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Por Vilma Gryzinski
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Argentina: 104% de inflação e ministro da Economia quer ser presidente

Boatos de desvalorização e corrida ao dólar, que bateu em 440 pesos, são sinais de descontrole que não afetam ambição de Sergio Massa

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 24 abr 2023, 06h23 - Publicado em 24 abr 2023, 06h00

É um caso típico de fracasso que sobe à cabeça. Com a surpresinha do presidente Alberto Fernández, ao desistir de tentar uma reeleição totalmente impossível, aumentou o nível de ambição de Sergio Massa, o ministro da Economia que não controla, nem tem como controlar, uma inflação de 104%, a disparada do dólar — já passando dos 440 pesos — e o aumento catastrófico da pobreza. Sem falar na taxa de juros, propelida para 81% pelo banco central. 

Isso mesmo, 81% — e sem adiantar nada, pois os juros altos, a quimioterapia econômica para preservar a moeda e e segurar a inflação, não funcionam quando o organismo todo está tomado pelas células malignas dos gastos descontrolados e do aparelhamento terminal da máquina pública, entre outras insanidades em que a Argentina se tornou, tristemente, especialista.

Como vive um país com esses indicadores? Aos sobressaltos, com a abertura dos mercados hoje em clima de alta tensão, esperando uma máxi a qualquer momento ou alguma outra desgraça, como uma explosão de desespero popular, talvez apenas contida porque existe a perspectiva de mudar o governo com a eleição presidencial de outubro.

E colocar o quê no lugar?

Por enquanto, as águas estão turvas. Os líderes das duas grandes forças políticas do país, Cristina Kirchner e Mauricio Macri, declararam-se fora do páreo — embora a turma K esteja promovendo um “clamor” popular para que ela volte a se candidatar. Com 60% de reprovação, ela contaria com os que a apoiam, sempre, para avançar ao segundo turno, um cálculo perigoso. Foi pela impopularidade que ela escolheu, autocraticamente, Alberto Fernández para ser presidente.

Sem Cristina, o campo peronista fica cheio de aspirantes: Massa; Daniel Scioli, o esperto embaixador no Brasil; Wado de Pedro, o ministro do Interior kirchnerista que, como sua chefa, havia se especializado em fazer desaforos ao patético presidente, o homem dos 71% de reprovação popular. Também corre na própria pista Axel Kicillof, que considerava garantida — embora nada garanta nada no momento — sua reeleição como governador da província de Buenos Aires. Bem mais por fora ainda, tem Juan Grabois, um líder piqueteiro apreciado pelo papa Francisco, o que diz muito sobre o chefe da Igreja Católica. Grabois disse que está pensando em processar Massa por “retenção de fundos” de ajuda social.

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Parece assim bem hipotética a ideia é chegar ao 11 de agosto, data das eleições primárias, um sistema unicamente argentino em que todos os eleitores votam em quem querem que sejam os candidatos a presidente, com uma frente relativamente unida.

Agravantes: o estado miserável da economia e o clima de pânico, disfarçado com as habituais fanfarronices, diante da possibilidade espantosa de que o peronismo não consiga emplacar um candidato no segundo turno da eleição presidencial. O responsável seria Javier Milei, uma mistura de libertário com argentário e carbonário.

Embora Milei prejudique acima de tudo a atual oposição, e seu candidato mais cotado no momento, Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aires, ele também tem o potencial de escantear o peronismo, um sinal do compreensível desespero de muitos argentinos com o beco sem saída em se que sentem presos. O Juntos pela Mudança queimou o filme com o governo Macri, a alternativa peronista da Frente de Todos se revelou pior ainda e é grande a tentação de, simplesmente, chutar o pau da cabine de votação e cravar o nome de Milei. Individualmente, ele aparece em primeiro lugar nas pesquisas para a primárias, com 23% dos votos pretendidos.

Pior do que está não fica? Fica sim. Sempre existe espaço para as coisas piorarem, e não só na Argentina.

Com Alberto Fernández tendo colocado a si mesmo numa posição de total impotência, o governo real desliza para a mesa de Massa. Dele dependem decisões cruciais — ao mesmo tempo em que a dinâmica da crise tem vida própria e indomável.

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O que pode um ministro da Economia fazer nas circunstâncias atuais? Aumentar a taxa de juros, tabelar preços, garrotear os gastos em dólar, pedir mais um refresco para o FMI e taxar o agronegócio?

Tudo isso já foi feito, incluindo a atual campanha do ministro para o FMI antecipar empréstimos. A favor dele: é um agente racional, comanda sua própria corrente no saco de gatos do peronismo, tem trânsito com o empresariado e aparece com 17% das preferências eleitorais se contar com o apoio de Cristina. Com a saída de Fernández, tende a subir mais e encostar em Rodríguez Larreta.

Ao assumir a Economia em agosto do ano passado, depois do “mês dos três ministros”, prometeu que seria seu último cargo na vida pública, não ambicionava nada mais do que resgatar o país das sombrias condições em que se encontrava.

Todo mundo concluiu, claro, que era candidatíssimo a presidente.

O prazo para dar uma segurada na derrocada já se esgotou. Ministro bom que faz coisas ruins vai para o buraco do mesmo jeito — ministro ruim, então, nem se fale; recebe até ordens extragovernamentais.

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Todos devemos torcer para que a Argentina se recupere, nem que seja por puro autointeresse. E nem que seja para desejar que, contra todas as expectativas, Sergio Massa dê certo. Ou pelo menos não dê catastroficamente errado.

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