Manoel de Barros pode não ser unanimidade entre os literatos adultos. Mas a versão musicada de alguns de seus poemas, reunidos em 2011 no disco Crianceiras, do sul-matogrossense Márcio de Camillo, tem um encanto enorme para os leitores do futuro – a maioria do público do álbum, afinal, ainda nem sabe ler. Camillo repete o feito com Crianceiras_Mario Quintana, que eleva aos pequenos a obra do gaúcho de Alegrete.
A base para o segundo disco, também lançado pela Tratore, é Canções, livro em que Quintana oferece textos como Ritmo, Cantiguinha de Verão, Canção de Domingo, Canção de Nuvem e Vento e Canção da Primavera, dedicado pelo poeta ao conterrâneo Érico Veríssimo, em que elementos como pião, catavento, anjo, burrico e grilo se mesclam ao medo, à tristeza, à alegria e à delicadeza próprios da infância. No álbum, a mistura é enriquecida – contribuição de Camillo – por gêneros musicais como xote, valsinha, ciranda e acalanto.
É uma boa oportunidade de introduzir crianças na poesia – e na literatura brasileira.
Canção da Primavera
Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Catavento enloqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do cata-vento
Dancemos todos em bando.
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo…
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!
Crianceiras, o espetáculo, aliás, encerra agora uma temporada no teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo, com sessões neste domingo e na terça, o feriado de 1º de Maio, ao meio-dia. No palco, a poesia e a música ainda são guarnecidas pelo teatro de papel e o tetro de brinquedo, sob a direção de Luiz André Cherubini, um dos fundadores do Grupo Sobrevento.