Os desafios do governo Lula para levar internet às escolas públicas
‘Havia colégios com as coordenadas no meio do oceano’, afirma responsável por maior mapeamento para conectar estudantes
O Governo Federal lançou, nesta terça-feira, 26, a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (ENEC). O programa surge para coordenar as políticas existentes de modo a garantir conectividade de qualidade para as quase 140 mil escolas públicas de educação básica do Brasil, até 2026.
De acordo com o Censo Escolar de 2022, das 138.355 escolas públicas no Brasil, 22 mil escolas não tem nenhum acesso à internet. A maior parte das escolas totalmente sem acesso à internet está na região Norte (47,6%).
Mesmo nas escolas que tem alguma internet, ainda há um desafio de que o aluno possa utilizá-la para aprender.
Menos de 1 em cada 10 escolas conectadas possui velocidade adequada aos parâmetros internacionais e consegue levar a internet até a sala de aula. São 25 milhões de alunos que não têm acesso adequado ao mundo digital.
“Democratizar o acesso à internet nessas regiões é garantir educação e cidadania digital para toda a população”, afirma Cristieni Castilhos, diretora-executiva da MegaEdu, organização sem fins lucrativos que trabalha para levar internet de alta velocidade para todas as escolas públicas do Brasil.
O que muda com a nova política é que, pela primeira vez, o governo federal se comprometeu a garantir recursos para todas as escolas públicas por meio de um plano robusto e com uma data clara.
Para Castilhos, é urgente resolver o problema. “Na pandemia vimos que o acesso à internet foi o grande motivo pelo qual os alunos não puderam aprender. O lançamento da ENEC é apenas o primeiro passo. É fundamental que o modelo de governança garanta a elaboração de metas e indicadores concretos e o monitoramento contínuo da execução das diferentes políticas públicas para garantir que a meta de universalização seja cumprida até 2026, além de implementar iniciativas de formação de professores e que levem recursos digitais para as escolas”, diz.
Saiba mais abaixo:
Como o Brasil vai conseguir avançar nessa temática?
Cristieni Castilhos – Para nós, a ENEC representa um grande avanço, pois, pela primeira vez, o Governo Federal oferece a governança necessária para coordenar políticas que, de forma isolada, não poderiam atender todas as 138.355 mil escolas brasileiras. Há um grande desafio a ser encarado, mas o potencial também é enorme. Um dos diferenciais da estratégia é a articulação entre políticas públicas de conectividade escola. É possível agora identificar qual solução mais se adequa à realidade de cada escola. Além do Governo Federal, o Distrito Federal, os estados e municípios também poderão potencializar a Estratégia Nacional coordenando as políticas locais. Com isso, se evita a sobreposição de escopos e recursos, ou seja, diminui-se o risco de uma escola receber múltiplos recursos, enquanto outras ficam sem investimento para conectar seus alunos. Mas, é importante ter em mente que o lançamento da ENEC é o começo. A partir de agora é fundamental que o modelo de governança garanta a elaboração de metas e indicadores concretos e o monitoramento contínuo da execução das diferentes políticas públicas para garantir que a meta de universalização seja cumprida até 2026.
Qual a importância de garantir acesso à internet de qualidade nas escolas públicas?
Cristieni Castilhos – Hoje há uma grande disparidade na educação. Enquanto nas escolas privadas computadores e tablets são parte da lista de materiais escolares, nas escolas públicas, mais da metade dos alunos não têm computadores, de acordo com dados do Censo. Possibilitar acesso à internet nas escolas públicas é fundamental para garantir que todos os alunos tenham igualdade de oportunidades. Ter acesso ao mundo digital é um direito que não pode ser negado aos jovens do século XXI. Conectar as escolas à internet é um investimento não apenas na educação, mas também no desenvolvimento da sociedade como um todo.
Como a MegaEdu atua?
Cristieni Castilhos – O primeiro desafio que a MegaEdu encontrou para levar internet a todas as escolas públicas era a falta de dados consolidados. Por isso, a organização se dedicou a realizar um diagnóstico profundo da situação da conectividade das escolas, havia escolas que apareciam com as coordenadas no meio do oceano. Sem dados precisos sobre o quê cada escola precisava era impossível saber quanto de investimento era necessário para resolver o problema. A MegaEdu se debruçou então sobre essas questões e produziu um estudo inédito. O Estudo de Conectividade de Escolas Públicas, desenvolvido pela MegaEdu em parceria com o Boston Consulting Group [BCG], foi o primeiro estudo realizado pela organização. Desde então, a organização segue produzindo dados e informações em parceria com organizações como a FGV e outras organizações da sociedade civil. A organização apoia tecnicamente qualquer gestor público que queira resolver o problema nas suas escolas. Quando chegamos nas escolas públicas e nas Secretarias de Educação, muitas vezes os diretores e os gestores precisam de apoio para entender a situação exata da internet nas suas escolas. A partir do diagnóstico realizado em conjunto, a MegaEdu ajuda as escolas e as Secretarias a terem um plano claro de como levar internet de alta velocidade para todos os seus alunos.