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Por Vilma Gryzinski
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Beyoncé e Jay-Z vão ao Louvre e bombam teoria dos Illuminati

Cantores insuflam deliberadamente o conspiracionismo, vício nada secreto da era high tech, em que qualquer um pode achar argumentos para qualquer bobagem

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 jun 2018, 19h04 - Publicado em 20 jun 2018, 07h04

É  daquele tipo de música que arrasta qualquer um para dançar. E com aquele tipo de letra que mal dá para mencionar, o que não tem nada de estranho na obra de Beyoncé e Jay-Z, que já celebraram até variantes sexuais altamente heterodoxas.

Mas o título, Apeshit, demanda um esclarecimento: é um termo de gíria para definir alguém completamente despirocado, com tanta raiva que reproduz simbolicamente o comportamento simiesco de atirar excrementos em quem estiver por perto.

Bom, não foi tão difícil assim explicar esta parte. O restante do vídeo de lançamento do álbum de Beyoncé e Jay-Z, Everything is Love, filmado no Louvre, é mais complicado: mistura política, provocações conspiracionistas suficientes para várias décadas de teóricos ensandecidos e quantidades de diamantes que poderiam movimentar uma pequena família real.

O conjunto de colar e brincos que ela usa na abertura, diante da Mona Lisa, tem 313 pedras em formato de pera, no total de 71 quilates. Chama-se Gotas Persas e é da joalheria parisiense Messika, se alguém estiver interessado. (os ternos, rosa e verde, são de Peter Pilotto),

Na verdade, o casal se considera uma família real. Até os nomes do novo casal de gêmeos têm referências implícitas: o menino é Sir Carter (o nome real do pai é de mauricinho: Shawn Carter) e a menina é Rumi (o poeta e místico persa do século XIII continua a ser fonte de inspiração até para escritores brasileiros esotéricos).

Como Beyoncé e o marido puderam filmar no museu mais famoso do mundo, diante de suas principais obras-primas, sempre coalhadas de público, como a Mona Lisa, a Vênus de Milo, a Vitória de Samotrácia e a Coroação de Napoleão?

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Explicou o museu: “Beyoncé e Jay-Z visitaram o Louvre quatro vezes nos últimos dez anos”. Uau. E daí?

“Na última visita, em maio de 2018, explicaram a ideia da filmagem. Os prazos eram muito curtos, mas o Louvre se convenceu rapidamente porque a sinopse mostrava um apreço verdadeiro pelo museu e por suas amadas obras de arte.”

Filmar no Louvre não é nada impossível. Pagou, levou, se o roteiro não for escandaloso ou cretino. O mais visitado museu do mundo ganha mais adeptos ainda.

A temática negra do vídeo dá um toque moderno que os franceses adoram e que jornalistas deslumbrados usam para cretinices como a do Independent, segundo o qual a cena de uma mulher negra fazendo um penteado afro num homem idem diante da Mona Lisa equivale a dizer que toda a história da arte ocidental (branca) é menos importante do que os personagens.

Quem compara obras com pessoas, maluquice lógica, merece ficar no cantinho do castigo sem ouvir Apeshit e outras músicas (com o toque dançante de Pharrell). Ou ouvir uma sessão inteirinha no YouTube sobre os símbolos nada ocultos dos Illuminati no vídeo.

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Relembrando: os Illuminati realmente existiram como uma sociedade meio esotérica, à la maçonaria, criada na Baviera do século XVIII. Foram “ressuscitados” por um grupo de jornalistas americanos, incluindo um da Playboy, onde escreviam, sob pseudônimo, cartas contra e a favor do grupo imaginário.

Por motivos bizarros, como o uso real e presumido de sinais ocultistas (como as mãos formando um triângulo), Jay-Z  é considerado pelas multidões de conspiracionistas que se ocultam atrás das telas de computador nos Estados Unidos como um chefão dos Illuminati. Beyoncé entrou na história via casamento.

O objetivo, naturalmente, é destruir a cultura ocidental cristã tradicional e implantar a Nova Ordem Mundial.

O clip no Louvre explora descaradamente essas almas desconfiadas. O próprio Louvre, com sua pirâmide de vidro e as obras de Leonardo da Vinci, já foi destroçado pelo escritor de entretenimento Dan Brown.

