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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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A omissão da igreja evangélica – entrevista com Antônio Carlos Costa

Ao teólogo Rodolfo Capler, o fundador da Ong Rio de Paz fala sobre o avanço da fome e comenta os últimos acontecimentos envolvendo a Igreja Presbiteriana

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 8 ago 2022, 14h46 - Publicado em 24 jul 2022, 21h16
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  • Em sua extensa e contundente obra “Fome”, o escritor argentino Martín Caparrós, afirma em suas páginas iniciais: “Nenhuma doença, nenhuma guerra matou mais gente. No entanto, nenhuma praga é tão letal e, ao mesmo tempo, tão evitável como a fome”. No Brasil, desde o período colonial, a fome sempre foi uma grande adversária – evitável. Com a criação e implementação do Programa Fome Zero que visava à erradicação da fome e da desnutrição no país, o Brasil conseguiu reduzi-la de 10,6 % de sua população total (cerca de 19 milhões de pessoas), no início dos anos 2000 para menos de 2,5 % no triênio 2008-2010, segundo fontes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), atingindo um marco mundialmente reconhecido, em direção ao caminho da promoção do direito humano à alimentação. Apesar do sucesso do Estado brasileiro na erradicação da fome (em quase uma década), o Brasil voltou ao Mapa da Fome, em 2018, com 4,1 % da sua população atual enfrentando falta crônica de alimentos. Já são mais de 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil e conforme o mais recente relatório da FAO, o número de brasileiros que experimentam algum tipo de insegurança alimentar ultrapassou os 60 milhões – ou seja, um em cada três cidadãos. De acordo com a Rede PENSSAN, em pouco mais de um ano, surgiram 14 milhões de novos famintos, fazendo o Brasil regredir a patamares equivalentes aos das décadas de 1990.

    Para discutir a atual conjuntura social brasileira e analisar a escalada da fome no Brasil, entrevistei o teólogo, jornalista e fundador da Ong Rio de Paz, Antônio Carlos Costa. Conhecido pelo seu estilo combativo, por sua perceptível eloquência e admirável brilhantismo intelectual, Antônio, que foi pastor presbiteriano por mais de duas décadas, em 2008, fundou a Ong Rio de Paz com o objetivo de promover ações voltadas para redução das violações dos direitos humanos no Rio de Janeiro. De lá para cá, as manifestações coletivas organizadas pelo ativista ocuparam as páginas e as capas dos principais jornais do Brasil e do mundo. Em outubro de 2021, Antônio depôs na CPI da Covid, fazendo uma das mais emocionantes denúncias contra a negligência do atual governo na gestão da pandemia. Em nossa conversa, Antônio compartilhou seus sentimentos e suas mais profundas impressões sobre um Brasil “invisível”, miserável e esconjurado pelo Estado. Ele também fez críticas ao atual governo e denunciou, de forma contundente, a omissão da igreja evangélica em relação não só ao avanço da fome, mas também ao apoiar Bolsonaro.

    Leia a seguir a entrevista completa:

    Rodolfo Capler – Nos últimos tempos, o senhor andou viajando ao chamado “Brasil profundo”, inclusive, esteve recentemente no sertão de Alagoas.  Nessas suas incursões, o que mais lhe chamou a atenção?

