A justiça politizada: os processos contra Trump tropeçam no grande mal
É possível achar as piores coisas do ex-presidente, mas é impossível não ver como a política interfere até na grandiosa justiça americana
A filha do juiz Juan Merchan, um colombiano que o destino levou a presidir o julgamento contra Donald Trump, com veredicto previsto para hoje, tem uma empresa digital que presta serviços a importantes políticos democratas, inclusive alguns que fazem do antitrumpismo sua principal bandeira.
Não estavam a imparcialidade e a impessoalidade de Merchan comprometidas?
Trump, de maneira formidavelmente trumpista, definiu-o assim, ainda durante o julgamento: “O juiz Juan Merchan, um homem de aparência muito distinta, é no entanto um comprovado odiador de Trump que sofre de um caso muito sério de síndrome de distúrbio trumpista. Em outras palavras, ele me odeia!”.
“Sua filha é alta executiva de uma empresa democrata superliberal”, que trabalha para o deputado Adam Schiff, o Comitê Nacional Democrata e até Joe Biden.
O juiz proibiu-o de falar em várias ocasiões, mas quem controla Donald Trump?
BANDEIRA INVERTIDA
Atacar é seu método de defesa e dá até para desconfiar que ele queira ser preso – muito rapidamente – por achar que viraria um mártir e levaria a eleição de novembro, na qual atualmente tem uma vantagem apertada. Evidência número 1: já se comparou a Nelson Mandela. Agora, disse que “nem Madre Teresa” escaparia dos crimes “fabricados” atribuídos a ele.
Apesar dos exageros trumpistas, o juiz Juan Manuel Merchan deveria realmente ter se recusado a presidir um julgamento de altíssimo teor político, no qual os jurados foram instados a definir se o candidato à reeleição teve a intenção de cometer um crime eleitoral quando mandou seu advogado na época, Michael Cohen, pagar um cala-boca de 130 mil dólares para a atriz pornô Stormy Daniels não divulgar um encontro sexual, durante a campanha de 2016.
Nem a Comissão Eleitoral Federal vislumbrou um crime dessa natureza.
Outra acusação: o reembolso a Cohen foi computado como honorários advocatícios, uma manipulação contábil que já estaria prescrita – se, obviamente, o réu não se chamasse Donald Trump.
Uma comparação: comentaristas e políticos democratas estão exigindo que Samuel Alito, juiz conservador da Suprema Corte, se exima de qualquer caso relacionado à invasão do Congresso em 6 de janeiro de 2021. Motivo: sua mulher hasteou no jardim uma bandeira americana em posição invertida depois de um bate boca com vizinhos que usaram palavrões contra ela, diretamente, e contra Trump, num cartaz improvisado no jardim. Em suma, uma bobagem.
FOTO DO BANHEIRO
Imaginem se uma filha de Alito trabalhasse para políticos republicanos, como faz Loren Merchan para importantes democratas.
A bandeira invertida é considerada um sinal de apoio aos trumpistas da invasão do Congresso, mas não há conflito de interesses numa relação comprovada de trabalho?
Mais uma conexão indevida foi a de Matthew Colangelo, ex-número 3 do Departamento da Justiça no governo Biden, contratado para reforçar o time da promotoria. É ético trabalhar num governo e em seguida passar para a equipe de acusação de seu maior adversário?
O processo dos “papéis secretos no banheiro”, simbolizado por uma foto irresistível que correu o mundo, mostrando caixas armazenadas num banheiro da mansão de Trump na Flórida? Enganosa: apenas alguns poucos documentos eram sigilosos e o FBI não registrou a ordem em que foram encontrados – procedimento completamente anômalo.
IMPÉRIO DA LEI
Outro indício de que Trump passa por um crivo que não é aplicado a réus comuns. Escandalosamente, a promotora do caso de tentativa de interferência eleitoral na Geórgia, Fani Williams, usou verbas oficiais destinadas à investigação para contratar como assistente um advogado com o qual estava tendo um relacionamento. Os dois fizeram várias viagens românticas juntos, mas ela disse que não abusou de verbas públicas: reembolsou-o em dinheiro vivo. Sem, obviamente, pegadas.
Seria de dar risada se o juiz do caso, Scott McAfee, não tivesse permitido que a promotora, depois de uma leve admoestação, continuasse à frente da ação.
É, simplesmente, escandaloso e contribui para a forte impressão de que o judiciário americano, legendário por sua independência e estrita adesão aos princípios da lei, e nada mais do que a lei, está sendo contaminado pela política. É uma perda para o país e para o mundo: quem nunca viu um filme em que advogados, promotores ou juízes são heroicos defensores da verdade e da justiça acabam conseguindo comprová-las? Quem nunca invejou o império da lei na magnitude que ganhou nos Estados Unidos?
Levar um ex-presidente a julgamento deveria ser uma comprovação de que, no estado de direito, nem os poderosos escapam do peso da lei. Os casos contra Trump estão dando indícios contrários: as preferências políticas dos membros do judiciário podem interferir em suas decisões e destruir um candidato com boa possibilidade de ser eleito, principalmente contra um presidente como Joe Biden, com minguada aprovação de 39%, se torna mais importante.
Com seus instintos viscerais, Trump já percebeu que tem mais a ganhar do que a perder se parecer perseguido pelo “sistema”. Ele, claro, e Nelson Mandela.