Ótimo autor de tramas e péssimo teórico, Brown disseminou a ideia de códigos secretos nos quadros de Da Vinci.

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Leitores de memória mais curta descobriram, por exemplo, a proporção áurea, responsável pelo supremo equilíbrio de pinturas e obras arquitetônicas, e passaram a achar que era coisa do gênio renascentista (gregos antigos continuaram em seu silêncio milenar).

Brown também inventou a maluquice de que a Igreja Católica menospreza as mulheres, pulando a parte em que a heresia protestante condena Roma justamente por ter transformado Nossa Senhora numa espécie de deusa – uma das mais brilhantes adaptações da história das religiões.

Usando Dan Brown e suas próprias maluquices, os conspiracionistas apontam uma amostra completa de símbolos dos Illuminati no clipe de Apeshit.

Fora, a pirâmide, obviamente, temos o seguinte: piso quadriculado em branco e preto (maçonaria), Napoleão mostrado no quadro de Jean-Louis David em que coroa a si mesmo (maçom), Beyoncé diante da Vitória de Samotrácia (um anjo alado, e caído, representação de Lúcifer), idem com a Vênus de Milo (o planeta venerado por maçons e outros como símbolo da mesma luz/treva luciferiana).

Esfinge de Tânis (Egito, 2 600 a..C.), Balsa da Medusa (Géricault, século XIX) e até as dançarinas rebolativas com colantes transparentes e Beyoncé reinando entre elas são dadas como sinais de uma terrível trama destinada a eliminar o Ocidente e promover o Anticristo.

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Umberto Eco, o escritor e semiólogo responsável por sátiras conspiracionistas brilhantes que alguns incautos tomaram ao pé da letra, criou em O Cemitério de Praga um personagem fictício, Simone Simonini, cercado por fatos e figuras reais do século XIX.

Um período histórico cheio de “eventos monstruosos e misteriosos”. O caso Dreyfus e a invenção dos Protocolos dos Sábios do Sião incluem-se na lista de “intrigas sem fim criadas por polícias secretas de diferentes países, os maçons, conspirações jesuítas e outros eventos cuja autenticidade não pode jamais ser comprovada e que alimentam folhetins 150 anos depois”.

No livro de Eco, os Protocolos são inventados por Simonini, não pelo agente russo, czarista e depois bolchevique, que escreveu o panfleto à maneira do francês Maurice Joly em Diálogos do Inferno.

O conspiracionismo sobre os Illuminati e assemelhados nasce de um sentimento comum – “Eles”, os que mandam, estão sempre tramando alguma coisa secretamente – e de um momento em que transformações sociais, políticas e econômicas realmente balançam o modo de vida em países avançados.

A imigração em massa, a migração do poder de instâncias nacionais para burocracias internacionais não eleitas, a ascensão da China e a predominância nos meios intelectuais e de comunicação das teses esquerdistas  e identitárias são alguns desses fenômenos transformativos.

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Já Beyoncé e Jay-Z estão mais interessados exatamente no que mencionam em Everything is Love: demonstrar o poder do dinheiro (“Meus tetranetos já são ricos/ É muita gente marrom na lista da Forbes”), desfilar os nomes de produtos famosos e caros (Pateck Phillip, Chaumet e mais uma longa lista), demonstrar poder (“Dane-se, eles precisam de nós, não nós deles”, sobre os Grammys e a NFL, a federação do futebol americano, e a palavra não é exatamente “dane-se”).

As obras de arte do Louvre entram como uma demonstração a mais de que têm tudo o que um ser humano pode querer, inclusive o mais precioso dos bens: acesso livre ao ápice.

Rebolar na frente da Mona Lisa não é para qualquer um. Ou uma. Kanye West, o amigo/inimigo do casal, terá que fazer alguma coisa para superar isso. Certamente entrarão na disputa a mulher dele, Kim Kardashian, e Donald Trump, um dos pontos de discórdia, com quem Kanye divide o “sangue de dragão” e em quem Jay-Z só vê o bafo da besta.

Ops, cuidado com o vocabulário. O casal Carter pode não gostar.ß

Será que os Illuminati ajudaram a abrir a eles as portas subterrâneas da pirâmide de vidro e outros segredos ocultistas?

Ou quem acredita nessas histórias está na mesma situação de instabilidade emocional que leva macacos a jogar dejetos corporais nos outros?

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