    Antônio Carlos Costa – De 2020 pra cá, eu visitei os principais bolsões de miséria do Brasil. Estive com os ribeirinhos na Amazônia e visitei o sertão nordestino em duas ocasiões – entre 2020 e 2022 – percorrendo cinco estados da federação, em incontáveis cidades e povoados. Na última semana, estive com os desabrigados da inundação que atingiu o estado de Alagoas. Em todas essas viagens, o que mais me chamou a atenção é o fato de que o brasileiro está indignado com o preço dos alimentos. Todas as pessoas com as quais conversei mencionaram que com a mesma quantia de dinheiro que usavam no passado não comprariam hoje o que podiam comprar. Como as pessoas são muito pobres nessas regiões do país, elas sabem dizer o quanto valia a lata do óleo, o quilo do arroz e a margarina, há cinco anos e quanto os mesmos produtos valem hoje.  As pessoas estão reclamando muito também do preço do gás e da gasolina. Em conexão a isso, me impressionou o aumento do desemprego. São muitos brasileiros pobres querendo entrar no mercado de trabalho, porém, sem a mínima perspectiva de vida. Muitos estão dispostos a se submeter ao trabalho mais penoso em ambientes insalubres para, pelo menos, receberem um salário mínimo e ficarem livres do fantasma da fome. Vi muita gente morando em casas e em barracos alugados. Eles pagam entre R$350,00 a R$ 400,00 reais de aluguel e ainda precisam saldar luz e água. Essa gente não vive…

    Em razão das pesquisas que fiz e das pessoas que entrevistei, eu acredito que, hoje são milhões de brasileiros que não estão encontrando emprego e que vivem do Bolsa Família. O Brasil hoje, se equilibra sobre o Bolsa Família, de modo que se o Bolsa Família for suprimido, o país desmorona. Invariavelmente, sempre pergunto às famílias pobres do nordeste brasileiro: “Se o Bolsa Família fosse retirado de suas casas, o que aconteceria?” Comumente a resposta delas é: “Não teríamos como colocar comida dentro de casa”. Afora isso, em minhas viagens, me impressionou às precárias condições de moradia do sertanejo. São milhares e milhares de casas que não recebem luz do sol, nas quais não há circulação de ar e onde as pessoas têm que conviver com ratazanas e escorpiões, sujeitas e desmoronamentos e inundações. Tais pessoas vivem numa precariedade social perturbadora. Diante disso, penso que um candidato político que não tem um programa para os despossuídos, é indigno de ocupar cargo público no nosso país.  Esta questão moral é a primordial em nossa nação: o que fazer com os milhões de brasileiros que estão na pobreza? 

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    O que me entristece nesta conjuntura é ver pastores evangélicos renomados apoiando Jair Bolsonaro, que é um presidente que não menciona a palavra pobre nas suas entrevistas, nos seus discursos e nas suas lives. Esses líderes evangélicos precisam entender que cuidar dos que vivem abaixo da linha da miséria hoje no Brasil, significa também cuidar dos evangélicos. Em todos esses bolsões de miséria, me surpreendeu a quantidade de evangélicos na pobreza ou abaixo da linha da miséria. Isso me leva a concluir que tais pastores são homens que não estão dando voz àqueles que eles chamam e consideram suas ovelhas. Ou seja,  são pastores de si mesmos, que ignoram o drama de seus irmãos de fé, que são capazes, até mesmo de tirar o dízimo do Bolsa Família e do seu salário mínimo, para que eles vivam vidas nababescas  e alienadas  em relação ao sofrimento dos despossuídos deste país. Não estou dizendo que os pastores deveriam se preocupar com os pobres pelo fato de entre eles, estarem milhões de evangélicos. O que pretendo afirmar é que ao apoiarem um candidato que não se compromete com a supressão da desigualdade social, estão virando as costas para os membros das suas próprias igrejas. 

    Em minhas incursões pelos rincões do Brasil, vi brasileiros que ainda defecam no mato. Em Maceió encontrei moradores que não têm acesso a um simples banheiro. Eles usam sacolas de supermercado para armazenarem os seus excrementos e os lançam aos mares, lagoas e rios. Eu me deparei com um caso em Currais Novos no sertão do Rio Grande do Norte, que muito me emocionou. Uma moça de 25 anos, mãe de três filhos pequenos, ao não ter o que dar de comer aos seus filhos, encheu uma panela de água e, literalmente, colocou dentro um fraguemento de osso grande, sem carne e gordura anexados e ofereceu aquilo como sopa às suas três crianças. Também entrevistei uma sertaneja que passou a infância e adolescência na roça. Em razão da criação dos Institutos Federais, ela conseguiu concluir os estudos e hoje está finalizando seu doutorado. Contudo, esta moça me declarou que vive em completa insegurança social; ela não consegue emprego. A lição que tiramos de sua biografia é que ela fez o dever de casa, porém o Estado não cumpriu com a parte dele. 

