Não foi só o presidente Jair Bolsonaro que mudou a estratégia de comunicação nas últimas semanas. Os generais de quatro estrelas do Palácio do Planalto também se calaram ou mudaram o tom. Isso vale até para o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, que sempre foi beligerante. O general Braga Netto, da Casa Civil, é desde o começo o mais comedido. O general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, passou para a reserva no dia primeiro de julho para também atenuar a tensão.
Os militares no governo Bolsonaro nunca quiseram ser vistos como um grupo, por isso decidiram que jamais fariam uma reunião só deles. Mas era inevitável que fossem vistos assim. E que seus atos e palavras fossem acompanhados com muita atenção. Mas o fato é que, no começo do governo, muitos analistas achavam que eles iriam moderar o radicalismo do presidente Bolsonaro. Eles não só não foram bombeiros, como em alguns momentos pareciam ser parte do grupo incendiário. Nas últimas semanas fizeram uma necessária e bem-vinda correção de rota.
A mudança de postura, essencial na diminuição da temperatura política em Brasília, mostra que o silêncio dos generais, os assessores mais próximos do presidente, pode ser o corolário do reconhecimento dos erros do governo nos últimos meses. O pior deles: o de não acreditar na gravidade da pandemia do coronavírus, que aprofundou a crise.
Alguns dos generais do governo ajudaram, com declarações e atitudes, a aprofundar o ambiente de radicalização. A ida do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, no helicóptero que sobrevoou uma manifestação foi criticada internamente nas Forças Armadas. A ida do general Ramos a uma manifestação também. O tom agressivo do general Heleno elevou ao ponto máximo a tensão. O silêncio, então, se impôs.
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Clique e AssineO general Augusto Heleno não posta em seu Twitter desde o dia 30 de junho. A última publicação falava sobre integrantes do primeiro escalão do governo em meio às polêmicas envolvendo inconsistências no currículo do ex-quase-ministro da Educação Carlos Alberto Decotelli.
“Aos desinformados: o GSI/ABIN examinam, sobre quem vai ocupar cargos no Governo, antecedentes criminais, contas irregulares e pendentes, histórico de processos e vedações do controle interno. No caso de Ministros, cada um é responsável pelo seu currículo”, escreveu Augusto Heleno.
O general Luiz Eduardo Ramos deu entrevista à VEJA em 12 de junho, na qual afirmou ser “ultrajante e ofensivo” dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar golpe. Na ocasião, o ministro alertou: “o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”.
Depois disso, em 18 de junho, o ministro usou o Twitter para questionar decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de contar quantos militares compõem o governo. Na publicação, Luiz Eduardo Ramos perguntou: “há algum problema com os militares?”. Agora, nessa terça-feira, 7, após um hiato de 21 dias, voltou a fazer declarações mais fortes, defendendo o presidente e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Nos dois casos, criticou a cobertura da imprensa.
O general Braga Netto, da Casa Civil, teve um momento de protagonismo que assustou a área econômica, quando anunciou o plano para a retomada pós pandemia com investimento estatal. O ministro da Economia, Paulo Guedes, reagiu e ele recuou suas tropas.
Ficou claro agora que o avanço do inquérito contra Flávio Bolsonaro e a prisão do ex-faz-tudo da família Fabrício Queiroz, no dia 19 de junho, fizeram o presidente e seus filhos mudarem a postura pública. E como disse VEJA, isso é bom para o país. Os ministros militares também têm feito esforços para evitar serem foco de novas tensões.
Os generais do Planalto, contudo, não ajudaram Bolsonaro a evitar o maior de seus erros, minimizar a pandemia e tratar o problema como pretexto para a luta política. Em alguns momentos tornaram a crise mais aguda, como na nota de Augusto Heleno do dia 22 de maio à nação brasileira. Essa mesma que agora o ministro Celso de Mello considera “insólita” e “inconcebível”.