Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A tentação de Evo: ganhar na mão grande selou seu destino

Fraude em grande escalar para capturar quarto mandato disseminou explosão social e acabou levando ao grande dominó que precipitou a “renúncia”

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 10 nov 2019, 20h36 - Publicado em 10 nov 2019, 20h33

Até Evo Morales foi capaz de entender o que significava olhar em volta e ver que a guarda presidencial havia sumido. O “até” é usado para enfatizar a dramaticidade dos acontecimentos.

Evo não tem nada de bobo.  Ao contrário, foi o excesso de esperteza que abreviou seu fim. Perito em manipular cinicamente os fatos, quando se colocavam entre ele e o poder, durante treze anos fez o diabo para se consolar no poder.

Conseguiu fingir que a vitória em eleições antecipadas significava um primeiro mandato, ignorar um plebiscito que  não lhe permitia concorrer de novo e inaugurar o sistema do servidor “fantasma”, um lugar onde os votos da última eleição entraram antecipando um segundo turno e saíram garantindo sua reeleição para um quarto mandato

Quando policiais subiram no teto de um quartel e anunciaram que não reprimiriam mais manifestações de protesto contra a fraude escandalosa, o destino estava selado.

Caso Evo Morales fingisse que não estava vendo, escreveram num cartaz improvisado: “Motim policial”.

Continua após a publicidade

O último bolivariano fora da Venezuela ainda tentou a tática de convocar novas eleições. Não colou. Alguma dúvida? No meio da tarde de domingo, o comando das Forças Armadas e, em seguida, o da Polícia Nacional “pediram” que ele renunciasse para “restaurar a paz social”.

Saiu pisando duro, denunciando um “golpe cívico-político-policial”.

“Ser indígena e ser de esquerda antiimperialista é nosso pecado”, disse.

Fazer autocrítica numa hora dessas realmente é difícil.

Continua após a publicidade

Também é previsível colocar a culpa na oposição, representada por Carlos Camacho, o candidato que havia vencido na primeira rodada, mas contra o qual iria a segundo turno se a mão grande não tivesse interferido, e Fernando Camacho, o líder de Santa Cruz.

Foco de oposição, de muitas maneiras a província vizinha do Brasil foi literalmente incinerada com o grande incêndio na sua área amazônica, incentivado por uma legislação de Evo Morales aumentando o território florestal que podia ser desmatado para a plantação de coca.

Moradores de Santa Cruz chegaram ao ponto inédito de fazer uma autodeclaração de emergência diante da tragédia do fogo sem controle.

Vale a pena lembrar que Evo foi cocalero e ganhou um grande apoio entre a população indígena, dois terços do total, pelo incentivo à produção da planta mágica, um dom e uma maldição dos deuses andinos.

Continua após a publicidade

Nem se a população da Bolívia fosse três vezes maior conseguiria mascar a quantidade de folhas de coca, o uso tradicional da planta, apresentado como cortina de fumaça para justificar o aumento do plantio.

Celebrar Evo Morales como primeiro indígena a ser eleito presidente talvez seja um pouco de exagero, considerando-se que os anteriores não eram exatamente nórdicos, mas sim fruto da miscigenação tão comum na América Latina.

Em vários aspectos, a vida dos bolivianos mais pobres melhorou, embora não o suficiente para segurar os que saem em busca de uma vida melhor, na Argentina ou no Brasil.

E muito menos para segurar no poder um homem que, como tantos outros da mesma linhagem, intoxicou-se com ele.

Continua após a publicidade

Só para lembrar: o ex-apenado de Curitiba, agora mais influencer do que nunca, citou recentemente a Bolívia como um exemplo de país que dá certo.

Seria muito bom se desse mesmo, se um líder popular como Evo Morales não tivesse praticado arbitrariedades e espertezas ilegais para se manter no poder e se sua saída de cena viesse a melhorar a situação de um país tão castigado pela pobreza.

Saída, aliás, previsivelmente temporária.

“Voltaremos e seremos milhões”, prometeu o vice-presidente Álvaro García Linera.

Continua após a publicidade

A referência é ao líder de uma rebelião indígena do século 18, Tupac Katari. Mais famosamente, fora da Bolívia, foi usada por Evita Perón.

Eva e Evo acabaram tendo destinos entrecruzados,  em outra loucura latino-americana.

Enquanto os peronistas volta ao poder, o influencer brasileiro sai da cadeia e todas as suas turmas comemoram os protestos no Chile como prova de que o avanço econômico do país é uma miragem, o bolivariano boliviano sai de cena.

Eita continente louco.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.