    O que me assombra na desigualdade social brasileira é que a desigualdade por aqui é caracterizada pela completa destituição daqueles que são historicamente ignorados. No entanto, há de se fazer uma ressalva: a situação já foi pior. As políticas públicas implementadas pelo Partido dos Trabalhadores (do qual eu não faço parte), fizeram com que milhões de sertanejos passassem a ter uma vida muito melhor que a vida que viveram seus pais e avós. É fato constatável que boas políticas públicas salvam vidas. Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz Para Todos, Programa Cisternas, Institutos Federais e tantos outros programais sociais, fizeram muita diferença. Todavia, você não vê no sertão, indústria e comércio. O Estado não fez este dever de casa.  Ainda hoje podemos encontrar cidades inteiras que vivem do pagamento do salário do funcionalismo público e das pensões da Bolsa Família. Eu cheguei a encontrar uma igreja na qual o pastor disse para mim: “Toda a arrecadação da nossa igreja e de todos os nossos membros vêm do Bolsa Família”. Ainda vemos um Brasil que tem o dever de casa a ser cumprido. Não é Brasil dos anos 80 e 90. Não é o Brasil daquele mar de gente que mendigava o pão nas estradas do sertão. É um Brasil melhor alimentado, no qual seus filhos conseguem, às vezes, concluir os estudos.  Temos hoje um Brasil no qual, em muitos lares, há luz dentro das casas, televisão e aparelho de som, porém não há emprego.

    Rodolfo Capler – De 2018 para cá, o Brasil voltou a figurar no Mapa da Fome. Por que a fome voltou a ser um gigante a assombrar o país?

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    Antônio Carlos Costa – Houve perdas do ponto de vista das políticas sociais instituídas no início deste milênio no Brasil. Há muita reclamação da pobreza, em especial no sertão. Eu ouvi sertanejos dizerem para mim: “Doutor, teve gente que perdeu tudo e está passando fome”. Muitos se encontram agora nos bolsões de miséria de décadas atrás. O problema hoje, infelizmente, se tornou mais grave. O Estado brasileiro não exerce o seu papel de fomentador da produção e socialização da riqueza. Penso que a engrenagem estatal está enterrando seus cidadãos, tanto em razão da permissão da existência dos bolsões de miséria, quanto no que diz respeito a não atrair os donos do capital; ou seja, o empreendedor, que segue a lógica do modo de produção capitalista. Ele jamais se dirigirá para essas regiões do país para fazer filantropia. Portanto, o Estado precisa fazer este dever de casa: investir no capital humano e em infraestrutura. Nós precisamos de estradas, portos, fontes de energia, ferrovias, ou seja, de meios de aumentar a produção. Carecemos de água.  No sertão a maior necessidade é de poços, que para serem feitos requerem uma mão de obra especializada. Sem capital não podemos fazer o sertão florescer e assim aplacar a fome. 

    Vale ressaltar que não se tem notícia na história da humanidade de distribuição de riqueza que não tenha sido levada a cabo pelo Estado e que não tenha o Estado como o principal protagonista dessa distribuição. Engraçado é que o presidente Bolsonaro chamou o Estado brasileiro – que tirou milhões da miséria através do Bolsa Família – de “Estado babá”. Aqueles que recebiam esse beneficio de socorro passaram a serem vistos como vagabundos. Contudo, não é isso o que eu tenho visto ao andar pelos bolsões de miséria do nosso Brasil. Há uma multidão de pessoas querendo trabalhar, porém não encontram emprego. Quando concorrem a algumas poucas vagas existentes no mercado, é exigida uma qualificação que elas não têm.  

    Rodolfo Capler – A pandemia intensificou a fome?

