O protagonismo das empresas na agenda climática pós COP 26
Daniel Lança e Fábio Galindo analisam o papel do setor produtivo no cumprimento das metas climáticas da conferência da ONU sobre o clima
Passada a Conferência da ONU sobre o Clima, realizada em Glasgow, Escócia (COP 26), é momento de pragmática reflexão sobre o modo como transformaremos as ricas discussões ali tratadas em ação concreta e palpável. E não há dúvida: a iniciativa privada será a grande protagonista da concretização da nova agenda climática.
Para quem vê de longe, o cenário pós COP 26 pode expressar uma aparente assimetria entre a expectativa da sociedade – sedenta por transformações sustentáveis – e a falta de capacidade governamental de articulação em prol da proteção das florestas ou da redução das metas de emissão de CO2 ou de metano, por exemplo.
De fato, a COP 26 trouxe extensa e desafiadora agenda para os próximos anos que prevê a redução gradativa do uso do carvão, coloca em xeque o financiamento de combustíveis fósseis e avança nas regras sobre o mercado internacional de carbono, visando limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, ainda que com metas insuficientes para tal ambição. Enormes desafios que demandam forte ação orquestrada.
É exatamente nesse contexto que as grandes corporações podem ter um papel de destacado protagonismo. O dinamismo da iniciativa privada potencializa essa necessidade de ação rápida, assertiva e contundente, com sua característica aptidão por planejamento eficaz e execução assertiva e capacidade de inovação, que pode acelerar uma transição justa e inclusiva. Além disso, é natural que o setor produtivo tenha mais fácil acesso a capital, amplamente disponível para iniciativas ESG (sigla para ambiental, social e governança).
Para tanto, é preciso que as empresas de fato se engajem com a agenda climática discutida na COP 26. A boa notícia é que já há forte sensibilização do setor financeiro e das grandes indústrias, no Brasil e no mundo; sobretudo quanto aos primeiros, que lideram as discussões da nova agenda climática ao modular corajosamente as regras de financiamento que secam, a cada dia, a empresas poluidoras, inviabilizando a continuidade desses negócios a longo prazo.
O Brasil é sem dúvida a maior potência sustentável do mundo – essa talvez seja nossa principal vantagem competitiva. Por isso, nossas empresas também detêm a potencialidade de explorar essa nova agenda ESG, que ajuda o planeta e busca lucro com propósito. Enquanto governos têm importante papel regulatório e fiscalizador, a força motriz da mudança caberá ao setor produtivo, consciente, sustentável e vanguardista. O ativismo corporativo é a chave da mudança na década da ação.
* Fábio Galindo é Conselheiro de Administração da Aegea e Águas do Rio. Foi promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais e Secretário de Estado de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso.
* Daniel Lança é Head de ESG do Instituto Inhotim, sócio da SG Compliance e professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC). É Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa e especialista em Gestão de Riscos pela Universidade Harvard.