança, o presidente foi obrigado a decretar a militarização da região, a mesma que sempre criticou. Militarização significava colocar as forças armadas para patrulhar estradas.

Continua após a publicidade

Apesar de recuos eventuais, propostas como as Gustavo Petro e Gabriel Boric são uma realidade no ambiente político atual da América Latina, onde a massa de pobreza continua a ser uma reserva de insatisfação até em países que pareciam encaminhados para criar um processo de desenvolvimento bem distribuído.

Abraçar causas ecológicas, às vezes até com mais ênfase do que os ecologistas tradicionais, e temas como a questão indígena e a equidade de gêneros foi incorporado ao discurso esquerdista que tem muito apelo às camadas mais jovens.

Gustavo Petro foi da luta armada e colocou um ex-companheiro, Manuel Alberto Casanova, no comando do serviço de inteligência da Colômbia. Ele também acha chique consultar Thomas Piketty, o francês do Capital no Século XXI. Será um feito se ideias que circularam no século XX e até no XIX não arrastarem a Colômbia para o vórtice para o qual foi sugada a Argentina

Ninguém pode esquecer que, quando Alberto Fernández propôs um imposto único sobre fortunas, muita gente achou uma excelente ideia.

A nova esquerda tem muito a aprender com a velha sobre o que não fazer.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.