    Antônio Carlos Costa – Sim. A pandemia contribuiu para isso. É preciso lembrar que a pandemia foi letal, levando o Brasil a se tornar o segundo país em número de óbitos. Embora Bolsonaro tenha aprovado o auxílio emergencial (de forma bem relutante, não podemos nos esquecer), ele propôs o encerramento do beneficio em plena pandemia, quando não havia perspectivas de retenção das mortes e enquanto o comercio estava fechado. O corte do auxílio emergencial acelerou esse processo de avanço da fome. 

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    Antônio Carlos Costa

    Rodolfo Capler – O senhor faz severas críticas ao modo como o governo Bolsonaro tem lidado com a rede de segurança alimentar. O que precisa melhorar?

    Antônio Carlos Costa – Penso que é chegada a hora de implementarmos uma política pública  que representaria uma transformação histórica em nosso país, a saber; a renda básica. Isso significaria que todo brasileiro, pelo simples fato de pertencer a esta nação teria o direito a um salário que lhe permitiria viver com dignidade. Eu não vejo outra saída, nesse momento, para o Brasil. Não acredito que esta seja a meta final, mas penso que no contexto no qual estamos vivendo, se o Estado não estender às mãos para os despossuídos, estes não conseguirão colocar os pés no primeiro degrau da escada da ascensão social. Essa gente precisa do socorro não de um “Estado babá”, mas de um Estado solidário que estabeleça um forte compromisso com a justiça social. Além disso, precisamos de geração de empregos, investimento no campo e de preparo técnico e científico, para que o pobre entre no mercado de trabalho.  Nós precisamos também de um projeto nacional de educação; necessitamos de políticas de Estado para emancipação do povo brasileiro via educação pública e gratuita. Nenhum desses caminhos são novos ou originais. A classe política os conhece, porém o que falta para que isso tudo seja colocado em prática é compaixão e apreço pela a vida humana. 

    Rodolfo Capler – De que forma esta questão da fome pode afetar o pleito eleitoral de outubro?

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    Antônio Carlos Costa – Rodolfo, não dá para ser profeta nesta questão. Quando o assunto é política são muitas variáveis que se impõe. Hoje não temos condições de dizer, com absoluta certeza, qual será o resultado das próximas eleições. Tememos até um golpe de Estado. Há conflitos nas ruas e a temperatura está muito alta. Quase não há espaço para a interlocução. Agora, se eu levar em conta o que tenho ouvido nos bolsões de miséria do Brasil, ousaria emitir uma opinião. 

    Em minhas visitas ao sertão nordestino, eu andava pelas cidades e povoados, parava nas praças, adentrava os bares e as casas e fazia duas perguntas às pessoas: “O que melhorou ou piorou na sua cidade após o governo Bolsonaro?” e “O que você espera do novo presidente?” Literalmente, de cada dez pessoas entrevistadas, dez me respondiam que a “a piora estava no preço dos alimentos que havia aumentado”, assim como no elevado preço do gás e da gasolina. Em segundo lugar, mencionavam o crescimento do desemprego e a falta de moradia como marcas negativas do atual governo. Isso me leva a crer que Bolsonaro levará uma “surra eleitoral” no nordeste. O quadro da economia nacional é o seu pior adversário político. Interessante, que para mim, a forma como ele conduziu a pandemia deveria ter culminado no seu impeachment. O que ele fez foi absolutamente inadmissível.  Bolsonaro só não foi destituído do cargo, porque nós não vivemos numa democracia robusta para enfrentar o presidente da República com respaldo constitucional. O atual mandatário da nação relativizou o poder letal do vírus, prescreveu remédios sem eficácia comprovada, foi visto pilotando Jet Ski, jogando futebol, organizando churrasco e participando de manifestações antidemocráticas, durante o pior momento da pandemia.  Ele até fez piada com pessoas que morreram com falta de ar por conta do vírus. Essas coisas são muito graves, porém não foram, sequer, mencionadas pelos sertanejos. A principal reclamação deles em relação ao atual governo é o aumento no preço dos alimentos, de modo que, acredito que Bolsonaro não conseguirá reverter o quadro de baixa aprovação no nordeste em apenas três meses.

