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A “vacina que não deu certo”: fabricante retira imunizante de circulação

Falar de efeitos colaterais, mesmo que em pequeno número, virou um tabu que aos poucos vai sendo superado pela realidade

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 14h56 - Publicado em 9 Maio 2024, 07h45
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  • Do ponto de vista da saúde pública, as vacinas para amenizar os efeitos do coronavírus foram um sucesso. A doença retrocedeu e o mundo voltou ao normal. Só continuam longe da normalidade aqueles que sofreram sequelas graves, uma minoria que não pode mais ser ignorada, como ficou claro com a decisão da AstraZeneca de tirar definitivamente sua vacina de circulação.

    Quando foi anunciada, pioneiramente, em abril de 2021, a vacina desenvolvida a partir das pesquisas da Universidade de Oxford em cima de outro vírus da mesma família, foi recebida como nada menos do que o milagre que o mundo precisava desesperadamente.

    Olhando retrospectivamente, a Vazvevria, seu nome oficial, parece não ter se saído tão bem. Na Grã-Bretanha, 51 famílias buscam reparação na Justiça por sequelas graves e morte. É um número minúsculo comparado as 100 milhões de doses administradas, mas não pode ser tratado como invisível.

    Por causa desses processos, em fevereiro o laboratório anglo-sueco admitiu em documentos oficiais que, em casos raros, a vacina provoca a síndrome de trombose com trombocitopenia, uma queda catastrófica no número de plaquetas no sangue. A queda nas plaquetas, que ajudam o sangue a coagular, e a formação de coágulos podem ter efeitos letais. Nos casos raros, o próprio sistema imunológico confunde as plaquetas que entram no sistema sanguíneo com vírus e as ataca. Os anticorpos formam uma espécie de escudo em torno das plaquetas, tratadas como inimigas, desencadeando os coágulos que se deslocam perigosamente pelo corpo.

    Essa síndrome foi relacionada à morte de 81 pessoas no Reino Unido, além de centenas de casos de sequelas graves. Os maiores números de casos foram em pessoas de 40 a 59 anos.

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    O laboratório que agora tirou a vacina de circulação diz que ela salvou 6,5 milhões de vidas e que sua retirada do mercado é por razões comerciais, sem relação com o processo que corre na Suprema Corte.

    EFEITOS COLATERAIS

    Todo mundo sabe que a vacinação contra a covid passou por um processo de extrema polarização política e muitas pessoas que sofreram sequelas ou perderam familiares chegaram a se sentir intimidadas, como se o simples fato de falar sobre o que sofriam fosse prova de que estavam no movimento antivacinação.

    É, evidentemente, um absurdo. Apenas recentemente a New York Times publicou uma reportagem sobre o assunto, dizendo o óbvio: “Mesmo as melhores vacinas produzem raros, mas sérios, efeitos colaterais. E a vacinas de covid foram dadas a 270 milhões de pessoas nos Estados Unidos, em quase 677 milhões de doses”.

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    No total, houve lá 13 mil pedidos de indenização na Justiça, dos quais apenas 19% avançaram no processo. Míseros 47 foram reconhecidos como merecedores de reparação, com doze já tendo sido ressarcidos com uma média de 3 600 dólares – risível diante dos números portentosos da indústria de indenizações dos Estados Unidos.

    “Pelo menos, houve um reconhecimento”, disse ao Times a imunologista Akiko Iwasaki. Para a pesquisadora de Yale, as pessoas com sequelas atribuídas à vacinação costumam ser simplesmente ignoradas. O Times falou ao longo de um ano com trinta pessoas que sofreram sequelas neurológicas, autoimunes ou cardiovasculares. Todas disseram ter ouvido de médicos que seus sintomas eram psicossomáticos.

    Sofrer de algum mal que não é reconhecido – ou validado – pela medicina aumenta enormemente a carga de seus portadores.

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    DESASTRE BIOLÓGICO

    As vacinas contra a covid foram pesquisadas num regime de enorme emergência mundial e produziram os resultados que todos podemos ver. Mas não existe garantia absoluta para nenhuma vacina. Até imunizantes considerados banais podem provocar doenças neurológicas como paralisia de Bell, que afeta os músculos da face, e a terrível síndrome de Guillain-Barré.

    O caso mais grave de sequelas aconteceu em 1955, no clima de comoção e mobilização nos Estados Unidos para prevenir a poliomielite. Foi na verdade um erro da farmacêutica Cutter Laboratories: em lugar do vírus inativo, usado no imunizante desenvolvido por Jonas Salk, um grande lote inoculava nas crianças o vírus vivo.

    Das 120 mil crianças vacinadas com o imunizante defeituoso, 40 mil tiveram um tipo de pólio, com sequelas menos graves. Mas 51 ficaram paralíticas e cinco morreram no que foi chamado de um dos piores desastres biológicos da história americana.

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    A vacina da AstraZeneca contra a covid é “clássica”, fabricada com vírus inativos de chimpanzés, sem interferência nos mecanismos genéticos das células como as da Pfizer e da Moderna, consideradas mais eficientes e adaptáveis às variantes. Adeptos do movimento antivacinação já estão pedindo que esses imunizantes também sejam retirados.

    Devido a um acordo feito com a AstraZeneca, similar aos de outros laboratórios, eventuais indenizações são cobertas por fundos governamentais.

    Muitas coisas não são límpidas e cristalinas na grande batalha que a humanidade trava contra os invisíveis agentes do caos que causam as doenças virais. Tentam encobrir os casos em que vacinas provocam sequelas graves em lugar de ajudar, prejudica cria uma aura de secretismo que não colabora no esclarecimento do grande bem que podem fazer, com exceções a serem reconhecidas.

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