Depois de 134 dias segurando o nome de André Mendonça para a sabatina no Senado, Davi Alcolumbre finalmente marcou a data para que a indicação seja analisada pelos senadores. No próximo dia 30, o advogado “terrivelmente evangélico” terá seu nome avaliado pelos parlamentares e, se for aprovado, ocupará uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF).
Acontece que Alcolumbre fez certo ao tentar impedir a indicação de Mendonça, mas pelas razões erradas. De fato, é um equívoco o Senado “passar pano” na indisfarçável tentativa do governo de aparelhar o STF com a indicação de ministros que sejam submissos ao presidente Jair Bolsonaro.
Desde o início do atual governo, André Mendonça deu sinais contundentes de que vai obedecer às orientações do presidente. Além disso, Mendonça é Pastor e já deixou claro que sua religião é prioridade, embora ele insista em ocupar cargos nos quais a sua crença não deveria entrar em questão.
Quando era Ministro da Justiça, por exemplo, aceitou a elaboração de um dossiê sobre mais de 500 servidores públicos que seriam opositores do governo num claro alinhamento com a guerra travada por Bolsonaro contra aqueles que não concordam com seus pensamentos.
Na cerimônia de posse como Ministro da Justiça, Mendonça chegou a chamar Bolsonaro de profeta. “Presidente, Vossa Excelência tem sido há 30 anos um profeta no combate à criminalidade”, afirmou.
Há poucos meses, durante uma reunião na Assembleia de Deus, Mendonça afirmou sua submissão aos bispos da igreja. “Vocês é quem são autoridades sobre mim. Eu sou um discípulo”, disse o advogado, esquecendo que, ao ocupar um cargo público, deve ser submisso unicamente à Constituição Federal.
Por esses e vários outros motivos, André Mendonça não deveria ser ministro do STF. Em um momento delicado como esse, no qual o presidente e seus seguidores já declararam guerra ao Judiciário, aprovar o nome de Mendonça para ocupar uma cadeira na mais alta corte do país é um risco para o Brasil.
Apesar dessas razões, Alcolumbre não segurou a sabatina por isso. Ele fez parte das distribuições das emendas de relator, se sentiu preterido e está cobrando a conta. Agora, foi vencido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e vai ter que aceitar que a sabatina aconteça.
A definição da data é uma vitória para o governo, para Pacheco e, principalmente para Mendonça, que “devagar, devagarinho” parece estar mais perto do seu sonho profissional.