Não estou na fila daqueles que veem o próximo 7 de setembro como “o início do golpe”. Posso estar sendo ingênuo, mas faço um olhar mais pragmático: o presidente Jair Bolsonaro quer apenas manter uma narrativa política para os seus seguidores já convertidos.
Ou seja, para o grupo de 15% de brasileiros que, surpreendentemente, ainda o apoiam. Aliás, o presidente há muito tempo só fala para eles e mais ninguém. Não governa para o país, e sim de costas para o Brasil, olhando apenas para os seus radicais.
Dito isto, fica claro o seguinte: Bolsonaro não está somente dizendo que vai participar dos atos do dia 7 de setembro. Ele está fazendo propaganda, é o principal mobilizador, estimulador e coordenador do evento. Bolsonaro criou para o país uma expectativa em relação ao próximo dia 7.
Com a visibilidade de um presidente, falando o tempo todo do Dia da Independência, Bolsonaro assumiu ser, na verdade, o chefe desta mobilização que trata de pautas ultrapassadas, como a discussão sobre o voto impresso. Vamos dar nome aos bois. A última dele, como mostrou o Radar, é a de dizer que os atos da próxima semana serão pela defesa da “liberdade de expressão”.
Ocorre que os outros grupos políticos querem e têm o direito de se manifestar. Mas, em São Paulo, onde Bolsonaro promete estar presente, pode ser sim perigoso.
Parece-me que tudo que o presidente quer agora é um confronto nas ruas. Isso para poder justificar suas propostas injustificáveis e antidemocráticas.
Aliás, ninguém aguenta mais o clima criado pelo presidente da República no país. Parece o tempo todo desejar uma guerra civil – vide a frase do fuzil e do feijão. A nossa jovem democracia não merece um Dia da Independência com confrontos após 17 meses de pandemia.
Apesar da proibição do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), uma decisão da Justiça concedida nesta segunda-feira, 30, garantiu a possibilidade de manifestações de grupos opositores ao presidente no mesmo dia. O governador não vai recorrer da decisão, mas está preocupado.
“Nós não queremos é um encontro dos que são a favor e dos que são contra [o presidente], isso seria nocivo e colocaria em risco a integridade até física dos manifestantes”, afirmou Doria.
Entidades ligadas ao agronegócio também se posicionaram com medo de confrontos, após criticarem claramente o presidente pelo tensionamento que ele causa no país. Em manifesto, pediram “paz e tranquilidade” e “respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos”.
O melhor seria que as outras frentes políticas evitassem se manifestar no próximo dia 7 de setembro. O país já caiu em armadilhas demais criadas por Jair Bolsonaro.