O presidente Jair Bolsonaro está perdendo a mão na estratégia que sempre usa para tentar desviar o foco de assuntos que o atrapalham eleitoralmente. Enquanto o país está mobilizado pela notícia do assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda pelo policial penal Jorge Guaranho, o presidente voltou a atacar Edson Fachin na tentativa de mudar a pauta.
A incapacidade de Bolsonaro de mostrar alguma compaixão pela família de Marcelo, dirigente do PT morto pelo bolsonarista, faz com que o presidente queira, a todo custo, desviar o foco do que o coloca no corner do complicado ringue político brasileiro.
No ataque mais recente, Bolsonaro chegou a chamar Fachin, ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de “ditador do Brasil”.
“O Fachin falou que não tem mais conversa com as Forças Armadas. Eu acho que ele já se intitulou o ditador do Brasil. Estou achando há muito tempo. Quem age dessa maneira não tem qualquer compromisso com a democracia. (…) Fachin foi quem tirou o Lula da cadeia e sempre foi advogado do MST. Nós sabemos o que tem na cabeça dele”, disse o presidente.
Em uma só declaração, vários ataques graves. Chamar Fachin de ditador é um absurdo. O presidente do TSE tem cumprido seu papel de forma democrática e, inclusive, já deixou claro que o processo eleitoral pode ser acompanhado.
Dizer que o ministro não tem compromisso com a democracia é outro absurdo. Fachin tem respeitado as opiniões contrárias, muito diferente do atual presidente.
Outra inverdade dita pelo presidente é acusar Fachin de ter tirado Lula da cadeia. Não é a primeira vez que Bolsonaro faz essa afirmação de forma leviana.
Fachin fez o que seu cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal determina: analisou o processo e anulou a sentença dada pelo então juiz Sergio Moro contra Lula por entender que a questão não deveria ter tramitado na justiça do Paraná.
O plenário do STF acompanhou o entendimento de Fachin, ou seja, validou o entendimento e anulou o processo. Isso devolveu a elegibilidade a Lula. A liberdade do petista aconteceu antes disso, em 2019, quando o STF vetou a prisão após condenação em segunda instância.
Nos últimos dois meses, já foram pelo menos quatro declarações ofensivas disparadas contra o presidente do TSE, ator do poder Judiciário mais importante em um período pré-eleitoral.
Fachin não tirou Lula da cadeia. Fachin não é advogado do MST. O ministro tem mantido a postura institucional e, na maioria das vezes, ignorado os ataques infundados do presidente. Mas Bolsonaro continua a atacar instituições e outros poderes.
Ao menos desta vez, contudo, a tática de desviar o foco não teve o efeito que o presidente gostaria. Apesar de absurda, a declaração de Bolsonaro nesta segunda, 11, reverberou muito pouco.
O que esteve na pauta foi como o presidente se comportou em relação aos seus seguidores radicais após o assassinato de Marcelo Arruda.