Não é exagero dizer que o futuro político do presidente Jair Bolsonaro será fortemente influenciado para o bem ou para o mal pelo inquérito que investiga as graves denúncias de interferência política na Polícia Federal elencadas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.
Se a investigação terá um papel tão importante no país, é razoável dizer também que os depoimentos de seis delegados da PF, cinco deles que ocuparam postos-chaves na gestão anterior da corporação, serão fundamentais.
Nesta segunda-feira, 4, o procurador-geral da República, Augusto Aras, requereu, no âmbito da investigação, os interrogatórios do ex-diretor Maurício Valeixo e dos delegados Ricardo Saadi, Carlos Henrique Sousa, Alexandre Saraiva, Rodrigo Teixeira e Alexandre Ramagem.
Se Ramagem é visto como “aliado” do presidente, por conta da amizade com os filhos 02 e 03 e as declarações do próprio Bolsonaro, Valeixo, Saadi, Sousa, Saraiva e Teixeira são todos extremamente respeitados pela categoria e nutrem inegavelmente profunda admiração por Moro.
E é aí que mora o “x” da questão. Colegas investigadores afirmam que o sentimento de empatia não terá influência. São todos atores experientes do direito e sabem a importância de se manterem fiéis aos fatos dentro de um inquérito policial. Internamente na PF, contudo, já começou a pesar o entendimento da relevância que cada um desses depoimentos terá no curso político do país nos próximos meses.
Saadi era o superintendente da PF no Rio de Janeiro quando Jair Bolsonaro afirmou, em agosto do ano passado, que gostaria de trocá-lo por “questões de produtividade”. Muito querido pelos colegas policiais, o delegado desabafou que ficou arrasado com a declaração do presidente.
Saadi já deixaria o cargo por vontade própria naquela época. A PF de Maurício Valeixo, então, nomeou para o posto o delegado Carlos Henrique Sousa, que deixou a superintendência de Pernambuco e seguiu para o Rio. Mas não sem antes ver Bolsonaro tentando nomear Alexandre Saraiva para a chefia do órgão em solo carioca.
O delegado Rodrigo Teixeira, por sua vez, foi superintendente da corporação em Minas Gerais. Era o chefe da PF no estado quando foi iniciada a investigação sobre a tentativa de assassinato de Bolsonaro, à época candidato a presidente, o rumoroso caso Adélio Bispo.
Todos esses delegados, como se pode notar, ajudarão a elucidar se havia mesmo uma tentativa do presidente da República de intervir politicamente na PF, já que na superintendência da PF no Rio correm investigações sensíveis ao clã Bolsonaro e, em Minas, um caso no qual a família presidencial contesta o resultado.
Acostumados a influenciar os rumos do país através do resultados das investigações conduzidas por eles, e não por declarações dadas no curso do processo, os delegados terão agora que se acostumar com aquilo que são mais avessos: os holofotes da opinião pública.
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