    Rodolfo Capler – Como o senhor avalia a análise de uma resolução pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana, que, se adotada na pratica, tentará barrar fiéis de esquerda e apoiar a reeleição de Bolsonaro?

    Antônio Carlos Costa – Essa discussão aberta pelo Supremo Concílio, a ser observada entre os dias 24 a 31 de julho, sem dúvida é sintomática da subserviência da Igreja Presbiteriana do Brasil ao conservadorismo radical da direita norte-americana. A Igreja Presbiteriana está dando “um tiro no pé”, pois, ela vai levantar questões referentes ao pensamento de esquerda, que forçosamente, terão que ser apresentadas aos pensamentos conservador e neoliberal presentes na maior parte dos seus pastores e da sua membresia.   Além disso, penso que eles deveriam colocar algumas perguntas na pauta de discussão. A primeira questão que devem responder é: “Sobre qual esquerda estão falando?”. Quando se fala em esquerda, pode-se pensar em Marxismo-Leninismo, Trotskismo, Maoísmo, socialismo, social-democracia ou nos modelos aplicados em Portugal, Noruega, Finlândia… Pode-se falar ainda no papel do Estado ou sobre o papel do Estado de Bem-Estar Social nos países escandinavos. Enfim, o termo é muito amplo e plural. 

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    Outra questão importante para ser avaliada é a seguinte: “O quanto de marxismo uma pessoa precisa acreditar para ser considerada marxista?” Será que os líderes presbiterianos que conduzirão as discussões sabem que é possível uma pessoa não abraçar o materialismo histórico-dialético e sua cosmovisão e, ao mesmo tempo, levar a sério as críticas que Marx fez ao modo de produção capitalista? Sendo assim, devem ser considerados marxistas aqueles que entendem que Karl Marx ofereceu uma especial contribuição à formação de instrumentos e de análises das transformações sociais? Essas questões precisam ser levadas em conta e discutidas, pois para alguém ser cristão não precisa jogar no lixo toda a reflexão marxista. Ou será que dá para negar a existência da luta de classes, ou ainda, fingir que o interesse do patrão nem sempre coincide com o interesse do empregado?

    Outro ponto que eu mencionaria como de vital importância para o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil é o quanto os seus líderes conhecem de marxismo. Por último lugar, penso que a Igreja Presbiteriana teria de lidar com o apoio de seus pastores e de seus membros presbiterianos ao bolsonarismo. Tal apoio irrestrito seria a mais pura manifestação do pensamento calvinista? Também, penso ser coerente e justo consultarem ministros e fiéis de esquerda para participarem da mesa de discussão. Por qual razão não foram procurados?

    Rodolfo Capler – Qual mensagem o senhor gostaria de deixar ao eleitor evangélico?

    Antônio Carlos Costa – Eu deixaria três mensagens. Primeira: o fato de um candidato usar o nome de Deus, não significa que ele crê no Deus de Jesus Cristo. O Evangelho não se limita as seguintes senhas usadas por alguns políticos: família, Deus, lei, ordem e aborto. Procurem saber quais são as propostas que os candidatos oferecem para fortalecer a segurança pública e social.  Segunda mensagem: candidatos que não tenham compromisso com a causa do necessitado não devem ser considerados cristãos, muito menos dignos do apoio da igreja. Em terceiro lugar, deixo-lhes a seguinte mensagem: se a igreja realmente quer se livrar da corrupção, ela precisa saber que não há sistema de governo que mais promova o combate à corrupção do que a democracia. Portanto, votar em candidato que flerta com o totalitarismo significa apoiar um projeto que lá na frente vai colocar você no “pau-de-arara”, vai lançá-lo vivo no oceano Atlântico, vai lhe prender e vai sumir com você, caso você decida enfrentá-lo.   

    * Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP

     

       

     

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