Muito se falava sobre a “pós-pandemia” para 2021, mas o que veio foi a “re-pandemia”. Apesar do início da vacinação, os hospitais voltaram a encher com brasileiros e brasileiras contaminadas pela Covid-19. Infelizmente, o número de óbitos voltou a subir vertiginosamente. Em reação, a maior parte dos estados brasileiros impôs medidas drásticas de distanciamento social. Março de 2021 se assemelha ao março de 2020. A situação é tensa e, por isso mesmo, é necessário destacar: o poder público e a sociedade não estão completamente no escuro como no ano passado. Com doze meses de estado pandêmico já há muito aprendizado sobre o gerenciamento de crises.
Os cientistas estão mais informados sobre o vírus, as primeiras vacinas foram desenvolvidas, as equipes médicas desenvolveram protocolos mais eficientes, as pessoas adquiriram novos hábitos. “Crise” é etimologicamente um período de novas posturas e decisões. O termo grego “krisis” indica um período de decisão. Por exemplo, o tempo de diagnóstico e prescrição de tratamento pelo médico ou o tempo de ponderação e sentença pelo juiz.
Grande parte dos protocolos de crise utilizados no último ano surgiu na década de 1980. A história é simples: o estudo sobre gerenciamento de crises mudou completamente em 1979 após o acidente na central nuclear estadunidense de Three Mile Island na Pensilvânia. O derretimento de parte do complexo de reatores foi o mais grave até então – superado em 1986 pelo acidente em Chernobil e 2011 pelo acidente em Fukushima. A tragédia em Three Mile Island e sua ampla repercussão midiática demonstrou que na era da comunicação em massa as sociedades democráticas precisam levar a sério o “gerenciamento de crises”. Surgiu, então, o curso pioneiro de graduação universitária deste assunto na C. Mello University de Pittsburgh: Crisis Management. De lá para cá, programas foram desenvolvidos em todo o mundo.
Os gabinetes de crise passaram a incorporar não apenas estratégias militares, mas uma série de medidas relacionadas aos procedimentos de comunicação institucional em meio às crises. A democracia exige simultaneamente ações emergenciais para conter os problemas e a máxima transparência nos processos decisórios. Após três décadas e muitas outras crises, os processos do gerenciamento de crises foram aprimorados e utilizados em outros contextos, como a preservação da imagem de marcas, pessoas e empresas. Esse conjunto de métodos visa colocar ordem na confusão.
A sociedade brasileira está em tempo de aplicar rápido as lições aprendidas no último ano. É tempo de ouvir sanitaristas, enfermeiros, médicos, pesquisadores científicos, gestores, e todos que atuaram na linha de frente da pandemia. Precisamos ouvir estes profissionais, reunirmos e divulgarmos as melhores práticas. Sobretudo, é tempo de superarmos impasses elementares.