Jovens divididos no mundo digital, alerta estudo de Harvard
Relatório do Berkman Klein Center mostra que 52% da população mundial não têm acesso à internet. Estar fora significa déficit no processo de aprendizado
O temor dos especialistas do universo digital sempre foi a possibilidade do aprofundamento das desigualdades. A pandemia agrava essa realidade. Segundo o relatório do Berkman Klein Center da Universidade de Harvard sobre a era digital, 52% da população mundial não têm acesso à internet, e 90% dos jovens e adolescentes sem vida digital estão na África. Com o avanço do coronavírus, estar fora da internet significa estar fora também do processo de aprendizado.
O mundo digital vai desde o blog escrito, o game, a interação no Instagram até as aulas online e a complexa codificação, novo nome para a programação de dados. Todas essas facetas formam um canal fundamental para o desenvolvimento da criatividade e das habilidades sociais dos mais jovens. E, portanto, dão uma poderosa ferramenta de mobilidade social. Por outro lado, a desigualdade digital é mais lesiva aos excluídos do que quando pensamos na sua antecessora, a desigualdade “analógica”, ou o acesso aos recursos convencionais de ascensão social.
Divulgado nesta segunda-feira, 29, o relatório do Berkman Klein Center é interessante para educadores, para os que estudam o novo comportamento dos jovens, mas mostra o problema real. Os jovens “são aqueles que demograficamente têm mais alto nível de conectividade”. Contudo, diz o texto, eles “não participam nas mesmas condições”. Um lado positivo levantado pelo estudo é o de alguns influenciadores da internet. Uma jovem vegana, por exemplo, que começou a postar receita e, um tempo depois, passou a ser patrocinada pela indústria de comida vegana.
Só que a inserção no mundo digital depende do país em que estão, do nível educacional dos pais, das condições sociais, raciais e de gênero. Então, para reduzir as desigualdades, essa questão deve se tornar urgente em várias nações, impulsionada pela realidade imposta na pandemia. Sem acesso ao mundo digital, não é que o ensinamento fica comprometido. Se torna inexistente.
No Brasil, esse situação de desigualdade de acesso encontra um Ministério da Educação conflagrado. Primeiro, um ministro que se preocupava primordialmente em alimentar a guerra ideológica brasileira e pedia até a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, o cargo está vago há dez dias e com o indicado, Carlos Alberto Decotelli, tentando explicar seu currículo.
O Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), tem R$ 20 bilhões em caixa que poderiam ser usados para investir na informatização de escolas e de estudantes das classes mais pobres. Enquanto o governo Jair Bolsonaro propôs acabar com o Fust e outros fundos semelhantes, a tarefa de reduzir a desigualdade digital fica cada vez mais urgente. É preciso agir logo, antes do lançamento do 5G, tecnologia que pôs o país no meio de uma disputa entre os EUA e a China. Ela criará uma brecha difícil de transpor entre os jovens brasileiros sem acesso à tecnologia.