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Alain de Botton: a filosofia a serviço da vida

O filósofo Alain de Botton na escadaria da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro (foto: Orestes Locatel) Ele se assume um escritor de autoajuda, e com orgulho. Diz fazer parte do renascimento do gênero, renegado ao limbo intelectual no século XIX, com o advento das universidades modernas, e dominado nas últimas décadas por mercenários vendedores […]

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 10h04 - Publicado em 27 nov 2011, 08h55
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  • O filósofo Alain de Botton na escadaria da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro (foto: Orestes Locatel)

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    Ele se assume um escritor de autoajuda, e com orgulho. Diz fazer parte do renascimento do gênero, renegado ao limbo intelectual no século XIX, com o advento das universidades modernas, e dominado nas últimas décadas por mercenários vendedores de fórmulas milagrosas – e obviamente irreais. Para o filósofo suíço radicado em Londres Alain de Botton, o ser humano precisa mais do que nunca que alguém lhe diga como lidar com a vida e com o desespero: não com promessas de grandes conquistas, mas com a constatação de como somos infortunados e infelizes. E não só isso. Precisa aprender a viver em comunidade e que alguém lhe diga como se comportar. Precisa que a voz doce e grave de uma religião lhe faça agir como uma criança obediente. “Nós somos todos vulneráveis e infantis por dentro. E, como crianças, precisamos ser lembrados do que é bom para nós”, diz. São lições como essa que ele dá em Religião para Ateus (tradução de Vitor Paolozzi, Intrínseca, 272 páginas, 19,90 reais), livro recém-lançado no país e que Botton aproveitou para divulgar em sua passagem pelo Brasil – onde participou do seminário Fronteiras do Pensamento, na última semana, e tanto se admirou com a arquitetura do Rio como se chocou com as disparidades sociais e o urbanismo de São Paulo. “Algumas elites são refinadas em um nível tão alto como só podem ser em sociedades profundamente desiguais: São Paulo”, escreveu em seu perfil no Twitter, para desgosto dos paulistanos.

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    No livro, o último de uma vasta e bem vendida obra, o filósofo examina princípios de três religiões – Catolicismo, Judaísmo e Budismo – para pinçar lições de vida para seus leitores. Segundo ele, o padrão intelectual hoje dominante na sociedade empurra a muitos para a secularidade, em prejuízo de conceitos e ideias de origem religiosos benéficos à vida individual e coletiva. Visto com cautela por uns, incensado por outros, Alain de Botton discorre sobre como as religiões e a filosofia podem nos ajudar a viver, discurso presente tanto em seus livros como em suas entrevistas. Confira abaixo sua conversa com VEJA Meus Livros.

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    No começo de Religião para Ateus, você diz que os ateus têm exagerado no intelectualismo e na racionalidade e que, para eles, ler um livro de autoajuda se tornou algo absurdo. O senhor é a favor dos livros de autoajuda?
    O ponto de partida das religiões é que somos crianças e que precisamos de orientação. O mundo secular em geral se ofende com isso. Essa postura ofendida pressupõe que todos os adultos são maduros e devem odiar o didatismo, a orientação e a instrução moral. Mas é claro que somos crianças, grandes crianças que precisam de orientação, de guias que nos lembrem como devemos viver, embora o sistema de educação moderna negue isso, ao nos tratar como seres demasiadamente racionais, razoáveis e controlados. Nós somos muito mais desesperados do que o nosso sistema de educação reconhece. Todos estamos à beira do pânico e do terror quase todo o tempo – e a religião reconhece isso. Nós precisamos construir uma consciência semelhante a esta no mundo secular. Em meu livro, eu defendo que a fé em Deus não é plausível e, para mim e outros, é simplesmente impossível.

    Como não ter fé e usufruir da sabedoria ofertada pelas religiões?
    Eu sugiro que, se você abdicar da sua fé, vai se abrir para uma série de perigos particulares, nos quais não precisamos cair e aos quais temos que ficar alertas. Em primeiro lugar, tem o perigo do individualismo: o lugar do ser humano no centro de tudo. Em segundo, o perigo do perfeccionismo tecnológico, da crença na tecnologia e na ciência como remédio para todos os problemas humanos. Em terceiro lugar, sem Deus, corremos o risco de perder perspectiva e de ver o presente como tudo, de esquecer a brevidade do momento e de deixar de apreciar – no bom sentido – a minúscula natureza das nossas realizações. Por último, sem Deus, há o risco de a necessidade de empatia e ética seja negligenciada. Agora, é importante ressaltar que é bastante possível não acreditar em Deus e não perder de vista essas questões – da mesma forma como um crente pode ser um monstro. Eu simplesmente quero chamar atenção para algumas carências que surgem em nossa sociedade quando dispensamos Deus bruscamente. Nós podemos renunciar à fé, mas não devemos abdicar da simpatia, do cuidado do pensamento. Quanto à literatura de autoajuda, ela está na base desse mundo e eu a acho interessante.

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