Mais de sete anos após o rompimento da barragem de Mariana (MG) – o maior desastre ambiental da história brasileira – a briga entre a mineradora e os atingidos ganha mais um capítulo. A BHP (por meio de sua subsidiária brasileira) acusa o escritório Pogust Goodhead, que representa cerca de 700 mil vítimas na ação contra a multinacional nos tribunais ingleses, de práticas desleais.
A mineradora entrou com um pedido de intimação do Pogust Goodhead na 4ª Vara Cível e Agrária do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, argumentando que o órgão estava impedindo clientes de pleitearem indenizações no Brasil e pedindo até 30% das indenizações recebidas por meio do sistema Novel – ferramenta criada pela Fundação Renova para cadastro e processamento de pagamentos às vítimas. Pogust Goodhead não é parte no processo perante a 4ª Vara Cível e Agrária.
Para Thomas Goodhead, sócio-administrador e CEO do Pogust Goodhead, a investida da BHP é uma reação aos revezes que a empresa vem sofrendo no processo nos últimos meses. “Nunca proibimos os clientes de participar de programas de reparos no Brasil, nem buscamos recuperar quaisquer taxas dos clientes em relação aos valores recebidos por meio desses programas. Quaisquer insinuações da BHP nesse sentido são falsas e demonstram até onde a BHP e seus advogados irão para tentar frustrar a justiça no caso de Mariana. Não nos deixaremos intimidar pela BHP e enfrentaremos de frente a propaganda feita por ela e seus advogados”, esclarece.
Goodhead destaca ainda que a ofensiva da BHP ocorreu logo após a corte inglesa ter negado o pedido da mineradora para que o julgamento em Londres fosse adiado indefinidamente ou, alternativamente, por 15 meses. “Talvez não seja coincidência que a empresa esteja fazendo isso logo após a juíza na Inglaterra determinar que o julgamento de responsabilidade da BHP seja mantido para 2024 e que os altos executivos da BHP forneçam seus e-mails e documentos relacionados ao desastre, bem como sejam interrogados pessoalmente na Corte de Londres”, aponta.
A BHP é uma das controladoras da Samarco, que administrava a barragem que rompeu em 2015. Desde então, a BHP e as autoridades brasileiras negociam indenizações para os atingidos, sem qualquer acordo. Diante do impasse, muitas das vítimas decidiram, em 2018, recorrer à Justiça na Inglaterra – onde a mineradora está listada em bolsa – para tentar obter uma indenização mais rápida. A ação vem avançando desde então e atualmente está avaliada em mais de R$ 220 bilhões, sendo a maior ação coletiva da história mundial.
O que diz a BHP
Procurada sobre os argumentos para intimar advogados do escritório, a BHP não respondeu questionamento até o horário combinado. Em ligação, a assessoria da empresa afirmou que a reportagem estava “errada” e pediu os documentos que embasam a matéria. A documentação, obviamente, não foi entregue pela coluna.