Lula arruma de um lado e estraga de outro no meio ambiente
Em artigo enviado à coluna, Rodrigo Vicente Silva analisa as últimas decisões do presidente envolvendo a Petrobras e a tragédia no RS
Lula, como todo bom político, está sempre pronto para, como diz o ditado, dar uma no cravo e outra na ferradura. Parece importante quando se fala do complexo sistema presidencialista brasileiro, em que é necessário gerir toda a coalizão que o elegeu, junto de um congresso tão diverso. O presidente, contudo, fez escolhas erradas demais quando movimentou as peças e mudou postos importantes do governo: Prates e Pimenta são só uma parte dos erros de Lula, que não vêm de agora, claro.
Para entender os erros do presidente, vale voltar à história recente e lembrar de um fato dos idos de 2019. Ciro Gomes fazia uma palestra daquelas que ele adora fazer, tirando gargalhadas da plateia, enquanto arrancava números e respostas para tudo. Certo momento, ele se dá conta de um fato, quando era ministro da Integração Nacional no segundo governo Lula. Na palestra que dava a estudantes, Ciro contou que estava em uma reunião entre alguns ministros lá por 2007 e, em algum momento das decisões acerca da transposição do rio São Francisco, ele se irrita com a então Ministra do Meio Ambiente Marina Silva e solta a esdrúxula frase: “Marina, a gente aqui discutindo água para milhares de pessoas do semiárido e você preocupada com ‘suruba de peixe?’”
A ministra Marina, claro, estava preocupada com a reprodução dos peixes e outras espécies porque, sabidamente, entendia – e entende muito – que não adiantava cobrir de um lado e descobrir de outro. Talvez tenhamos ouvido pouco o que dizia a ministra. O tempo passou e temos visto que o meio ambiente tem cobrado e muito os erros humanos. Marina Silva está de volta ao ministério, honrosa e sabidamente, fez coro na frente ampla que elegeu Lula para o terceiro mandato.
Há poucos dias, Lula fez uma aposta arriscada. Trocou Jean Paul Prates da presidência da Petrobrás e pôs no lugar Magda Chambriard. Se um será melhor que outro na gestão não sabemos ainda. Mas o que temos de concreto é que Lula optou no cargo da maior empresa brasileira alguém que já pediu a intervenção do próprio Lula, a fim de que fosse efetiva a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Em um momento em que se clama pela transição energética, o que o presidente prefere é tirar proveitos do petróleo já e agora. Não é muito diferente do que já fez no passado.
Não nos esqueçamos que Lula e depois Dilma preferiram os arroubos de Ciro Gomes no Ministério da Integração Nacional a ouvir os pedidos da ciência que previa desastres iminentes diante de escolhas que não pareciam as mais acertadas como as construções de Belo Monte, Santo Antônio, Jirau. Preferiu-se, à época, transferir o desenvolvimento amazônico para a Secretaria especial de assuntos estratégicos comandada por Mangabeira Unger a deixar nas mãos de Marina Silva, que viu seu ministério esvaziado e teve de buscar outros voos. Marina, democrata que é, como dissemos, voltou e está aí para legitimar a frente que levou Lula ao terceiro mandato.
A tragédia no Rio Grande do Sul deu mais um alerta a todos nós no que diz respeito ao meio ambiente. Ao presidente Lula também, que se empenhou fortemente no auxílio aos desabrigados. Fez-se de estadista e colocou todo o Estado para ajudar os gaúchos. Mas ao fim e ao cabo resolveu nomear Paulo Pimenta para a secretaria especial de auxílio ao estado do Rio Grande do Sul. Não creio que escolher um quadro político seja problema. Toda a tragédia, como a enfrentada pelos gaúchos, é também um problema político e precisa ser resolvido com quem tem acesso aos espaços de decisão. Escolher o próximo candidatíssimo ao Palácio Piratini é o mais delicado. Principalmente quando o que mais se precisa é de alguém atento, claro, às demandas pontuais dos que precisam se reerguer, mas também alguém sensível às necessidades de longo prazo pelas quais terá de passar o Rio Grande do Sul. Não sei se Pimenta, que não vinha há muito sendo um bom ministro da comunicação, seja o melhor nome. Veremos. De nada adiantará, contudo, escolher boas decisões ali, se Lula optar por imediatismos em outros espaços, a exemplo da exploração de petróleo. O meio ambiente é inteiro e tem cobrado de todos a conta. É urgente que Lula se dê conta disso.
* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com a coluna