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Bebida e poder: Macron é criticado por virar cerveja de uma tacada só

Foi um gesto populista do mais antipopulista dos presidentes, mas chama atenção para assunto que vai da França à Rússia, entre outros

Por Vilma Gryzinski 20 jun 2023, 07h47

Uma das maiores qualidades de Emmanuel Macron é ser odiado tanto pela esquerda quanto pela direita. Mostra que está tentando fazer algo sem carimbos ideológicos que deformam discussões essenciais.

O arrumadinho presidente francês tem casca grossa, como provou sua resistência quando o mundo veio abaixo com sua reforma da aposentadoria.

Até um gesto banal — virar uma cerveja de uma tacada só — desencadeou uma enxurrada de críticas.

Ninguém acredita que Macron tome Corona habitualmente, mas ele estava num dos lugares com os mais altos índices de testosterona do planeta, o vestiário depois da final de um campeonato de rúgbi. Tinha que fazer bonito. Foi incentivado e aplaudido pelos jogadores do Toulouse que, no dramático instante final, viraram o jogo contra o bravo La Rochelle.

Como o rúgbi é um esporte de hooligans jogado por cavalheiros (sendo o futebol o seu oposto, na famosa definição inglesa), o time e o pessoal técnico fizeram um pacto de silêncio sobre a performance do presidente. Claro que o vídeo não só vazou como viralizou. Claro que Macron foi criticado.

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“Ele associou esporte com festa e consumo de álcool num contexto de emulação viril onde todo mundo está bebendo muito”, acusou Bernard Basset, diretor de uma instituição para pessoas com adição.

Macron, que é um daqueles franceses capazes de adivinhar a marca do vinho numa degustação às cegas, já tinha sido acusado antes por ser um adepto inabalável da bebida dos deuses, tomada duas vezes por dia. ”Fui criado por meus avós, que tinham um princípio básico: vinho é antioxidante”, disse ele.

É claro que, como em tudo mais, ele tem uma disciplina suprema, muito longe daquele pessoal que estica o almoço para virar uma garrafa, depois emenda com o jantar e daí a coisa só piora.

Macron é o primeiro presidente francês em muitos anos a tomar vinho. Jacques Chirac preferia cerveja — Corona, justamente —, Nikolas Sarkozy não bebe e François Hollande ninguém quer saber.

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Outros abstêmios conhecidos: Donald Trump (perdeu um irmão para o alcoolismo), Joe Biden (vários parentes vitimados, na triste tradição irlandesa) e Vladimir Putin.

O presidente russo não bebe, mas deixa beber. Segundo o Verstka, um jornal digital feito no exterior, o Kremlin recentemente aumentou de uma para duas garrafas, de vinho ou vodka, a quota oferecida por pessoa em banquetes oficiais. O consumo de vodka e de antidepressivos aumentou desde a invasão da Ucrânia, diz o Vertska.

Recentemente, o incontrolável Ievgueni Prigozhin, o líder do Grupo Wagner, acusou o chefe do estado-maior e comandante direto das operações na Ucrânia, general Valeri Gerasimov, de “começar o dia virando um copo de vodka”.

“Os coronéis me ligam e contam tudo”, afirmou Prigozhin. Cada vez mais incontrolável em sua briga com a cúpula militar da guerra, ele agora defende que todos os membros da Duma, o parlamento russo, e todos os funcionários do Kremlin sejam enviados à frente de batalha. Caso contrário, devem ser fuzilados.

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Declarações assim dão a impressão de que Prigozhin é que está virando um copo da “aguinha” — significado de vodka — logo de manhã, mas ele é disciplinado e cobra disciplina dos voluntários, inclusive criminosos comuns, que entram para o Wagner.

O alcoolismo é um problema notório na Rússia, inclusive nas forças armadas. Em dezembro passado, um recruta bêbado matou o capitão da sua tropa.

Logo que assumiu o poder, Mikhail Gorbachev tentou controlar a “doença russa” com aumento de preço da vodka e diminuição dos horários em que a bebida podia ser comprada. Resultado: caíram os ingressos públicos via impostos e aumentou o mercado negro. A vodka feita com casca de batata pode ser fabricada em qualquer porão.

Stálin obrigava todos seus “amigos”, frequentadores dos jantares que dava toda noite, a beber até não aguentarem mais. Divertia-se com a bebedeira dos outros, embora ele mesmo resistisse à embriaguez. Quando descobriu que Lazar Kaganovich saía para provocar o próprio vômito do lado de fora, para aguentar a batida, obrigou-o a aumentar as doses ingeridas sem direito a deixar a mesa.

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O mais notório beberrão russo dos últimos tempos foi Boris Ieltsin, o presidente pós-soviético que enterrou a própria carreira com as cenas constrangedores, inclusive o incontrolável ataque de riso que provocou em Bill Clinton durante uma entrevista em que estava doidão.

Em outro episódio, só revelado tempos depois, Ieltsin saiu da residência oficial para hóspedes do governo americano, a Blair House, e foi interceptado no meio da noite, só de cueca, tentando achar um táxi para ir comprar uma pizza. Ganhou a pizza do Serviço Secreto, mas na noite seguinte, escapou de novo e quase foi abatido por um segurança que o confundiu com um invasor bêbado.

E sabem aquela do presidente que mandou expulsar o correspondente do New York Times por mencionar a questão bebida?

Não, não é piada, embora muita gente tenha optado pela amnésia seletiva — inclusive o próprio jornal americano.

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Voltando a Macron: o problema não é uma cerveja virada para ficar bem na foto, mas a crise de popularidade. Ele tem aprovação na faixa de magros 30%. A maioria dos franceses não consegue engolir que o país precisa mudar as aposentadorias, mesmo ligeiramente, para tornar sustentável o sistema de benefícios que provê o mínimo, e até alguns extras, para todos.

Uma pesquisa mais recente dá a Marine Le Pen 42% das preferências numa futura eleição presidencial, da qual Macron, já no segundo mandato, não participaria.

Os que não se conformam com isso ficam com vontade de tomar todas diante de tais números. Importante: a eleição será apenas em 2027, o que dá tempo para muita coisa acontecer, inclusive Macron fortalecer um sucessor que não derrube, à la terceiro mundo, tudo o que está fazendo ao preço de tanta impopularidade.

Se conseguir isso, com 64% dos franceses declarando atualmente que não confiam nele, merecerá várias rodadas de “tchin-tchin”, como dizem os franceses.

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