A proposta já vem com todas as contestações embutidas.
O que fazer quando uma mulher for estuprada? Uma criança sequestrada? Um transexual assassinado? Ou um negro sofrer um ato violento de racismo?
ASSINE VEJA
Clique e AssineDepois de levar uma vaia monumental durante um protesto, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, mudou de posição e anunciou solenemente que os formidáveis seis bilhões de dólares destinados ao policiamento da cidade serão destinados a programas sociais.
Esperem aí: Nova York sem polícia? O sujeito está maluco?
Possivelmente sim, mas não sozinho.
O Conselho de Minneapolis, equivalente a uma Câmara de Vereadores, sem as mordomias, já aprovou o “desfinanciamento” da polícia.
Foi em Minneapolis que tudo começou, com a morte revoltante de George Floyd, pela qual os quatro policiais envolvidos estão presos e, se não fizeram um acordo, serão levados a julgamento.
Lá também, o prefeito moderninho, Jacob Frey, levou a maior vaia quando disse, numa manifestação, que não estava preparado para cortar a verba destinada à polícia.
No início dos protestos, Frey mandou a polícia abandonar a Terceira Delegacia e fugir diante dos manifestantes que incendiaram tudo.
Equivaleu a uma espécie de carta branca para incêndios e saques que se propagaram pelo país.
No velório de Floyd, o prefeito ajoelhou-se e chorou de soluçar, causando um certo espanto entre os presentes, todos negros.
Nada disso adiantou quando sofreu sua sessão pública de reeducação, à moda da Revolução Cultural.
Quem está por cima agora é o Conselho Municipal.
“Nós reconhecemos que não temos todas as respostas sobre como seria um futuro sem polícia, mas a nossa comunidade tem”, manifestou-se o Conselho.
Sua presidente, Lisa Bender, tentou esclarecer.
“Isso pode deixar algumas pessoas nervosas. E se alguém invadir a minha casa no meio da noite,? Vou chamar quem?”, perguntou a ela, toda cheia de dedos, uma apresentadora da CNN.
Numa resposta enroladíssima, Lisa Bender argumentou duas coisas:
Primeiro, chamar a polícia envolve pessoas privilegiadas (más, perversas e racistas, de acordo com o novo manual da vitimologia).
Segundo, quem quer chamar a polícia tem que entender que ela pode causar mais danos.
Resumo: ninguém que defende a proposta estapafúrdia sabe responder como seriam tratados os crimes. Mas sabe que a polícia tem que ser eliminada.
A proposta está sendo defendida a sério pelo Black Lives Matter, aproveitando o momento de paroxismo jacobino que os Estados Unidos estão vivendo.
Um exemplo dessa embriaguez jacobinista: o chefe de polícia de Massachussetts, Michael Shaw, foi “instado”por uma multidão de manifestantes a passar oito minutos deitado de bruços na rua, numa simulação da morte de Floyd.
Percebendo como uma maluquice desse nível poderia prejudicá-lo eleitoralmente na disputa com Donald Trump, Joe Biden, o candidato democrata, disse através de assessores que “não acredita na eliminação da polícia”.
A divisão do país em dois campos, os que querem abolir a polícia e os que preferem o império da lei e da ordem, favoreceria Donald Trump exatamente num momento em que ele parece mais enfraquecido do que nunca, chegando em algumas pesquisas abaixo da linha dos 40% de votos em novembro.
Comparada com padrões europeus, a polícia americana é violenta. Só na primeira metade desse ano, 429 foram mortas em situações de confronto. Desses, 88 eram negros, segundo o site Statista.
No ano passado, o total deu 1.004 (no Brasil, foram 5.804).
A ideia de extinguir as forças policiais não é nova entre setores da extrema esquerda, Brasil inclusive.
Crimes cometidos por policiais são usados para levantar a bandeira. Mas nunca, como agora, ganhou tanto destaque como nos Estados Unidos.
Sem a responsabilidade de administrar a realidade, propagadores da delirante proposta vivem firmemente no mundo da fantasia.
Alex Vitale, professor de sociologia que escreveu em 2017 um livro considerado pioneiro pelos defensores do fim da polícia, respondeu assim, numa entrevista sobre o tema:
“O que estou falando é o questionamento sistemático dos papéis específicos que a polícia atualmente desempenha, e a tentativa de desenvolver alternativas baseadas em provas para que possamos recuar de nossa dependência dela.”
Deu para entender a enrolação.
E se alguém tiver sofrido ou esteja na iminência de sofrer um ato criminoso, não adianta chamar o professor de sociologia.